Câmara do Recife celebra o Dia Municipal da Cultura dos Bois

Estampa de chitão, versos improvisados, chapéus, rostos pintados, roupas brilhosas e coloridas são algumas das características que marcam a extensa e diversa cultura de Boi, celebrada em solenidade nesta quarta-feira (28), na Câmara do Recife, por iniciativa da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), que realizou a entrega de 40 homenagens durante o evento. O Dia Municipal da Cultura dos Bois é comemorado anualmente no Recife no dia 28 de fevereiro, assim como em Pernambuco. A data marca uma referência ao primeiro registro da confecção de um boi no Brasil, quando, no Recife, a população via, em 1644, um boi “voar” sobre a ponte Maurício de Nassau.

A mesa de honra da solenidade foi presidida pela vereadora Elaine Cristina (PSOL), e composta pelo presidente da Federação Cultural dos Bois e Similares do Estado de Pernambuco, Aelson da Hora; pela historiadora e pesquisadora da cultura dos Bois, representando a Secretaria de Cultura do Recife, Carmem Lélis; e pela coordenadora de Linguagem Popular  da Gerência de Políticas Culturais da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Wanessa Kariny Santos. 

Ao lado de Aelson da Hora, a vereadora Cida Pedrosa fez a entrega de uma placa e dos certificados aos 40 homenageados do dia. Além disso, a agremiação Boi Faceiro também fez uma apresentação cultural durante a solenidade. 

De acordo com Cida Pedrosa, a cultura de Boi de Pernambuco, sobretudo no Recife, é definida por diferentes características. “A manifestação do povo negro agrega as comunidades em torno da brincadeira. Reúne pessoas, evidencia traços das culturas locais, descentraliza as ações culturais, potencializando as manifestações periféricas e aquecendo a economia da cultura para além dos grandes centros urbanos. A Cultura dos Bois fortalece outras centralidades, oportuniza o acesso à cultura como um bem e como um direito”, salientou.

A parlamentar pontuou que os Bois são cultuados durante todo o ano, não apenas no Carnaval. “O Boi já está no Ciclo do Natal, no Carnaval e no São João. Em cada uma destas datas cumpre um papel social diferenciado. Artisticamente é reconfigurado em diálogo com as narrativas de cada tempo. É uma manifestação de muitos significados. A luta pelo direito à cidade passa pelo fortalecimento das manifestações da cultura popular. Passa pelo fortalecimento dos Bois”, disse.  

Segundo Cida Pedrosa, o requerimento de número 355/2024, que deu origem à homenagem na Casa, tem como justificativa a importância do reconhecimento e da valorização da importância histórica e cultural da expressão do povo. “Ao destacar os Bois, símbolos enraizados na identidade pernambucana, a nossa iniciativa busca preservar e promover as tradições locais, além de honrar os mestres, brincantes, grupos e artistas que contribuem para a riqueza cultural da nossa cidade. A cultura dos Bois é um território de lutas e resistências. E por isso é um lugar de felicidade. Toda vez que um boi sai à rua, é uma festa para a alma. É uma festa para quem brinca e é uma festa para quem assiste e se diverte”. 

Autora da homenagem, a vereadora salientou “que a cultura tem que reinar nesta Casa Legislativa e em todos os espaços”, pela sua relevância histórica, social e de representatividade. “Eu fui relatora da lei sancionada pelo prefeito João Campos que garante a todas as agremiações e grupos culturais do Recife a isenção de impostos e taxas que antes eram cobrados. Foi uma vitória de todos nós, eu me sinto parte dessa vitória”, afirmou.

Além disso, ela contou ter sido relatora da lei do Patrimônio Vivo do Recife, e garantiu que será defensora “para que as subvenções para os Bois sejam equiparadas às das outras agremiações”, porque, como afirmou, cultura não é despesa, é investimento. “É o reconhecimento do papel da cultura no projeto de qualidade de vida das pessoas do Recife. Não se pode separar cultura da economia, porque as manifestações culturais são geradoras de dinheiro nas comunidades do Recife. Para fazer a cultura do Boi, é preciso dinheiro, investimento. Nós estamos aqui para agregar valor à esta luta”. 

O presidente da Federação Cultural dos Bois e similares, Aelson da Hora, pontuou que a cultura dos Bois é fruto de uma ancestralidade que está sendo replicada e remontada. “Não estamos criando nada, só estamos replicando tudo aquilo o que vem da nossa aprendizagem de um imaginário coletivo ancestral. A nossa Federação Cultural surgiu a partir de uma inquietação num período em que essa manifestação cultural estava no processo de decadência. É uma satisfação imensa estar aqui porque é um momento histórico neste poder legislativo, que é um dos nossos maiores espaços em nossa história viva”, afirmou

Aelson da Hora falou da importância para o reconhecimento da cultura de Bois pela Câmara do Recife através do Dia Municipal da Cultura dos Bois. “Essa manifestação não surgiu agora a pouco e nem por acaso, ela vem do princípio da história da cidade do Recife. Hoje, 28 de fevereiro, foi a data em 1644, quando o príncipe Maurício de Nassau fez o boi voar. Ele mandou confeccionar a figura do boi para que ela estivesse nesse momento fazendo o voo, atravessando o rio e passando pela primeira ponte construída no Brasil. Para nós, a cultura do Boi, nunca foi dada a visibilidade merecida a ela. Nunca foi tratada com paridade às outras modalidades culturais. Gostaria muito que isso fosse levado como um grito de alerta”. 

