Jailson Correia presta contas do enfrentamento municipal à covid-19

Por meio de videoconferência, os vereadores da Câmara do Recife se reuniram nesta sexta-feira (17) com o secretário municipal de Saúde, Jailson Correia, para tratar das medidas adotadas localmente contra a pandemia de covid-19. Na ocasião, o gestor traçou um panorama da estrutura de atendimento da capital e respondeu a questionamentos e solicitações dos parlamentares.

O diálogo com integrantes da Prefeitura havia sido uma demanda recorrente nas reuniões plenárias desta semana. Alguns vereadores, como Luiz Eustáquio (PSB) – que está à frente da Comissão Interpartidária da Câmara que acompanha as ações contra a crise da covid-19 –, Aline Mariano (PP) e Ivan Moraes (PSOL) se pronunciaram pedindo a realização de prestações de contas com o parlamento municipal.

Presidida por Aerto Luna (PRP) e coordenada por Luiz Eustáquio, a reunião contou ainda com a contribuição da secretária Ana Rita Suassuna, de Desenvolvimento Social, e dos secretário Jorge Vieira, de Planejamento e Gestão, e João Guilherme Ferraz, da pasta de Governo e Participação Social.

“Os vereadores não poderiam, de maneira alguma, faltar em um momento como este. Fizemos várias propostas e, para algumas, não tivemos retorno sobre o que está acontecendo. Muito está sendo feito pela Prefeitura, mas há um pedido dos vereadores de que eles sejam informados em tempo hábil, quando possível, para que possam participar. Esse é um desejo de contribuir com a cidade”, disse Luiz Eustáquio.

Durante a reunião, Jailson Correia fez questão de salientar a seriedade da pandemia no Recife e no mundo. “Inicialmente, eu dizia que vivíamos a mais grave crise da história da saúde pública da nossa era. Agora, estou convencido de que estamos falando da mais grave crise da nossa era. A profundidade dos impactos na vida das pessoas é sem precedentes.”

De acordo com o secretário, o combate à covid-19 é feito atualmente em três frentes: o isolamento social, as medidas de assistência social, e as ações de assistência em saúde – esta última, correspondentes às atribuições de sua pasta. “A estratégia é ousada. A Prefeitura do Recife montará mais de mil leitos ao todo, sendo mais de 300 de UTI, em sete hospitais de campanha. Já temos quatro deles prontos”, afirmou. “Três são vinculados a policlínicas e já estão funcionando. O quarto, o hospital provisório da rua da Aurora, já começa a operar e receber pessoas, e é o maior hospital já construído pela Prefeitura do Recife. Tem 160 leitos, dos quais cem de UTI. Mais de um milhão de itens de equipamentos de proteção individual foram adquiridos.”

Debate  Participaram com questionamentos e sugestões os vereadores Aline Mariano, Ana Lúcia (Republicanos), André Régis (PSDB), Eriberto Rafael (PP), Felipe Francismar (PSB), Gilberto Alves (Republicanos), Jayme Asfora (Cidadania), Ivan Moraes, Michele Collins (PP), Renato Antunes (PSC) e Rogério de Lucca (PP). Dados sobre o número de respiradores, testes clínicos, leitos atuais de UTI e sua ocupação, gestão dos equipamentos de proteção individual, uso de substâncias possivelmente úteis no combate à covid-19 (como hidroxicloroquina, ivermectina e remdesivir), perspectivas para um eventual colapso do sistema de saúde e do retorno à normalidade no município foram algumas das preocupações levadas pelos parlamentares ao secretário.

Segundo Correia, o Recife possui em aberto, hoje, 59 leitos de UTI e 215 leitos de enfermaria, números que devem ser incrementados nos próximos dias. A ocupação total dos leitos de UTI é de 52% – a taxa teria diminuído com a abertura de 29 leitos na última quinta-feira (16). “Abrimos leitos e eles começam a ser ocupados logo depois, com grande velocidade”, ponderou. A taxa de ocupação dos leitos de enfermaria, também favorecida pela expansão da estrutura, é de 18%.

A respeito da gestão dos equipamentos de segurança individual, o secretário explicou que o Executivo tem adotado medidas de racionalização do uso dos itens, mesmo que eles não estejam em falta, para evitar escassez em um momento posterior. “Uma das categorias [de profisisionais] não concorda com a norma da Anvisa, acha insuficiente. A Agência prevê o uso de uma máscara e lavagem de mãos em determinadas situações, e em outras o material mais completo.” Ainda sobre o tema, o chefe da Saúde municipal desfez o boato de que o Recife planeja adotar o uso obrigatório de máscaras para os cidadãos que circulem pela cidade.

O município possui 2500 kits de testagem rápida – que, ao contrário dos testes moleculares, apresentam um grau maior de resultados negativos errôneos, os chamados “falsos negativos”. Levando isso em conta, a Prefeitura não planeja realizar uma política de testes na rua, como acontece em alguns países, com receio de incentivar o comportamento de riscos em indivíduos potencialmente infectados.

Segundo Jailson Correia, a testagem de covid-19 será realizada em policlínicas e maternidades, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e em outros quatro pontos na cidade. A Prefeitura espera alcançar a marca de 550 testes por dia, operados pelo LACEN/PE e pela Universidade Federal de Pernambuco, até o fim de abril.

Quanto ao uso dos recursos no enfrentamento à pandemia, Jailson Correia divulgou que, na última quinta-feira, o prefeito Geraldo Julio realizou uma reunião com o secretariado para discutir o remanejamento de recursos de cerca de R$ 230 milhões. Do Governo Federal, a Prefeitura teria recebido R$ 24,5 milhões para o combate à covid-19.

O uso de medicamentos discutidos como possíveis tratamentos para a doença também está no radar da Prefeitura, informou o secretário. “Há protocolos do uso compassivo da hidroxicloroquina, mas não da ivermectina. Temos um núcleo acompanhando diariamente as evidências [científicas]. O remdesivir aparenta ter resultados promissores, mas entre isso e o uso em larga escala há um caminho longo.”

Sobre as perspectivas de flexibilização e retomada da atividade econômica, Jailson Correia fez questão de salientar que o momento é de garantir a prevenção e o adiamento do colapso da Saúde municipal. “Gostaria de achar que o Recife poderia ser menos atingido. Mas a única forma é a gente fazer o isolamento social. É inevitável que tenhamos um número expressivo de casos e mortes. Há um plano do que fazer nos momentos mais críticos, mas, a partir de certo limite, não há mobilização, recursos ou vontade política suficiente. Começam a faltar insumos, trabalhadores, respiradores. A hora é de fazer o máximo de isolamento que a gente possa conseguir.”

Em 17.04.2020, às 18h37