Vereadores conhecem projeto de combate às drogas em Alagoas
Essa foi a constatação a que chegou a Comissão Parlamentar de Combate às Drogas da Câmara Municipal do Recife que se deslocou até Maceió, na sexta-feira, 7, para conhecer de perto o trabalho que vem sendo realizado por técnicos alagoanos e que pode servir de referência para uma política pública. “Antes de elaborar o projeto, visitei todos os estados e mais 20 países. Recolhi as melhores ideias”, anunciou o autor, deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), também relator do projeto de lei 7.663/2010, já aprovado na Câmara Federal, que trata do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas. Carimbão explica que o projeto de Alagoas, que orientou o seu parecer à matéria legislativa, nasceu com a constatação de que o grande número de casos de violência no Estado tinha sempre relação direta ou indireta com o consumo e o tráfico de drogas.
“Constatamos que 80% dos usuários de drogas chegam à cadeia. Um detento custa ao estado, por ano, R$ 150 mil. Fizemos um programa para recuperação dos dependentes químicos, que custa R$ 10 mil por pessoa”, argumentou. A comitiva que esteve em Alagoas para conhecer o projeto contou com oito vereadores e representantes do Tribunal de Justiça de Pernambuco, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), da Defensoria Pública e das secretarias de Saúde e da Assistência Social do Recife. O primeiro passo do projeto alagoano foi criar uma secretaria estadual específica, que é a Secretaria de Estado de Promoção da Paz, que busca a prevenção da violência, com uma cultura de paz, por meio de educação, mobilização e proteção social. A Secretaria de Defesa Social, no estado, trabalha em seus programas independentes dessa outra pasta. O projeto “Acolhe Alagoas” é a principal ação da secretaria e surgiu para viabilizar o afastamento dos jovens da droga. “A seleção de escolha dos técnicos não pode ser por indicação política e os critérios de contratação de pessoal são focados no interesse do profissional para trabalhar com recuperação de dependentes químicos”, acrescentou o deputado Carimbão.
“A situação do crack, principalmente, nos levou a repensar em Alagoas os serviços de recuperação de dependentes químicos. Os equipamentos públicos estavam em crise e eram incapazes de enfrentar essa droga. Analisando os usuários, percebemos que havia uma desestrutura emocional no histórico de cada um, que os levava a se aproximar do crack. Daí, vimos a necessidade de lançar mão de uma estratégia diferenciada”, afirmou o secretário de Promoção da Paz, Jardel Aderico. A estratégia incluiu a criação de uma Central de Acolhimento de Dependentes Químicos, que hoje faz cerca de 40 atendimentos por dia. Qualquer pessoa, desde a capital até a última cidade do estado, que esteja em situação de dependência e queira se tratar, passará por esse centro.
Existem várias formas de chegar à Central de Acolhimento. Uma delas é através da Defensoria Pública. Mas a principal são as equipes multidisciplinares chamadas de “Anjos da Paz”, formadas por profissionais (psicólogo, assistente social e um motorista) que vão às comunidades atendendo a chamadas telefônicas ou que dão plantões em unidades policiais nos bairros. Essas equipes têm viaturas próprias e diferenciadas e fazem o trabalho de sensibilização nas visitas domiciliares. Ao fazer contato com os usuários nem sempre são bem aceitas num primeiro momento, mas começam a dar assistência à família, agindo sobre o contexto social e emocional do dependente químico. Em questão de dias ou semanas, os usuários de droga, apoiados pela família, pedem para serem atendidos e são levados para a central. Lá, fazem todo tipo de exame médico e laboratorial (Inclusive Aids e hepatites), passam por avaliação psiquiátrica, recebem aconselhamento, e são registrados num cadastro. Ninguém volta para casa sem ser atendido e esse serviço é rápido.
Na central é detectada a extensão da dependência química. De acordo com a avaliação, o usuário pode ser levado de imediato para o Hospital de Rio Largo, que tem uma área específica para desintoxicação, com seis leitos; quem contraiu Aids ou hepatite também recebe tratamento médico diferenciado. Os demais, a grande maioria, seguem para uma das 40 Comunidades Acolhedoras espalhadas pelo Estado. São extremamente limpas, agradáveis, humanizadas, que mais parecem clubes de campo. As famílias também passam a ser atendidas. Mas é a partir desse momento, em que os dependentes seguem para viver por seis meses nas comunidades, que começa de fato o caminho de reinserção. “Estamos comprovando que, tirando os jovens das drogas, também estamos reduzindo os índices de violência envolvendo jovens e adolescentes. Desde que começamos com esse programa Alagoas já não é mais um dos Estado mais violento do país”, disse o deputado Carimbão.
Em 10.06.2013, às 11h35.