Situação habitacional na Comunidade Nova Morada é debatida em audiência

A situação habitacional e o futuro da Zona 06 na Comunidade de Nova Morada, Zona Oeste da cidade, foram temas debatidos na audiência pública, no plenarinho, promovida pelo vereador Davi Muniz (PSB), na tarde desta segunda-feira (18). Segundo o parlamentar, o intuito do evento é buscar soluções referentes à doação de 24 hectares de terras - entre a Caxangá e o Sítio dos Pintos - pertencentes à Universidade Federal Rural de Pernambuco.

“A Universidade deseja repassar as terras para a Prefeitura do Recife para que a mesma possa doar aos moradores que já residem no local. Assim, a regularização irá garantir o Título de Posse aos seus ocupantes e colocar um fim em diversos problemas sociais, urbanísticos e ambientais, garantindo o direito à moradia digna”, explicou Davi Muniz.

O parlamentar ressaltou que a luta na localidade é antiga. “Fui procurado pela associação de moradores, escutamos o povo daquela região e já faz 10 anos que vocês estão lá. Hoje, é preciso drenagem, saneamento, segurança pública e há falta de iluminação. Essas pessoas vivem, constantemente, com o constrangimento da energia ficar caindo porque não tem a regularização da Neoenergia. A diretoria da Neoenergia mostrou o projeto feito, a verba já vai entrar para colocar a rede elétrica, extensão de energia e a iluminação pública. Vocês precisam da legalização desse terreno, ter creche, posto de saúde. São desassistidos e é preciso que todos e todas tenham dignidade de vida”.

Marcos Justino, presidente da Associação de Moradores do Sítio dos Pintos, ressaltou que mais de três mil famílias ocupam a Zona 06, Sítio São Brás, parte do Sítio dos Pintos e o Córrego da Fortuna em terras que eram de propriedade da Universidade Rural. Ele explicou as dificuldades que os moradores e moradoras estão encontrando para que a área se transforme em ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social).

“O reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco vem junto com a gente nesta luta, se predispôs a fazer a doação, mas encontrou um entrave pelo governo do Estado e pela Prefeitura. De um ano para cá, a gente conseguiu perceber que existem interesses no que concerne a não transformar aquelas terras em ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) porque a área de Dois Irmãos, da Universidade Rural é uma Zepa: Zona Especial de Proteção Ambiental e só pode construir até sete pavimentos. E para se transformar em ZEIS, só tem direito a construir quatro andares. A especulação imobiliária é muito grande naquela área. É só pedir ao Fórum do Prezeis (Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social) para que aprove, comece a fazer o estudo social com as famílias e o desmembramento será feito”.

Felipe Vicente, presidente da Associação de Moradores da Zona 06, disse que a doação dos terrenos foi recusada e afirmou que empreendimentos estão sendo erguidos. “A Prefeitura do Recife e o Governo do Estado estão se recusando a receber a doação por parte da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A Secretaria de Meio Ambiente fica dizendo que a área é de proteção ambiental, mas eu vejo os empreendimentos sendo construídos em Nova Morada e vejo empresários levantando torres. E a população que precisa da sua casa para morar não tem o direito de receber seu título de posse? São famílias que há mais de 60 anos estão já constituídas naquela localidade”.

Lucas Peixoto, conselheiro tutelar do Recife RPA-4, ressaltou que os moradores de Nova Morada vivem um dilema, estão apreensivos e buscando recorrentemente uma solução para o problema. Ele também parabenizou a iniciativa de Davi Muniz. “Quero parabenizar pela iniciativa de fazer essa audiência pública para que a gente pudesse debater esse tema que é urgente porque as famílias estão lá sofrendo, esperando uma solução do poder público. A gente sabe dos esforços que são feitos para que seja resolvido, mas a gente precisa de uma solução. Um grande problema hoje é a energia, não bastasse todos os outros problemas que a gente tem que ser enfrentar. Que a gente tenha um encaminhamento para que possa ter dias melhores”.

