Audiência discute megatendências identificadas pela ONU e seus impactos nas famílias

Mudanças climáticas e degradação da natureza, desigualdades sociais, rápida urbanização, mudanças populacionais e revolução tecnológica. Essas são as cinco “megatendências” – grandes transformações que afetam economia e sociedade globalmente – identificadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que foram alvo de debate em uma audiência pública promovida na Câmara do Recife nesta quarta-feira (15). A discussão, uma iniciativa da Frente Parlamentar pela Primeira Infância, deu ênfase aos impactos dessas megatendências nas famílias – cujo Dia Internacional é celebrado justamente em 15 de maio. A presidente da Frente, vereadora Ana Lúcia (Republicanos), conduziu a audiência.

Segundo a parlamentar, as megatendências “abrangem uma gama diversificada de questões, cada uma com um potencial de influenciar profundamente a vida de indivíduos e comunidades em todo o mundo”. Dentre elas, a parlamentar demonstrou especial preocupação com as mudanças climáticas, tendo em vista a tragédia que afeta o Rio Grande do Sul desde o final de abril.

“O aumento das temperaturas, a escassez de água e os eventos climáticos extremos estão alterando os padrões de vida e colocando em risco a segurança alimentar e habitacional de milhões de pessoas em todo o mundo. A gente está vivendo uma tragédia que é um exemplo desse momento. A gente não gostaria que fosse um exemplo, mas o povo querido do Rio Grande do Sul tem vivido, nos últimos 15 dias, dias muito difíceis”, disse. “Recife, segundo relatórios da ONU, é uma cidade na rota dessas mudanças climáticas [que vão] trazer para nós eventos duríssimos para a população. E a gente precisa falar sobre isso, discutir isso”.

O problema da desigualdade também foi destacado por Ana Lúcia. “As desigualdades sociais continuam a ser um obstáculo significativo para o desenvolvimento sustentável e a coesão social. A disparidade de renda, o acesso desigual à saúde e à educação, bem como a discriminação com base em gênero, etnia e origem socioeconômica perpetuam ciclos de pobreza e exclusão que afetam diretamente as famílias dos mais vulneráveis”.

Da mesa de debates, participaram o diretor do Instituto Primeira Infância, Plantar Amor (PIPA) Rogério Morais; a secretária-executiva da Primeira Infância do Recife, Luciana Lima; a gerente do Núcleo de Assessoramento, Gestão e Planejamento da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Gizely Couto; a promotora de Justiça do Ministério Público de Pernambuco, Ana Maria da Fonte; a conselheira do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Andréa Castro; a psicoterapeuta, neuropsicóloga, pesquisadora e professora universitária, Pompéia Villachan-Lyra; a representante da Associação de Desenvolvimento da Família e do programa Family Talks, Maria Eduarda Mostaço; e o escritor e empresário Hugo Madureira.

Na ocasião, a secretária-executiva Luciana Lima tratou das iniciativas da Prefeitura para fomentar políticas públicas relacionadas às famílias, em especial no campo dos cuidados com a primeira infância. De acordo com ela, além da implementação do Plano Municipal para a Primeira Infância, o Executivo conta com um Comitê Intersetorial que se reúne mensalmente com 26 áreas da Prefeitura para discutir as ações relacionadas ao tema.

O crescimento das vagas e o diálogo também tem sido fomentado nas creches: por meio de uma estratégia chamada Família Mais, 120 unidades aderiram à comunicação com grupos de famílias para incentivar o brincar, a leitura e o uso dos espaços urbanos. “Hoje, a Prefeitura do Recife tem e conseguiu atender um grande programa lançado em 2021, que é o Infância na Creche. Semana passada, a gente lançou a vaga de número 14.077. Isso significa que a gente mais do que dobrou”.

A qualificação de espaços que convidam famílias a usufruir da cidade é uma das apostas da Prefeitura para valorizar a instituição familiar e a sociabilidade. A oitava Praça da Infância do Recife, por exemplo, foi inaugurada pelo Executivo no dia 5 de maio, no Córrego do Morcego. “Para as famílias, a gente tem trazido, também, uma gama muito rica de espaços urbanos. A gente entende que a cidade precisa ser feita paras pessoas, e não para os veículos, e a gente tem investido muito nessa parte urbana, em praças”.

Apontado pela vereadora Ana Lúcia como o idealizador da audiência, Rogério Morais refletiu sobre as mudanças e questões relacionadas à instituição familiar. “É uma instituição muito importante, mas que passa por um momento de transformação e, talvez, de crise, em alguns sentidos. Aqui no Brasil, os divórcios cresceram quase 10% – isso é um dado do IBGE de 2023. O tempo de casamento está diminuindo de 15 para 13 anos na última década. E a gente tem um aumento subnotificado das violências contra a mulher, contra as crianças”, informou.

O diretor do Instituto PIPA não deixou de pontuar que, apesar dos problemas, as famílias possuem grande relevância social. “Sobram evidências científicas – de Heckman a Winnicott – de que esse cuidado, esse afeto da relação cuidador-criança, é fundamental para tudo, é fundamental para a vida humana. Acho que a família é uma das instituições mais avançadas que a humanidade já criou e a gente precisa, definitivamente, ampliar as políticas públicas nesse sentido para proteger as crianças”.

Morais também demonstrou preocupação com a forma como as megatendências podem impactar as famílias. “Quando a gente fala de guerra, de pandemia, dos desastres ambientais – por exemplo, o que a gente está vivendo no nosso país, no Rio Grande do Sul –, sem dúvida alguma as famílias são muito afetadas. Famílias que perdem entes queridos, que se separam, que perdem os seus lares, suas casas. Toda discussão, todo debate, toda reflexão que a gente puder fazer nesse sentido é positiva”.

Além dos membros da mesa, também puderam participar da audiência pessoas presentes no plenarinho da Câmara Municipal.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 15.05.2024