Vereadores debatem liberação da Marcha da Maconha

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar a realização da Marcha da Maconha no País gerou polêmica na Câmara. Contrário a esse tipo de manifestação pública, o vereador Maré Malta (PPS) repercutiu na reunião plenária desta segunda-feira, 20, recente reportagem da Revista Veja sobre o uso do crack, que revela a existência de um milhão de dependentes no Brasil.

“O STF cometeu um equívoco grave porque ele tem que andar em sintonia com a realidade e o Brasil que a gente tem é outro. Não estamos na Escandinávia. A questão das drogas é uma tragédia invisível e um drama crescente de arrepiar. Não defendo uma marcha de algo que não tem nada de benefícios. Daqui a pouco vamos ter marcha de todas possibilidades de contravenção. Temos que lutar pela família, pela saúde. Façam marcha pelo que é do bem”.

Maré Malta leu ainda trecho da reportagem com o depoimento de uma mãe recifense que precisou acorrentar o filho viciado em casa para impedir que ele usasse drogas. “Mas um dia quando não conseguiu mais, um grupo de extermínio o matou. O crack é uma droga de alto risco por conta dessas tragédias que causa. Nossa estrutura da saúde não tem condições de suportar um milhão de pessoas que precisam de tratamento”.

Também contrário a decisão do STF, o vereador Marcos Menezes (DEM) disse que a liberdade de expressão pode ser exercida de diversas formas e não precisa ser através das drogas. Ele destacou que diariamente os parlamentares são procurados por mães e parentes de viciados em busca de apoio. “Recebi hoje mesmo um bilhete de uma mãe pedindo ajuda financeira pagar R$ 1.200 que ela está devendo a um agiota. O filho viciado estava em dívida com o traficante, ela pediu emprestado e agora não tem como pagar”.

Para o vereador, o direito de expressão não pode ser utilizado para fazer apologia às drogas. “Os hospitais já estão abarrotados de pessoas envolvidas com drogas. O crack está dizimando famílias. No Jordão, por exemplo, meninas de 14, 15 anos chegam no bar e pedem dinheiro para comprar droga”.

 Amaro Cipriano Maguari (PDT) destacou que a questão está sendo discutida muita tarde e que os governantes foram omissos. “São 60 milhões de jovens desempregados. A educação está falida no País. Vivemos um momento difícil e não sofre só quem usa, mas também a família e os amigos. É uma questão de saúde pública”.

A vereadora Vera Lopes (PPS), que também é médica, questionou a liberação da Marcha quando tem sido feita campanha sistemática contra o cigarro. “E agora vamos liberar a maconha que faz muito mais mal. Presencio nos plantões as mães chegarem pedindo para tirar os filhos do vício e internar. Muitos começaram com maconha”. A parlamentar defendeu também a criação de políticas públicas e de residências terapêuticas específicas para tratar os dependentes do crack e de outras drogas. “O tratamento tem que ser feito a longo prazo. Não adianta internar por 15 dias ou um mês e depois colocar ele no habitat natural onde os traficantes estão. É preciso, pelo menos, seis meses nesses locais para desintoxicar e assim poderem retomar suas vida com o apoio de profissionais da saúde”.

Já para o vereador Osmar Ricardo (PT), o debate é polêmico, mas precisa ser feito de forma franca. Ele lembrou que sempre defendeu a realização da Marcha e já promoveu na Câmara audiência pública para debater a legalização da Cannabis Sativa, nome científico da maconha. “Estudos de vários países mostram os benefícios do uso terapêutico e defendo essa linha de uso. Antigamente, por exemplo, era polêmica a questão das células-tronco e hoje vemos o poder que elas têm de salvar e melhorar a vida de quem sofre acidentes. Defendo o estudo que pode salvar vidas”.

Osmar Ricardo alertou ainda para as estatísticas que revelam ser o álcool, que é uma droga legalizada, também responsável pela morte de milhares de pessoas, especialmente em datas festivas quando aumenta o número de acidentes provocados por embriaguez. “É preciso que a gente entenda isso. Acho que o Supremo usou do bom senso e do entendimento político de que o povo tem o seu direito de ir e vir e de participar”.

Em 20.06.2011, às 17h16.