Voto de aplauso aos 11 anos da Marcha da Maconha é debatido na Câmara

Um requerimento de autoria do vereador Ivan Moraes (PSOL) foi à votação na Casa de José Mariano nesta terça-feira (22). A proposta, que formulava um voto de aplauso aos 11 anos da Marcha da Maconha do Recife, foi rejeitada pela Câmara – 12 vereadores se manifestaram contrários à matéria e oito a favor. O evento da Marcha aconteceu no município, no último sábado (19). O assunto foi levado à tribuna do plenário por Ivan Moraes e pela vereadora Michele Collins (PP), mas o debate contou com a participação de diversos parlamentares.

Em seu discurso, Ivan Moraes falou sobre os efeitos negativos da guerra às drogas e lembrou que a Marcha da Maconha de 2018 levantou a bandeira do uso medicinal da maconha. “A Marcha deste ano foi encabeçada por um trem em que estavam pessoas que precisam do canabidiol para sobreviver porque têm doenças graves e doenças raras. As instituições têm procurado saber sobre a maconha medicinal e participaram da Marcha. É importante que a gente reconheça que negar a importância dessa Marcha é negar o direito dessas famílias. Não adianta falar que é a favor do medicamento quando não se é a favor da conjuntura que daria o acesso a ele. Se as pessoas não têm uma fortuna para importá-lo, vão ter que colocar o SUS na justiça e esperar anos. Muitos não podem esperar. A proibição mata muito mais que a droga. Precisamos fazer uma pergunta: quanto àquelas pessoas que têm um relacionamento problemático com drogas, queremos prendê-las, queremos matá-las ou queremos cuidar delas?”

Em um aparte, o vereador Jayme Asfora (PROS) se mostrou favorável ao requerimento e elogiou a iniciativa do autor. “Parabéns por seu corajoso pronunciamento. Evidentemente, vou votar a favor. Em 2011, o Supremo considerou por decisão unânime que é legal a realização dos eventos Marcha da Maconha. Os ministros entenderam que os direitos constitucionais de reunião e expressão teriam que ser respeitados. Não estamos discutindo o aplauso ao uso, mas o aplauso à manifestação.”

Já o vereador Antonio Luiz Neto (PTB) afirmou ser contrário à proposição. “Uma coisa é admitir e permitir que as pessoas se manifestem livremente. Outra coisa é aplaudir. Não podemos aplaudir uma erva que faz mal à saúde, é viciante, e mexe com a qualidade de vida das pessoas. Não podemos chegar à representação do povo do Recife deixando colegas com dificuldade nessa questão. Eu não posso concordar que esta Casa seja colocada numa má situação.”

Para o vereador Renato Antunes (PSC), é preciso esclarecer a diferença entre o uso medicinal da maconha de seus fins recreativos. “Não estamos aqui para ser contra a livre manifestação. Há marchas para tudo. Faço minhas as palavras de Antonio Luiz Neto. Sabemos que a erva foi criada para um propósito. Faz uso dela quem quer. Mas não podemos confundir o uso medicinal com o uso indevido. Por que vou aplaudir algo que faz mal à saúde?”

Ao subir à tribuna, Michele Collins também procurou distinguir o uso medicinal da maconha de seus outros usos. Ela também citou possíveis efeitos negativos decorrentes da utilização da erva. “Não podemos deixar de pontuar que não podemos misturar o uso terapêutico do canabidiol para as pessoas que precisam. Isso é algo que tem comprovação científica. Os movimentos das pessoas que gostam do uso recreativo não podem misturar as coisas. A Marcha da Maconha quer que se legalize a maconha. O tema é este: legalização já. Esse discurso não vai ser admitido. Não vamos ser ludibriados. A maconha faz mal, sim, para a saúde. Precisamos ter mais responsabilidade e clareza no debate. Não podemos pegar carona em uma coisa quando queremos outra.”

Em 22.05.2018, às 16h48