Reunião solene comemora 10 anos do Movimento Ocupe Estelita

O movimento social e ativista contra a construção de torres de prédios do Consórcio Novo Recife, no Cais José Estelita, bairro de São José, e que passou a ser conhecido como Ocupe Estelita, está completando 10 anos. Dentro da agenda de comemorações dessa luta histórica, que reuniu estudantes, artistas, urbanistas, ambientalistas e representantes de diversas entidades da sociedade civil, além de militantes dos chamados direitos urbanos, a Câmara Municipal do Recife realizou reunião solene na noite desta terça-feira (21). A iniciativa foi do vereador Ivan Moraes (PSOL) que foi um dos ativistas do movimento.

A solenidade foi presidida pela vereadora Liana Cirne (PT), que atuou na época como advogada do movimento. Ela compôs a mesa com o vereador autor do requerimento; a representante do Movimento Ocupe Estelita, Ingá Patriota; a representante do Grupo de Direitos Urbanos, Cristina Lino; e Miriam Elias da Cunha, representando comunidades e territórios “que sempre estiveram na luta pelo direito à cidade”.

Ao justificar o motivo da reunião solene, o vereador Ivan Moraes registrou que o Movimento Ocupe Estelita foi “uma resposta ao início da demolição dos galpões de açúcar em virtude de um projeto de desenvolvimento urbano que pretendia construir um grande empreendimento imobiliário nas margens do Rio Capibaribe, em uma área de 10 mil metros quadrados”. Houve uma forte mobilização da sociedade civil em prol da revitalização da área.

Ivan Moraes afirmou: “Quero registrar a importância deste momento de hoje. Não como a conclusão de um processo que dura 10 anos, mas como novo despertar de um movimento que nunca fechou os olhos, e nunca deixou de sonhar e lutar com uma cidade que compreendemos ser nossa e que precisa ser planejada e executada pela totalidade da sua população. Mas não por um punhado de pessoas que sequer conhece os bairros da cidade que a gente vive”.

Por quase um mês, entre os dias 21 de maio a 17 de junho de 2014, os ativistas do movimento se instalaram no terreno onde as empreiteiras que formavam o consórcio (construtoras Moura Dubeux, Ara e Queiroz Galvão) tinham projetos para residenciais de luxo e prédios comerciais. Enquanto durou a ocupação, várias barracas foram instaladas no terreno e ocorreram protestos, intervenções e debates para chamar a atenção da população e das autoridades sobre a importância de preservar a área e compensar o desenvolvimento urbano da cidade.

Ivan Moraes registrou a presença in memorian de Leonardo Cisneiros, ativista que morreu poucos anos depois do Movimento Ocupe Estelita. O vereador disse que “a luta do povo, com objetivo, compromisso e disposição, sempre vence. E a gente venceu”. O parlamentar observou ainda que o Movimento Ocupe Estelita nasceu no lugar que “é o berço da reforma urbana e do Prezeis”. Ele disse que a “ousadia que nós tivemos de sonhar com uma revolução, de transformar aquele lugar, não foi uma revolução que se acabou, um sonho que se desperdiçou”. Reafirmou que “continuamos nessa luta” e garantiu que houve avanços sociais desde a realização do movimento, apesar de não ser, ainda, o ideal.

O vereador acha que muitos movimentos sociais e urbanos ganharam novo impulso, no Recife, a partir do Ocupe Estelita. “Nós avançamos, inclusive no que deveria ser naquele Cais. Aprovamos aqui na Câmara a criação do Parque da Resistência Leonardo Cisneiros. Até nisso temos que ser teimosos”, disse. O parlamentar lembrou que, ironicamente, hoje, os ativistas se reuniram dentro do plenário da Câmara onde foram impedidos de entrar e cuja solenidade foi conduzida por duas pessoas (ele e a vereadora Liana Cirne) que estavam à frente da ocupação.

Após o discurso, um vídeo que rememorou a história da ocupação, narrado pelo vereador Ivan Moraes, foi apresentado no telão do plenário da Câmara do Recife. Na sequência, Ingá Patriota ocupou a tribuna e fez as suas colocações. “É um desafio estar aqui hoje. A memória do Estelita mexe com a política da cidade, mas também com nossas memórias afetivas das experiências compartilhadas naquele cais”, disse. Ela lembrou dos protestos, das mobilizações e disse que “essa peitica se inscreveu na memória desta cidade”.  Ela também disse que, atualmente, muitas pessoas se perguntam: “O que o Movimento Estelita conseguiu?”.

Ingá Patriota afirmou que, anos após as mobilizações, ocorreram várias pequenas vitórias como consequência do Movimento Ocupe Estelita. E citou “as 200 unidades de habitação que serão construídas no raio do parque José Estelita, a construção do Parque da Resistência, a diminuição no valor de apartamentos na região, entre outras”. Mas, Ingá Patriota entende ainda que houve ganhos políticos. “Houve vitórias sobretudo afetivas e políticas que ressoam em cada luta da cidade hoje. A vitória do Estelita ressoa em várias lutas, até na Vila Esperança”, observou. Ela acrescentou que “pensar vitórias e derrotas não cabe para a gente; aquilo que o movimento de ocupação nos deixou não consegue mais ser apagado da história do Recife”.

No final, os músicos Una Martins e Joanatas Onofre fizeram uma apresentação. A vereadora Liana Cirne fez uma avaliação da reunião solene que presidiu e lembrou que na época do movimento, tanto ela quanto o vereador Ivan Moraes, que ainda não eram vereadores, foram impedidos de entrar na Câmara do Recife. E hoje, realizam reunião solene em homenagem ao mesmo movimento. “O Movimento Ocupe Estelita tem uma força indelével. É impossível que essa história não seja contada quando falamos do Recife”. A vereadora disse ainda que o Ocupe Estelita virou referência nacional e afirmou que “nós entramos para a história contemporânea da cidade”. Liana Cirne convidou os presentes para acompanhar o Hino da Cidade do Recife.

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Em 21.05.2024.