Babalorixá Manoel Nascimento Costa recebe Medalha de Mérito José Mariano

Mais antiga casa de culto de Nação Nagô de Pernambuco, o Ilê Oba Ogunté foi fundado em 1875 pela africana Ifátinuké – rebatizada no Brasil como Inês Joaquina da Costa –, no Sítio de Água Fria, no Recife. Desde 1985, o terreiro é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado; em 2018, ganhou o reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil.

Após uma saudação e apresentação de cantos sagrados, a vereadora Elaine Cristina ocupou a tribuna da Câmara para fazer as suas colocações. Descrevendo-se como uma mulher de axé, ela salientou o papel do babalorixá Manoel Nascimento Costa, a quem se refere como Manoel Papai, no Sítio de Pai Adão e para a comunidade de terreiro. A parlamentar lembrou de suas ações para inserir jovens da religião em universidades, relatou a sua atuação na liderança de entidades como a Associação dos Babalorixás e Ialorixás dos Cultos Afro-brasileiros e o Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-brasileira, além de destacar a sua participação no Museu do Homem do Nordeste e no Conselho Municipal de Políticas e Promoção da Igualdade Racial na Prefeitura da Cidade do Recife.

“Ao longo de mais de seis décadas, Manoel Papai tem sido não apenas um guardião desse sagrado espaço, mas também um farol de sabedoria e orientação para a nossa comunidade. Como a quarta geração da família de Felipe Sabino da Costa, também conhecido como Pai Adão, seu compromisso com a continuidade da tradição Nagô é inabalável, tornando-se uma referência não apenas em nossa cidade, mas em todo o país”, disse.

A relevância histórica, cultural e simbólica do Ilê Oba Ogunté não deixou de ser destacada por Elaine Cristina. “Não se trata apenas de um espaço de culto religioso. É um refúgio, um local de acolhimento e fortalecimento para a nossa comunidade, especialmente em tempos de adversidade e opressão. Em uma época em que nossos antepassados eram tratados como mercadorias, quando a nós eram cometidas inimagináveis atrocidades, esse terreiro era um mar de esperança e dignidade, um bastião da cultura afro-brasileira e do candomblé de Nação Nagô”.

Emocionado, Manoel Nascimento Costa recebeu das mãos da vereadora a Medalha de Mérito José Mariano e também se dirigiu à tribuna da Câmara para proferir o seu discurso. Ele classificou a solenidade como “o momento mais importante” de sua vida. Também mencionou outras ocasiões marcantes de sua trajetória, como uma cerimônia para celebrar a Casa do Caribe, em Cuba, e sua incursão como babalorixá orientador de trabalhos universitários sobre terreiros – e frisou o quanto a concessão da Medalha de José Mariano tinha um significado especial.

“Depois de analisar, ontem à noite, foi fácil de descobrir que tudo aquilo era importante, mas mais importante é este dia de hoje”, afirmou. “É este momento de felicidade em que eu recebo uma medalha em nome do meu povo, em nome da Casa de Pai Adão, em nome do povo Nagô. Este é o meu maior momento. Vai, com certeza, para os anais da minha história”.

Evocando elementos da cultura recifense, como o maracatu, o babalorixá não deixou de falar sobre a importância da capital pernambucana para os povos de terreiro. “Recife tem, em seu colo, nos seus braços, o terreiro mais antigo de Pernambuco. Ali foi plantada a primeira semente do Xangô do Recife, o terreiro de Iemanjá Ogunté”.

Durante a reunião, também se pronunciaram os religiosos Pai Ivo do Xambá e Ceça Axé. A mesa de honra do evento contou, ainda, com a participação de Mãe Lu.

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Em 22.05.2024