Reunião Pública debate a prevenção ao suicídio e a valorização da vida

Segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, estima-se que, no ano de 2018, cinco a nove mortes para cada 100 mil habitantes tiveram como causa o suicídio. Na Câmara, o assunto foi amplamente discutido na noite desta quinta-feira (26), em uma reunião pública presidida pela vereadora Ana Lúcia (Republicanos), cujo tema foi “Prevenção ao Suicídio e a Valorização da Vida”. “Esse é um mês de reflexão, o Setembro Amarelo, e nosso município precisa traçar políticas públicas eficazes de combate à automutilação e ao suicídio que tanto têm vitimado inúmeras pessoas”, ressaltou a parlamentar.

Representando a Secretaria de Saúde do Recife, Cleonilda Queiroz destacou que a discussão do assunto é mais do que urgente. “É muito oportuno ter diversas representações aqui com olhares distintos sobre o enfrentamento da questão. As informações, antigamente, não chegavam ao conhecimento da população. Hoje temos as notificações e dados científicos mostrando evidências chamando, assim, a atenção da sociedade”.

Cleonilda Queiroz ressaltou as ações da Secretaria com o objetivo de dinamizar o atendimento. “Esse mês de setembro estamos promovendo um seminário para abrir as discussões sobre o suicídio. Sabemos que populações específicas precisam também de atenção, como o público LGBTI+ e negros. É necessário também orientar a rede de saúde em relação à notificação na rede particular. Recife tem oito distritos sanitários, 17 CAPS e grupos de trabalho envolvendo atenção básica, saúde mental e vigilância à saúde.  Imprescindível é acolher esse sofrimento para que a pessoa construa um projeto de vida diferente. É um grande desafio”.

Daniele Ribeiro, psicóloga clínica e organizacional em neuropsicologia, destacou que o suicídio é algo que ainda não é um assunto tão discutido na sociedade. “Muitas pessoas chegam ao consultório e não falam de imediato que tentou cometer suicídio. Só após a segunda sessão em diante. Os excessos de muitos fatores cobrados pela sociedade atual são relevantes como o sentimento de não pertencer naquele espaço, constrangimento, repulsa ou medo da morte. São vários os questionamentos da vítima que precisam ser levados em consideração. Falar sobre suicídio é muito importante. A partir do momento em que as pessoas encontram amor à vida e sabem que saída dos problemas não é o suicídio, acontece o renascimento”.

A diretora da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, Luciana Paes de Barros, disse que o estigma que envolve procurar um profissional da psiquiatria é enorme. “Além disso, hoje tudo é internet, todos buscam informações sobre as doenças, mas a informação real, que todos  precisam ter com consciência precisa acontecer num ambiente como esse, preventivo”. A psiquiatra também relatou a importância da realização de um evento em uma escola. “Foi em Petrolina, onde mais de 300 pessoas participaram e duas meninas vieram nos procurar e vimos como é importante um momento desses. Elas precisaram de apoio e fizemos o devido encaminhamento profissional”.

O psicólogo e psicanalista Lúcio Mário é ativista da prevenção ao suicídio e ressaltou que é preciso quebrar o preconceito para debater o tema. “O Setembro Amarelo vem dar uma força muito grande para a sociedade e tem como um dos objetivos o de quebrar o tabu na sociedade. É preciso haver educação e levar a temática à escola”. Lúcio Mário citou que o número de casos de suicídio na América Latina vem crescendo, principalmente no Brasil, e destacou o trabalho do Centro da Valorização da Vida (CVV). “O número 188 é uma forma de prevenção. O Centro da Valorização da Vida representa um grande serviço à sociedade”.

O deputado estadual William Brígido confessou que já sentiu o desejo de suicídio, mas que conseguiu superar o problema com a prática da religião. “Quem me devolveu o prazer de viver foi o Senhor. Ele salvou o meu casamento, reconstruiu a relação e o desejo da morte desapareceu. E se nós, pastores, não cuidarmos da nossa saúde, é muito difícil porque os lamentos e tristezas das pessoas que escutamos são gigantes”. William Brígido também enalteceu que é preciso divulgar cada vez mais o 188 e sugeriu que o público leve propostas de projetos de lei à Assembleia Legislativa de Pernambuco.

O pastor Adriano Lopes, do Força Jovem Universal, disse que o programa vem ajudando muitos jovens que se encontram sem perspectiva de vida, combatendo o uso de drogas, além de levar conscientização sobre temas atuais e polêmicos. “Temos dado apoio a esse público com pensamento de suicídio e procuramos eliminar essas ideias da cabeça. Infelizmente, já perdemos alguns adolescentes, mas sempre vamos às ruas, praças, escolas, enfim, alguma maneira de estender a mão e levar a paz que nós acreditamos. O projeto também tem um contato telefônico exclusivo por WhatsApp 24 horas para que as pessoas peçam um conselho ou ajuda”.

O deputado federal Ossesio Silva confessou que perdeu dois irmãos por causa da depressão e falou da importância da mobilização da sociedade. “É preciso prestar atenção às pessoas ao nosso redor, nosso amigos, nossa família. Dê um abraço. Eu considero muito importante a atuação dos psicólogos e psiquiatras em relação ao precioso processo de escuta”. O deputado também fez duas sugestões ao público presente. "A primeira foi em relação ao acolhimento das mulheres negras. O índice de suicídio é quase 30% maior em relação à mulher não negra. As negras sofrem nos partos, hospitais, enfim, desde quando nascem. E a segunda sugestão seria fazer um debate com os pais que estão, com certeza, ouvindo sobre esse assunto”.

Em 26.09.19 às 21h36.