Criação de novos assentos no Conselho Municipal de Política Cultural é discutida em audiência pública

Provocada para discutir, fortalecer e viabilizar a criação de novos assentos no Conselho Municipal de Política Cultural para que sejam ocupados por representantes do Hip-Hop e por técnicos e técnicas de espetáculos, a vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) realizou uma audiência pública nesta quarta-feira (20), no plenarinho da Câmara do Recife. “Entendemos que um Brasil feliz passa pela cultura e, por isso, ficamos atentas e resistentes a qualquer possibilidade de uso da arte para fortalecer um capitalismo excludente e dominado pelas estruturas sociais abastadas. As políticas públicas têm um papel estruturante e a representatividade nos Conselhos é de grande relevância”, disse a parlamentar.

Ao abrir a audiência pública, a vereadora Cida Pedrosa salientou a intenção da discussão na tentativa de construir um ambiente de escuta e de respostas às demandas da sociedade civil. Ela pontuou que a Câmara do Recife é um lugar de acolhimento das questões centrais de interesse da população. "Estamos aqui para ouvir os trabalhadores e trabalhadoras das áreas técnicas e do Hip-Hop, no que se refere aos seus espaços de representação. No caso aqui, o que se busca é a representação no Conselho de Política Cultural da Cidade do Recife. A partir das questões hoje tratadas, tomando como referência o que se for construído, é que daremos encaminhamentos junto ao Pleno do Conselho Municipal de Política Cultural, do qual faço parte", afirmou. 

Segundo a parlamentar, a criação de novos assentos no Conselho Municipal de Política Cultural atende uma demanda da sociedade civil referente ao Hip-Hop, técnicas e técnicos de espetáculos artísticos e de diversão da cidade. "O Conselho Municipal de Política Cultural da Cidade do Recife tem passado por significativas e estruturantes modificações, rumo ao seu fortalecimento. O Conselho passou por importantes avanços, a representatividade retomou o seu protagonismo de modo que o Conselho está vivendo importante momento com ações de relevância para o empoderamento das manifestações culturais e das linguagens artísticas do Recife. Estando em processo permanente de construção, é evidente que muito ainda há que se amadurecer, sendo a questão da representatividade um fator a ser constantemente discutido, em especial para contemplar a diversidade da produção". 

Integrante da mesa, o produtor cultural, musical e educador social, DJ Big, pontuou sobre a falta de espaço que a cultura do Hip-Hop tem na sociedade. "Às vezes, para a gente, é um sonho poder falar aqui o que é o Hip-Hop e o que ele vem desenvolvendo na cidade e no estado, inclusive no país. É difícil ter esse espaço. Somos um elemento discriminado pela segurança, mas também somos discriminados pelas gestões de cultura. Temos conquistado espaço dentro da cultura pelos talentos que existiam na periferia, seja pelos quatro elementos: o break, o DJ, o grafite e o rapper. Mas o Hip-Hop talvez seja o único segmento que não tem reconhecimento dentro dos cadastros públicos. Se você vai preencher alguma ficha de conferência e foi exemplo essa conferência do Recife, e até do estado. Você não consegue encontrar o seu segmento, não vê o Hip-Hop. Será que ele não fez história? Será que o nosso saudoso Chico Science não fez a diferença?", questionou. 

DJ Big destacou que o Hip-Hop cumpre um papel dentro das comunidades de combater a marginalização dos jovens. "Sem desmerecer nenhuma cultura, o Hip-Hop vem desenvolvendo um papel que o Poder Público não faz, que é salvar vidas nas periferias. A gente consegue ver um Hip-Hop vivo. Se, por acaso, o Poder Público tivesse uma visão melhor para a periferia como um todo, entenderia que o Hip-Hop hoje é a mão de força nas comunidades para a gente diminuir a violência. Inclusive, os equipamentos públicos não dão visibilidade para o Hip-Hop. Liberar espaço de sala para fazer um treino não é legitimar a cultura", pontuou. 

Ele falou sobre o processo histórico de fortalecimento da cultura periférica. "A gente vem de várias entidades. São várias organizações e coletivos que vieram fortalecendo uma massa que está aí hoje, fazendo oficina, sendo protagonista do seu trabalho. A gente não consegue entender como não existiu, nesse meio de tempo e caminho, um gestor com sensibilidade para visibilizar o Hip-Hop. Eu estou sentado aqui porque o nosso Governo Federal mudou e, com mais sensibilidade, ele faz com que se tenha um olhar diferenciado para o segmento. Enxergar a periferia e dar visibilidade ao movimento Hip-Hop é reconhecer a história do negro no Brasil, que a periferia, com certeza, foi responsável pela cultura musical no mundo. E por que temos que ficar no anonimato sempre? Por que somos os últimos sempre? O Poder Público precisa acordar para o Hip-Hop. A gente descobriu que o Hip-Hop é forte, que a gente consegue implementar a cultura e consegue fazer o projeto. Agora, a gente quer discutir por igual". 

Representando o segmento de técnicas e técnicos de espetáculos, diversão e eventos, Rozeane Ferreira explicou como a categoria atua e de como o grupo se organizou. “Eu represento os profissionais das áreas técnicas de Pernambuco e nós somos responsáveis pelos trabalhos técnicos dos espetáculos artísticos e culturais. São quase 3000 profissionais no Estado de Pernambuco e, na Região Metropolitana, somos quase 800. Estamos presentes em todos os lugares e viabilizamos, por meio do nosso profissionalismo, todo o processo de realização de qualquer evento. Se os técnicos pararem, por exemplo, não tem iluminação cênica e não tem gestão de eventos. Construímos um coletivo que se chama Copepe- Coletivo de Profissionais de Eventos do Estado de Pernambuco para lutarmos juntos e juntas pela formalização da classe”.

Ela enfatizou que a seguridade de um assento no Conselho Municipal do Recife é extremamente necessária e que representa, para todos os profissionais, um protagonismo “jamais proposto pelo município e que isso aponta, minimamente, para uma sensibilidade da percepção sobre esses profissionais. Reitera-se aqui que esses profissionais técnicos têm como luta o reconhecimento de sua parceria na importante e imprescindível contribuição na construção das mais diversas áreas artísticas. Assim, pleiteamos esse assento como forma de dar voz às demandas das lutas engajadas pelos nossos grupos. Grupos que são um espaço de discussão e reflexão na busca para ampliar as possibilidades de atuação na esfera da cultura. Sabemos que, por conta de paradigmas arcaicos, a figura do técnico é colocada unicamente em um fazer do manual, desconsiderando o nosso fazer laboral. A falta dessa representatividade nos conselhos municipais leva nossa classe a não termos voz, invisibilidade e não tem nenhuma cadeira que nos represente”.

Após as falas, a plateia foi convidada a fazer sugestões. Em seguida, a vereadora Cida Pedrosa citou encaminhamentos, dentre eles: enviar um relatório sobre a audiência pública para o secretário de Cultura do Recife,  Ricardo Melo, que é presidente do Conselho de Cultura ; elaboração de um projeto de lei para a criação de um Dia Municipal dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Artes Técnicas e organização de uma solenidade em homenagem ao Hip-Hop.

Clique aqui e confira a audiência pública na íntegra.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife. 

Em 20.03.2024