Liana Cirne comenta envolvimento de possíveis mandantes da morte de Marielle Franco com o crime organizado

A prisão cautelar dos possíveis mandantes do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro (RJ) Marielle Franco, em março de 2018, foi o tema de um discurso da vereadora Liana Cirne (PT), durante a reunião plenária da Câmara do Recife desta segunda-feira (25). Em seu pronunciamento na tribuna da Casa de José Mariano, a parlamentar considerou que o suposto envolvimento de Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa no caso revelam uma situação preocupante de contaminação da política pelo crime organizado. “O caso Marielle diz o óbvio: tem uma parcela da bandidagem que usa a política para se perpetuar como bandidagem e para trazer o poder para si”, afirmou.

Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), enquanto o seu irmão Chiquinho Brazão (União Brasil), atualmente deputado federal, ocupava o cargo de vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro na mesma legislatura de Marielle Franco à época de sua morte. Ambos são apontados pela Polícia Federal como idealizadores do assassinato da vereadora, enquanto o delegado Rivaldo Barbosa teria se ocupado do planejamento do crime e da obstrução das investigações. Os três foram presos no último domingo (28).

O laço dos irmãos Brazão tanto com a política quanto com as milícias foi apontado por Liana Cirne como uma questão preocupante para o país. Ainda de acordo com ela, o envolvimento de Brazão no assassinato não foi recebido com surpresa. “Se pelo menos desde 2019 sabe-se que Domingos Brazão era mandante do assassinato de Marielle, como no meio político todo mundo sabia, por que Domingos Brazão ocupava o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro? Esse homem foi presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Eu quero dizer que essa não é uma realidade apenas do Rio, é uma realidade do Brasil. Como podem milicianos estarem na política – pessoas que deveriam estar atrás das grades? Isso é muito grave”.

Sobre Rivaldo Barbosa, a parlamentar lembrou que o delegado foi nomeado para o cargo de chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro dois dias antes do assassinato de Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes. À época, o Estado se encontrava sob intervenção federal chefiada pelo general da reserva Braga Netto, que disputou como vice nas eleições presidenciais de 2022 na chapa do então presidente Jair Bolsonaro (PL). “São tantos escândalos de corrupção que, nós, que somos da política, ficamos sem entender como a política chegou nesse nível. Imaginem a população que vai às urnas votar na gente”.

Liana Cirne não deixou de refletir sobre a suposta motivação do assassinato – um projeto de lei de Chiquinho Brazão que facilitava a especulação imobiliária em áreas dominadas pela milícia. Para frisar as tensões entre a política e as questões fundiárias, ela lembrou das respostas do poder público a conflitos habitacionais e a movimentos como o Ocupe Estelita, associado à luta contra a especulação no centro do Recife. “Nós pedíamos que um espaço que é no coração da cidade do Recife não fosse destinado à especulação imobiliária. E terminou violentamente, numa reintegração de posse extremamente brutal. Quantas vezes nós vemos moradores retirados das suas casas com trator passando por cima das casas, e os seus pertences – vejam que humilhação – sendo colocados em cacimba de lixo?”

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Em 25.03.2024