Raul Jungmann realiza audiência sobre ataque de tubarões
A audiência pública funcionou como prévia para uma outra, que ocorrerá no final do mês, no Ministério Público, na qual se discutirá o mesmo assunto. Raul Jungmann ficou convencido que dois fatores estão aumentando os ataques de tubarão no litoral do Recife e, por extensão, nos municípios da Região Metropolitana do Recife: o advento do Porto de Suape, cuja construção teria alterado a área estuarina, aliado ao fato de que os grandes navios lançam ao mar restos de materiais orgânicos; e o adensamento do crescimento populacional na região metropolitana, comprometendo os ecossistemas. Foram essas, inclusives, as ideias defendidas durante a audiência. “Não há literatura técnica e acadêmica que não faça a correlação com o aumento dos ataques de tubarão com o surgimento do Porto. Mas não podemos vê-lo como único vilão”, defendeu.
Participaram
o coronel da Polícia Militar, Neyff Souza; a assessora da promotoria de Meio
Ambiente, Sayonara Andrade; o engenheiro de pesca Assis Lacerda, membro do
Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit); o
presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal do Recife, vereador
Jurandir Liberal; o estudante Charles
Heitor Barbosa Pires, que era surfista e perdeu as duas mãos em 1999, num
ataque de tubarão, além de parentes de Bruna Gobbi, que morreu no dia 22 de
julho, num ataque que foi filmado por uma câmera de celular. “Desde que sofri o
acidente, alertei que outros iriam ocorrer, pois o tubarão me atacou numa parte
rasa. Mas não vi o Estado tomar atitude consistente para preservar a vida das
pessoas na praia”, criticou Charles. Ele fundou a associação Avituba (www.facebook/avituba) com o objetivo
de dar melhor qualidade de vida às vítimas e estimulá-las a participar do
mercado de trabalho.
O engenheiro de pesca Assis Lacerda, que há mais de 20 anos estuda o ambiente
marinho, defendeu a teoria de que é perigoso catalogar uma única causa para o
aumento da incidência dos ataques. “O comum é atribuir o aumento dos ataques a
Suape. Mas precisamos de um cenário para raciocinar esse incidente natural.
Temos que fazer uma reflexão mais profunda sobre nossos ecossistemas. O Recife
e a Região Metropolitana tiveram, ao longo dos séculos, comprometimento dos
ecossistemas estuarinos. No meu entender, o que aumentou a incidência foi o número
cada vez maior da presença humana na zona costeira. O Recife foi ocupando o
espaço que era das águas, numa ocupação muito rápida”, disse. Em seu entender,
dificilmente o inquérito civil, que tramita no Ministério Público, concluirá
que a responsabilidade dos ataques é exclusiva da construção do Porto de Suape.
O inquérito civil, com mais de 10 mil páginas, deverá ser concluído até o final
de novembro. Ele inclui depoimentos de vítimas, engenheiros de pesca,
autoridades e demais participantes de organismos da sociedade civil. O promotor
de Meio Ambiente, Ricardo Coelho, ao final do inquérito, poderá formar um termo
de ajustamento de conduta com as partes envolvidas; pedir arquivamento ou
entrar com ação civil pública na justiça. A assessora da promotoria, Sayonara
Andrade, informou que os debates da audiência pública da Câmara Municipal contribuirão
para a que ocorrerá no Ministério Público Federal, dia 18, às 13h, na Avenida
Agamenon Magalhães, 1800, com o tema “a necessidade de adoção de medidas de
prevenção aos incidentes com tubarões na Região Metropolitana do Recife”.
A maioria dos incidentes no litoral de Pernambuco acontece com tubarões
cabeça-chata e tigre, espécies agressivas, sendo que essa última necessita
subir para os rios para reproduzir. Por isso, chega perto da praia. O coronel Neyff
Souza disse que as pesquisas realizadas nos últimos 20 anos por uma equipe de
cientistas, através do barco Sinuelo, são infrutíferas. O presidente do Instituto Praia Segura, Sérgio
Murilo Filho, que não fez parte da mesa, mas estava presente na audiência
pública, defendeu a instalação de outros modelos de tela, de poliamida, cuja
proposta tramita junto ao Cemit e na Secretaria de Defesa Social. “Elas são
menores que as existentes em Pernambuco. São usadas em Hong Kong há 20 anos e
lá nunca houve ataques”, disse.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal do Recife,
vereador Jurandir Liberal, afirmou que, diante das constantes ocorrências, o
Estado precisa estar mais presente no problema. “Defendo a presença do Estado dando
informações, assistência e pesquisa. É preciso ter cuidado com as pessoas que
frequentam a praia, sinalizando melhor, sobretudo para orientar o turista”,
afirmou. Ele, porém, não se mostrou convencido com a instalação das redes de
poliamida. “Tenho interrogações sobre a eficácia. Eu preciso de mais
informações sobre custos, manutenção dessas redes, controle e experiência de
uso em outras partes do mundo. Quero mais elementos para me posicionar melhor”,
afirmou.
Em 10.10.2013, às 12h57