Reunião Pública aborda abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes
Michele Collins relatou dados nacionais e locais sobre a violência infantil. “O Disque 100 (canal de denúncia de violações dos direitos humanos) mostram que a cada hora, nove crianças e adolescentes sofrem violência no Brasil. Em Pernambuco, em 2017, 1.382 crianças e adolescentes foram vítimas de violência sexual. De janeiro a abril desse ano, 144 casos contra menores já foram registrados pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude do governo do Estado. “São números que acendem o sinal de alerta para esse grave problema. No último dia 3 de maio, por exemplo, foi lançada a Rede de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes de Pernambuco, cujo o dia D ocorreu em 18 de maio, com a realização de várias atividades gratuitas”.
A parlamentar ressaltou que há entendimento de algumas dificuldades em combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes e que uma ação junto aos pais seria extremamente necessária. “Sei da necessidade de mais ações por parte do poder público, mas compreendemos que o melhor caminho para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes é a prevenção. Um trabalho informativo junto aos pais e responsáveis, a sensibilização da população em geral e dos profissionais das áreas de educação e jurídica, com a identificação de crianças e adolescentes em situação de risco e o acompanhamento da vítima e do agressor”.
Presente na mesa de debates, o vereador Ivan Moraes (PSOL) levantou a questão da prostituição infantil e o fato das pessoas mais próximas serem os agressores. “A gente escuta muito sobre prostituição infantil e de adolescentes, como se eles fizessem por vontade própria, como se quisessem. Eles são violentados. E ao menor sinal de exploração, tem que informar para alguém de confiança. Infelizmente muitas pessoas que fazem a agressão são da família. Denunciar é necessário para que as pessoas sejam penalizadas”. Também presente na reunião pública, o vereador Rinaldo Junior (PRB) parabenizou a vereadora Michele Collins pela realização do evento. “Presto o meu apoio à reunião e pode contar com o meu gabinete para mover uma ação em defesa das crianças e adolescentes”.
João Villacorta, coordenador do Centro de Referência para o Cuidado de Crianças, Adolescentes e suas famílias em situação de violência (Cercca), detalhou o trabalho da equipe na Policlínica Lessa de Andrade. “Atendemos todo o Recife e recebemos casos oriundos de todas as instituições. Funcionamos num plantão das 7h30 às 17h. Quem chegar será escutado e todos estão disponíveis para fazer esse recolhimento. Brincamos com as crianças também, mas não somente por lazer. É para que elas se expressem e falem sobre o que aconteceu. E já que os abusos têm como base o silêncio, precisamos romper esse silêncio”.
O coordenador ainda lamentou que o abuso sexual tomou proporções enormes e que muitas vítimas não sentem que estão sendo exploradas. “Boa parte das meninas e dos meninos que estão envolvidos acham que não são vítimas. Algumas já disseram: minha mãe trabalha todo dia, e num final de semana ganho muito mais do que ela”.
Fabíola Farias, representante do Conselho Municipal de Direitos Humanos, citou que a informação e a participação são primordiais para combater a exploração sexual. “A questão da violência passa pela prevenção. Na maioria das vezes, e dentro de suas casas, são padrastos, primos, enfim, pessoas da família que elas amam. Acho que o colégio e o governo têm uma responsabilidade em abordar e ensinar às famílias. Outro fator preocupante é o suicídio que, infelizmente, ocorre em muitos casos”.
José Rufino, do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e Adolescente (Comdica), frisou que o poder público e sociedade têm que estar envolvidos no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. “Tenho, no mínimo, como cidadão, ter consciência em denunciar. Porque se você sabe, e não denuncia, é também culpado. A sociedade precisa se apropriar do Estatuto da Criança e Adolescente mas, infelizmente, as pessoas querem defender de acordo com as suas verdades. E não o que está previsto na legislação. Precisamos descentralizar e tirar das quatro paredes esse grande problema”.
Karla Santos, coordenadora do Escola que Protege, contou como o projeto atua no Recife. “Fazemos um trabalho nas escolas atuamos em três eixos: o acompanhamento psicológico, formação de gestores e professores e reunião com pais e estudantes. Alerto para o fato de que é dentro de casa onde os nossos filhos são machucados. Quero também ressaltar que o Disque 100 está funcionando e denunciando os agressores”.
Maria José de Castro, do projeto Governo Presente, disse que é preciso integrar mais as instituições e confessou ser alarmante o índice de exploração sexual. “Nós queremos que mais pessoas se envolvam porque a exploração sexual é gritante, os números deixaram-me aterrorizada. A exploração é muito forte e agregar as instituições para combater o problema seria primordial”.
Ao final do debate, a vereadora Michele Collins propôs a criação de uma cartilha com instituições ensinando os pais a falarem corretamente de sexo para os filhos.
Em 24.05.18 às 13h16.