Por sua vez, a historiadora e pesquisadora da cultura dos Bois, Carmem Lélis, contou que a cultura é milenar e que não está apenas no Brasil, mas em todo o mundo. “Essa cultura está na Ásia, na África, no extremo Oriente, na Europa, com todas as relações que esse animal vinculado às relações materiais e ao universo simbólico de mesclam. Ele vem para o Brasil pelos portugueses e, na verdade, é a primeira manifestação que temos que mescla o material e o simbólico brasileiro porque, principalmente para nós aqui no Nordeste, a formação social vem do século 17 e 18, marcada pela civilização do couro que fazia com que tudo fosse de couro”, pontuou. 

De acordo com ela, tudo do boi pode ser aproveitado, seja ele morto ou vivo e, por isso a sua importância. “Pesquisadores falam dessa importância desde o alimento. Esse boi morto serve para que a gente viva. Ele ressuscita para que o espírito da ente renasça, volte a ter esperança e isso está em todas as culturas de uma maneira geral. O animal que vai ser referência de trabalho, equilíbrio, força, paciência, é o boi. Ele vai além de ser isso. É um companheiro do escravizado que trabalhava, produzia e fazia esse Brasil começar a existir. Essa relação utilitária não fica por aí, e é por essa utilidade tão grande que ele está entranhado na cabeça, no corpo e na vida social desse povo. Ele tem esse imaginário tão maravilhoso que vai viajar do sagrado para o profano. Estar com o boi na rua não é só brincar o boi. Ele precisa estar nos processos educacionais de formação porque trazem não apenas o elemento do brinquedo, esse boi que seja o boi da nossa vida, que abre caminho, que ele exista, resista e nos conduza a um mundo melhor onde as nossas crianças possam saber de onde vieram”. 

Já a coordenadora de Linguagem Popular da Gerência de Políticas Culturais da Secretaria de Cultura de Pernambuco, Wanessa Kariny Santos, destacou o reconhecimento da manifestação e a importância de salvaguardá-la. “A gente escutou aqui que a brincadeira dos Bois está em todo o país e no nosso Estado. É importantíssimo que a gente tenha isso forte com a gente enquanto coletivo, enquanto gestão e também enquanto sociedade civil, para que possamos refletir sobre a importância dessa manifestação.  Parabéns por estarem levando essa brincadeira com muito orgulho e muita alegria. Para além de a gente se reconhecer nessa brincadeira, é a gente entender que ela faz parte da nossa comunidade, que faz parte da gente, e é entendendo essa relação que a gente vai perpetuar esses saberes dos nossos grandes mestres e mestras”, concluiu. 

 

Homenageados (as): 

Placa 

1 - FEDERAÇÃO CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DO ESTADO DE PERNAMBUCO - FECBOIS

Certificados

1 - MESTRE BIU

2 - CARMEM LELIS - HISTORIADORA E PESQUISADORA

3 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE CARUARU

4 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE ARCOVERDE

5 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE ALIANÇA

6 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE BONITO

7 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE TIMBAÚBA

8 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE PAUDALHO

9 - LIGA CULTURAL DOS BOIS E SIMILARES DE LIMOEIRO

10 - BOI DA CARA PRETA

11 - BOI DE MAINHA

12 - BOI D’LOUCOS

13 - BOI MIMOSO

14 - BOI MIRIM

15 - BOI MALABÁ

16 - BOI MANHOSO

17 - BOI MARINHO

18 - BOI DA MATA

19 - BOI VACA CHARMOSA

20 - BOI JOSÉ DO RIBAMAR

21 - BOI ICONOCLASTA

22 - BOI DE TANGA

23 - BURRA DA VÁRZEA

24 - BOI TEIMOSO

25 - BOI TEIMOSO DA VÁRZEA

26 - BOI DE MAINHA

27 - BOI TATATÁ

28 - BOI DA LIA

29 - BOI DA GURITA SECA

30 - BOI TIRA-TEIMA

31 - BOI DA CUTIA

32 - BOI DA MUNGANGA

33 - BOI DE TAURI

34 - BOI BOMBÁ DO HEMETÉRIO

35 - BOI LAMBE-LAMBE

36 - BOI MIX

37 - BOI CORNO

38 - BOI TRELOSO

39 - BOI FACEIRO

Clique aqui e confira a solenidade na íntegra.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 28.02.2024