Dia Municipal do Contador de Histórias e do Dia do Historiador são celebrados na Câmara do Recife

A Câmara Municipal celebrou, em solenidade realizada nesta segunda-feira (25), duas datas comemorativas do Calendário Oficial de Eventos do Recife: o Dia Municipal do Contador de Histórias e o Dia Municipal do Historiador. As datas ocorrem, respectivamente, nos dias 20 e 22 de março. O evento foi uma iniciativa do vereador Almir Fernando (PSB), que prestou homenagens a 17 profissionais das duas áreas.

A mesa de honra da cerimônia, presidida pela vereadora Aline Mariano (PP), também contou com a presença do historiador João Amaro Monteiro da Silva; da contadora de histórias Maria José Bezerra de Arimateia Souza; e da jornalista e contadora de histórias Gabriela Kopinits dos Santos. 

Durante a solenidade foram realizadas várias contações de histórias. A história de “Ketwee, rainha da mbira”, em referência à cultura negra e indígena, foi contada por Bernadete Maria, conhecida como Afroberna que também cantou a música “Marinheiro Só”. Por sua vez, Tio Jorge contou a história autoral “Beto, o menino que queria ser um boneco”, e Gabriela Kopinits, conhecida como Gabi Santos, contou uma história do livro “Contos Tradicionais do Brasil”.  

O processo de construção de identidades sociais e culturais que contribuem para o desenvolvimento da linguagem proporcionado pelos contadores de histórias foi destacado pelo autor da homenagem. Segundo Almir Fernando, o conhecimento aumenta "o universo de significados das crianças e do hábito da leitura", que é importante na educação infantil. "Não é de hoje que essa prática existe  e os contadores de histórias atuam há séculos. De certa forma, a evolução da humanidade está diretamente ligada à arte de contar histórias. É só lembrar que até a invenção da escrita, as tradições, conhecimentos e histórias eram passadas oralmente, de geração em geração. E mesmo depois, grande parte da população não sabia ler e escrever e recorria aos contadores de histórias para manter viva a cultura de sua família ou região", lembrou.

Ainda de acordo com o vereador, os contadores de histórias afloram a imaginação e a curiosidade das crianças, o que faz com que elas tenham melhor desenvolvimento de interpretação. "Criança que desfruta de momentos de leitura em voz alta e narração de histórias em casa, na escola ou em livrarias possui mais referências para enfrentar as dificuldades da vida, torna-se mais forte e equilibrada emocionalmente, além de mais estimulada a ler e aprender sobre si, o outro e o mundo que a cerca".

Já sobre os historiadores, Almir Fernando pontuou que a profissão é indispensável em todo tipo de cultura, pois preservam o passado, interpretam a história e aprofundam o conhecimento do presente. "Um povo sem história e sem esse profissional, é um povo sem memória. Somos o resultado de nosso meio e de nossa história. A observação do passado é fundamental para conhecer as origens e refletir sobre várias questões atuais, assim o ser humano se torna capaz de analisar suas próprias ações. Olhar para o passado, dá base para viver melhor o presente, e é o historiador quem cria essa ponte entre nós e a história. O historiador examina os fatos e seus desdobramentos, o comportamento, a motivação e modos de vida humano". 

Representando os historiadores homenageados, João Amaro Monteiro iniciou o seu discurso com uma fala do historiador Marc Bloch, que diz que "a diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita. Tudo o que o homem diz, escreve, constrói, toca, pode e deve fornecer informações sobre eles". Ele contou ter passado 20 anos no Arquivo Público de Pernambuco. "Passei esse tempo dialogando e colaborando com os melhores pesquisadores do Estado e do mundo, respirando histórias em documentos, jornais, fotografias e obras raras", frisou. "Eu tive acesso a várias informações e formações, e uma marcante para mim foi uma especialização em Preservação, Conservação, e Restauros de Acervos Gráficos feita em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essa trajetória de acúmulos aliada ao ativismo social de matriz africana e afrobrasileira me proporcionou entender melhor o verdadeiro papel de um historiador", destacou. 

João Amaro Monteiro contou ter iniciado a trajetória de historiador militante no terreiro de Xambá. "Onde fui iniciado para Xangô há 18 anos e, depois da morte de Mãe Biu, Severina Paraíso da Silva, colaborei efetivamente na organização memorial Xambá, que hoje é o primeiro quilombo urbano reconhecido no Brasil", disse. "Foram inúmeros TCCs realizados e dissertações de mestrados provando que o povo nagô do Recife ainda resguarda a nossa tradição ancestral. Há 10 anos participei também de um projeto de DNA África-Brasil, fiz meu mapeamento genético e descobri a minha ligação ancestral, que proporcionou-me um mergulho em minha bio afro ancestralidade. Hoje estou articulando as memórias do DNA dos quilombos de Pernambuco e do Amapá, que vai proporcionar a milhares de afrodiaspóricos conhecer as suas ligações ancestrais, já que a história oficial nos negou de inúmeras formas", afirmou. Segundo o historiador, atualmente ele é rei da nação de maracatu Sol Brilhante, em Linha do Tiro, Zona Norte do Recife.

Por sua vez, representando os contadores de histórias, Maria José Bezerra de Arimateia Souza relatou que sempre contou e sempre ouviu histórias, desde a infância. "Na escola eu tive uma grande referência que foi a minha professora Socorro Peixoto. Eu cresci no meio das histórias, desejando contar histórias faladas, escritas e desenhadas. Continuo contando histórias escritas e faladas. Conto, sobretudo, para os meus três filhos menores que estão aqui presentes, e conto também para os meus netos", disse. 

Segundo Maria José, ela só conseguiu ter acesso a livros na adolescência, mas o seu desejo em contar histórias e a sua oralidade foi o que a levaram até onde ela está hoje. "A contação de histórias não é só contar, narrar. Ela mexe com todo o imaginário humano. A narrativa de uma história nos emociona, nos faz rir, nos faz chorar, e isso é essencial à vida humana. Durante toda a minha vida foi tudo isso, contei muitas histórias. A minha vida toda foi formada de histórias e desejos. A cada contador de histórias daqui que já é contador: continue. Nós ainda precisamos muito. Precisamos de muito mais políticas públicas que nos valorizem como profissão, porque muitos de nós dependemos disso", finalizou. Em seguida, Gabi Santos fez a sua contação de história e, logo após, a presidente da solenidade, vereadora Aline Mariano, fez as colocações finais e convidou todos os representantes para acompanhar o Hino da Cidade do Recife. 

 

Homenageadas (os): 

1. Fernanda Maria de Lima Ferreira - Contadora de História

2. Gabriela Kopinits dos Santos - Contadora de História

3. Itamira Maria de Andrade Santos - Contadora de História

4. Lindacy Silva de Assis - Contadora de História

5. Marcília Gama da Silva - Contadora de História

6. Maria José Bezerra de Arimateia Souza - Contadora de História

7. Rizeide Helena Paes Barboza - Contadora de História

8. Rosália Cristina da Silva - Contadora de História

9. Sandra Clementino Moraes Tomaz de Almeida - Contadora de História

10. Tatiana Alves Florentino - Contadora de História

11. Fabiano da Silva Giló - Historiador

12. Henrique Virginio de Souza - Historiador

13. João Amaro Monteiro da Silva - Historiador

14. José Bonifácio Pereira Lima - Historiador

15. José Cláudio Maciel Freire - Historiador

16. Raimundo do Nascimento - Historiador

17. Vladimir Rodrigues da Costa - Historiador

Clique aqui e confira a reunião solene na íntegra.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 25.03.2024