Vereador propõe criar Dia Municipal do Caboclinho e da Tribo de Índio

Uma das manifestações culturais mais antigas do Brasil, o Caboclinho será incluído no Calendário Oficial de Eventos do Município do Recife, caso seja aprovado o projeto de lei 145/2016, de autoria do vereador Almir Fernando, PCdoB. Ele propõe que o 19 de abril seja reconhecido como o "Dia Municipal do Caboclinho e da Tribo de Índio". Considera-se Caboclinho e Tribo de Índio duas das mais belas manifestações do carnaval pernambucano cuja presença do índio, como primitivo dono da terra, mantém durante o período carnavalesco as suas danças, indumentárias e lendas que contam a glória dos seus antepassados.

Na data proposta pelo vereador, a Prefeitura Municipal do Recife poderá celebrar convênio com entidades públicas e privadas para a realização e apoio de encontros culturais em todos os distritos administrativos, a exemplo do concurso de agremiações que já ocorrem durante o Ciclo Carnavalesco. O projeto de lei foi encaminhado para a Comissão de Legislação e Justiça, , que vai analisar a proposta e emitir um parecer. O Caboclinho é de origem indígena, e seu registro oficial data de 1584, no livro “Tratado e Terra da Gente do Brasil, do padre Fernão Cardim.

Ao justificar o projeto de lei, Almir Fernando explicou que a religião está presente na manifestação por meio dos cultos indígenas, a pajelança, religião dos antepassados. É na Jurema, segundo ele, onde atua a maioria dos mestres e caboclos. Alguns grupos diferem desta linha, cultuando religiões afro-brasileiras, ligadas a terreiros de Xangô e Umbanda. “A apresentação normalmente inicia com o porta-estandarte (podendo haver mais de um), seguido de dois cordões de caboclos e caboclas. No centro, o Cacique (responsável pelas coreografias) e a Cacica (ou mãe da tribo). O desfile também conta com a presença do Pajé (ou curandeiro, orientador espiritual do grupo); Matruá (representa um feiticeiro); Capitão (chefe de uma das alas); Tenente (chefe da outra ala); Perós (crianças da tribo) e dos caboclos de baque”, disse.

As danças ou evoluções variam de um grupo para outro. Geralmente ocorrem em duas fileiras (cordões), podem trazer alas, com coreografias que representam situações criadas e recriadas pelos mestres e brincantes. De maneira geral, evoluem com agilidade: agacham-se, levantam-se e rodopiam nas pontas dos pés e calcanhares, em três momentos específicos: Guerra, Baião e Perré, determinados pela mudança do ritmo. Alguns grupos também apresentam o Toré ou Macumba, o Traidor (destaque das preacas marcando o ritmo), a Emboscada (disputa de dois grupos) e a Aldeia (dança em círculo).

A indumentária é composta por atacas (de pé e mão), saiotes e tangas, e confeccionada com penas (de Ema e de outras aves), lantejoulas, contas, búzios, espelhos, vidrilhos, cordas e sementes. Os adereços de cabeça são bastante diversificados: cocares, capacetes, cabeleiras, diademas, girassóis e leques, decorados com penas e lantejoulas. Apresentam-se descalços. O baque é composto por caracaxás (maracás), surdo e inúbia (flauta ou gaita), podendo haver atabaque e caixa. As músicas normalmente são instrumentais, havendo grupos que recitam versos ou loas.

Na Tribo de Índio, não há o uso das preacas, sendo substituídas por lanças e machadinhas. Outra diferença peculiar desses dois grupos é a maneira de se pintar e a posição na apresentação. Geralmente os Grupos de Índios são batizados com nomes de tribos as quais há de maneira direta ou indireta descendentes, enquanto que no Caboclinho não é necessário se ter sangue indígena. “Um trabalho que vai além do incentivo ao carnaval e à cultura e se configura como uma importante ferramenta de ação social, o registro e a preservação das expressões culturais do carnaval do Recife. Crianças, jovens e adultos se envolvem a ponto de tornar-se a agremiação uma extensão de suas famílias, cujo principal objetivo é a união, o respeito ao próximo, a cordialidade, incentivando o companheirismo e a amizade”, disse Almir Fernando.

O Caboclinho pernambucano passou a ser considerado Patrimônio Cultural do Brasil  no  dia 24 de novembro do ano em curso, após votação unânime no Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para as questões relativas ao patrimônio brasileiro material e imaterial.

Em 05.12.2016, às 12h15.