Vera Lopes realiza audiência sobre transporte público

Entre janeiro e julho, ocorreram cerca de 850 acidentes envolvendo ônibus públicos na Região Metropolitana do Recife. Nos meses de maio a agosto, foram registrados quatro casos de violência a usuários desse transporte, dentro dos veículos, e um motorista foi agredido a pedradas por um passageiro. Tudo isso sem contar com os casos mais graves que resultaram na morte dos estudantes Camila Meirele, 18 anos, que em maio foi arremessada para fora do ônibus quando a porta abriu. E Harlynton Lima dos Santos, 20, que em junho foi arrastado quando o veículo deu partida no Cais de Santa Rita. Essas situações dramáticas, que denunciam a situação precária do sistema de transporte público do Recife e Região Metropolitana, foram a base para o tema da audiência pública que a vereadora Vera Lopes (PPS) realizou nesta seta-feira.

Na abertura da audiência, realizada a partir das 10h, no plenarinho da Câmara Municipal do Recife, a vereadora mostrou um vídeo com o relato das mortes dos dois estudantes e apresentou números sobre o transporte público. A RMR tem cerca de 3 mil ônibus em circulação e o setor movimenta cerca de R$ 60 milhões por mês. “Além dos casos de violência e dos acidentes envolvendo os ônibus, há grandes problemas que são enfrentados pelos usuários no dia a dia. Posso relacionar a falta de segurança, a imprudência dos motoristas, a superlotação que obriga as pessoas a viajarem em situação precária, o atraso nas viagens e o excesso de trabalho para os condutores. Quantas Camilas e quantos Harlyntons precisarão morrer para que os poderes públicos e as empresas de ônibus levem esse assunto a sério?”, questionou Vera Lopes.

Fizeram parte da mesa de debates o coordenador de Operações do Grande Recife, Mário Sérgio Cornélio; o gerente-geral de Transporte da Companhia de Trânsito e Transportes Urbanos (CTTU), Roberto Lira; e o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Benílson Custódio. “É preciso que alguém responda sobre o que está havendo com o nosso transporte público, pois dele dependem milhares de pessoas. Sem falar que um bom transporte público tem o poder de melhorar as condições de mobilidade, pois quem dispõe de um ônibus de boa qualidade deixará o carro em casa”, ressaltou Vera Lopes.  Roberto Lira falou das ações que estão sendo desenvolvidas pela CTTU para combater os problemas, nas linhas administradas pela companhia, e que foram apresentados pela vereadora. “Há 25 linhas em operação, com uma frota de 160 veículos, que são da nossa responsabilidade direta. Eles fazem linhas alimentadoras e interbairro”, informou.

Em relação aos acidentes, assegurou que já foram implantados 23 quilômetros de faixa azul para ônibus e que dois corredores estão sendo fiscalizados por câmeras. “Com o aperto financeiro, em decorrência da crise, vamos desacelerar a implantação das faixas. Mas até o final de outubro mais um corredor exclusivo dentro do Recife”, disse. Sobre a falta de atenção dos condutores, também abordado pela vereadora, ele lembrou que existe uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), a de número 168, que exige a renovação da capacitação dos motoristas a cada cinco anos. “Estamos sempre realizando”, garantiu.  Ele disse, ainda que toda a frota que fica sob a responsabilidade da CTTU passa por vistoria veicular obrigatória uma vez por ano. Se não for aprovado, o veículo vai a conserto.

Mário Sérgio Cornélio disse que o Consórcio Grande Recife tem cadastrado 2.900 veículos que estão em operação. “Historicamente a prioridade das políticas públicas sempre foram os veículos particulares e nunca o transporte público”, criticou. Ele alertou que as obras para melhoria do trânsito, como as faixas exclusivas, “mas há atrasos nas obras”. Se esses atrasos não ocorressem, haveria “uma melhoria dos serviços e um melhor aproveitamento dos veículos, além do preço das tarifas”. Mário Sérgio ressaltou também que o Consórcio Grande Recife reconhece a necessidade de renovação da frota de ônibus, mas “nós não temos o poder de fazer essa renovação”, disse. Quem tem esse poder, acrescentou, é o Conselho Superior de Transporte Metropolitana (CSTM), que está acima do Consórcio Grande Recife. “Nós apenas seguimos regras”, disse. Acrescentou, finalmente, que todos os ônibus adquiridos desde janeiro de 2014 têm o dispositivo de segurança chamado de “anjo da guarda”, que não permite que o ônibus circule de portas abertas quanto está em movimento   .

O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Benílson Custódio, fez duras críticas ao Consórcio Grande Recife. “É um órgão que já faliu. Nós procuramos o Consórcio várias vezes para fazer denúncias e tentar soluções para o sistema de transporte e nunca fomos atendidos em nossos pedidos”, disse. Ele disse que foram feitas numerosas queixas sobre a situação de ônibus e dos terminais de passageiros. “Reclamamos, inclusive sobre as instalações sanitárias nos terminais e nada foi feito. Passageiros, motoristas e despachantes são submetidos a situações precárias”, denunciou. Ele disse, também, que diversas queixas já foram feitas aos órgãos sobre os buracos no asfalto, nas entradas e saídas dos terminais. São buracos que colocam em risco a vida dos passageiros, pois os ônibus transitam por eles.

Benílson Custódio foi além. Disse que o Sindicato dos Rodoviários tem feito o papel do Consórcio Grande Recife, das empresas de ônibus e da Prefeitura do Recife. “Estão repassando para nós a responsabilidade deles”, afirmou. Entre essas transferências estão as obrigações de mapeamento de terminais esburacados, ruas esburacadas, locais de maior incidência de violência, fiscalização de banheiros, entre outras coisas. “Fiquem certos. Tudo o que os empresários, e o Consórcio Grande Recife, gastam, para consertar esses problemas, eles repassam para os motoristas. Os gastos são divididos. Eles retiram as vantagens que conquistamos. Inclusive nos obrigam a trabalhar mais horas no final de semana. Se não trabalharmos, aquela quantidade de horas extras acumuladas será descontada no final do mês”, disse.

Em 11.09, às 13h18