Vereadora faz homenagem à Amotrans-PE

A vereadora Marília Arraes (PT) realizou reunião solene na manhã desta terça-feira, 30, em homenagem à Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans/PE) pela passagem de seu 9º aniversário de fundação. “Hoje é um dia muito especial para todos nós e para mim. Esta não é apenas uma homenagem, mas um marco da resistência contra os retrocessos que vivemos na sociedade brasileira de hoje. De forma muito particular, é um momento de alegria, por poder homenagear aqui o trabalho de uma instituição tão importante para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária: a articulação e movimento para travestis e transexuais de Pernambuco, ou simplesmente Amotrans-PE”.

A solenidade, que reuniu dezenas de pessoas trans e travestis no plenário da Câmara Municipal do Recife, começou às 11h, sob a presidência do vereador  Ivan Moraes (PSol). A mesa foi composta pela presidente da Amotrans-PE, Choppely Santos; a secretária Executiva de Direitos Humanos da Prefeitura do Recife, Elizabete Godinho; a capitã da Polícia Militar de Pernambuco, Lúcia Helena; a representante da Secretaria da Mulher do Recife, Niedja Guimarães. Marília explicou que a importância da homenagem está na construção de um diálogo entre a entidade, uma célula da sociedade civil organizada e a Casa de José Mariano, no intuito de discutir mecanismos de proteção à população trans e de travestis, que ocupam o primeiro lugar no ranking de mortalidade de LGBTs.

 

Em seu discurso, a vereadora fez um resumo da história da Amotrans-PE.

A Articulação, disse, foi fundada em maio de 2008, no Recife. “É uma associação sem fins lucrativos, mas posso dizer com certeza que é muito mais que isso. É uma entidade construtora de pontes. Pontes seguras, sólidas, para incluir seus e suas integrantes na sociedade de forma igualitária, orientando as pessoas sobre seus direitos, saúde, educação e cidadania através de palestras, reuniões, oficinas debates e luta, muita luta”, afirmou.

 

Há nove anos, a Amotrans-PE saiu do papel pelas mãos de quatro travestis: Gleiciane, Elaine, Leika e Francine Correia, um antropólogo e uma psicóloga. “E já nasceu com força total para encabeçar a luta pelo reconhecimento legal dos direitos e deveres cíveis da comunidade LGBTTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) perante a sociedade. Nasceu para fazer valer o direito da comunidade LGBTT ao reconhecimento da cidadania; contribuindo assim, para a socialização e desmistificação de estigmas advindos de uma construção social centenária de ignorância e desconhecimento acerca do universo LGBTTS”, disse a vereadora.

 

De acordo com Marília Arraes a Amotrans luta pela legitimidade e integridade da individualidade de gênero, assim como pelo combate à homofobia e transfobia que geram violência. “E a violência contra a população LGBTT, infelizmente, ainda é um dos maiores problemas sociais enfrentados em nosso país”, afirmou. Em 2016, 343 pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram assassinadas no Brasil — um recorde levantado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) nos 37 anos em que compila anualmente o número de vítimas fatais da homofobia. Só em Pernambuco foram 14 assassinatos de LGBTTS no ano passado.

 

“Em Pernambuco, o papel da Amotrans na cobrança, fiscalização e proposição de políticas públicas, ações e projetos para a comunidade LGBT tem sido vital. O Recife, nossa capital, infelizmente ainda engatinha no que diz respeito à implantação de políticas públicas para a comunidade LGBTT”, criticou Marília Arraes. Após o discurso da vereadora, o presidente da solenidade, Ivan Moraes, convidou diversas  pessoas para receberem em conjunto a placa e o diploma que consolidam a homenagem prestada pela Câmara Municipal do Recife.

 

A presidente da Amotrans-PE, Choppely Santos, falou em nome da Amotrans. Ela disse que a trajetória de luta pela garantia dos direitos da pessoa trans e travestis começou antes mesmo de antes da entidade ser criada, com alguns ativistas participando de eventos regionais, nacionais e da campanha promocional do Ministério da Saúde em 2004. “Hoje, ocupamos espaços em diversas entidades e conselhos, temos uma representatividade. Toda pessoa trans e todo travesti de Pernambuco, mesmo sem ter ouvido falar na Amotrans, desfruta de políticas que têm como referencial a instituição. Requerer o respeito social é nosso objetivo”, afirmou.

 

Ao fazer uma revisão crítica dos nove anos de existência da Amotrans, Choppely Santos disse que a instituição não avançou num ponto: “Esquecemos de trabalhar na questão da assistência social, para dar apoio a muitos travestis que ainda vivem na prostituição e outras pessoas em situação de rua”. Em seguida ela elogiou que o movimento não dispõe somente de uma entidade que o represente. “Que bom que hoje temos mais uma instituição que o represente, que é a Natra-PE, Nova Associação de Travestis e Transexuais de Pernambuco”.  Choppely criticou a Câmara Municipal do Recife, que não aprovou a criação do Conselho Municipal LGBT, pediu a instituição de uma Frente Parlamentar para ajudar na resistência da luta LGBT e finalizou dizendo que:  “Travesti não é bagunça. Estamos organizados e sabemos o nosso papel na sociedade. Somos cidadãos, pagamos impostos e merecemos respeito”.

 

Em 30.05.2017, às 12h25.