O professor Marcelo Carneiro Leão, reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, explicou que o Tribunal de Justiça de Pernambuco colocou que a área era uma Zona Especial de Proteção Ambiental e que precisaria deixar de ser uma Zepa e passasse a ser uma Zeis (Zona Especial de Interesse Social). Ele enfatizou que pode já assinar a doação e que um projeto de lei, pela Prefeitura, deve ser enviado. “Foi dito que um projeto de lei, deve ser encaminhado pela Prefeitura e votado e aprovado aqui, nessa Casa, para que a gente possa fazer essa doação. Fui à reunião na Prefeitura com o prefeito João Campos e reforcei o interesse da Universidade em efetivar a doação. É uma questão social, de respeito a essa comunidade e a gente precisa regularizar. Da parte da UFRPE, estamos à disposição. A caneta está pronta. Se me derem autorização, amanhã está assinada a doação”.  

Altair Correia, representando a Secretaria de Habitação do Recife, disse que tinha ciência de que as famílias querem a regularização perante à justiça e citou que existem empecilhos que precisam ser resolvidos juridicamente. “Primeiro passo tem que ser a regularização, passar pela Universidade, depois para a Secretaria de Políticas Urbanas e Licenciamento para poder chegar, posteriormente, na Secretaria de Habitação. É um processo e que ainda não foi passado juridicamente e resolvido”.

Emília Avelino, representante da Secretaria de Política Urbana e Licenciamento, detalhou como a pasta foi procurada, apresentou imagens da localidade e pontuou as legislações existentes. “Nós fomos procurados para receber em doação duas áreas que fazem parte hoje do campus da Universidade Federal Rural do Pernambuco e o intuito em receber essas áreas seria proceder a regularização fundiária. Como política urbana e licenciamento, nós fomos buscar soluções e possíveis entraves. A primeira lei a consultar foi a do nosso Plano Diretor da Cidade do Recife. O desmembramento em Imóvel de Proteção de Área Verde (IPAV), a Lei 18014 diz, expressamente no artigo 27, que fica estabelecido que os IPAV existentes, ou que venham a ser instituídos, não serão passíveis de desmembramento, tendo em vista a preservação da função social desses imóveis. E sobre o desmembramento dos Imóveis Especiais de Preservação (IEP), a lei diz que não será permitido o desmembramento dos terrenos dos IEP”.

Avelino explicou as características que uma Zona Especial de Interesse Social precisaria ter e que era necessário encaminhar um projeto de lei à Câmara. Ela disse que a Prefeitura não se negou a receber a área. “Antes de encaminhar o projeto de lei, precisaria haver algumas características que deverão ser respeitadas. Os requisitos para transformação de ZEIS, de acordo com a Lei 16.113/1995 são: ter uso predominantemente residencial; apresentar tipologia habitacional de baixa renda; precariedade ou ausência de infraestrutura; renda familiar média igual ou inferior a três salários mínimos, entre outros aspectos. Temos leis que nos obrigam a agir dessa forma. A Prefeitura do Recife não se negou a receber a área. A Prefeitura não tem como receber na forma da nossa legislação urbanística vigente”.

Oscar Barreto, secretário de Meio Ambiente do Recife, ressaltou que tinha muito interesse em colaborar com a solução, que os moradores não podem viver sem condições de moradia e disse que o prefeito João Campos tem compromisso com a população. “A gente junta o legislador do município, do estado, o federal com os entes e vamos fazer o que é necessário fazer porque não pode deixar o povo sem saneamento, sem segurança. Não é essa a política do prefeito João Campos. O prefeito não pretende deixar as pessoas abandonadas. Ele já afirmou o seu compromisso. Com essa audiência joga-se mais luz e se desenha melhor o caminho. Eu tenho certeza de que as atitudes do presidente Lula e do prefeito João Campos não são de conflito com a população, pelo contrário”.  

Renata Araújo Vila Nova Pacheco, representante da Superintendência do Patrimônio da União em Pernambuco (SPU), disse que a entidade atua como parceira. “Eu só posso reforçar que a Superintendência do Patrimônio da União em Pernambuco sempre atuou como uma parceira muito forte, tanto com a universidade, quanto com a Prefeitura.  No que depender, estamos de braços abertos para poder colaborar com essa problemática de vocês”.

Ao final da audiência pública, como encaminhamento, uma Comissão foi formada por nove pessoas com o objetivo de lutar pela regularização da área. Davi Muniz organizou os nomes e também pediu para que as Secretarias conversem para elaborar mudanças na legislação.  “Vamos acompanhar essas pessoas que vocês conhecem e convocar todas as Secretarias para que tragam a mudança da Lei, o mais urgente possível, com a anuência do prefeito João Campos. No final dessa grande luta, seremos vitoriosos”.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 18.03.2024