Semana Municipal de Enfrentamento ao Racismo Marta Almeida é debatida em reunião pública

Na tarde desta segunda-feira (13), uma reunião pública foi realizada, no plenarinho, para tratar da Semana Municipal de Enfrentamento ao Racismo Marta Almeida, numa iniciativa do vereador Luiz Eustáquio (PSB). Marta Almeida foi uma educadora e coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) em Pernambuco, que morreu no dia 13 de setembro de 2023, aos 44 anos, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). A Semana foi inserida no Calendário Oficial do Recife e ocorrerá anualmente em setembro no período que compreende o dia 13.

“Essa lei vem exatamente para que tenhamos uma semana em que trataremos a igualdade racial. A Câmara Municipal do Recife tem muitas leis e uma lei só sai do papel quando a gente toma posse dela, coloca debaixo do braço e começa a trabalhar.  Essa luta tem que ser uma luta conjunta. E quando eu pensei em quem homenagear a Semana, veio à mente uma pessoa maravilhosa: Marta Almeida. Para mim, uma amiga querida e guerreira. Sentimos muita a falta dela”, disse Luiz Eustáquio.  

O parlamentar pontuou que ainda existem barreiras na sociedade e citou as dificuldades encontradas nas periferias. “A porta do emprego maior na periferia é, infelizmente, a porta dada pelo tráfico de drogas que os governos não chegam lá. E sabe quem está lá na periferia? Nós. Somos nós que estamos lá e é por isso que, rapidamente, muitos de nós somos mortos e muitos vão para a cadeia. É muito fácil falar em honestidade e seriedade morando num bom prédio, educação de primeira linha e com tudo de bom e do melhor. Mas, na hora da fome, na hora do nada que alguém me oferece alguma coisa para você levar ali ou acolá, de repente você está na cadeia ou levou um tiro. Vejo isso pela experiência de ter vivido dentro da favela de Santo Amaro quando criança e isso aconteceu nas nossas vidas. Eu costumo dizer aqui que eu tinha tudo para não dar certo”.

Vera Baroni, advogada, sanitarista, ativista pelos direitos humanos e feminista negra, disse que existem muitas lutas e que elas precisam sair da invisibilidade. Ela também pontuou o papel do Legislativo. “Nós estamos em muitas lutas. É importante esse momento porque fica registrado nos anais da Casa. Tirar da inviabilidade a luta negra, suas diferentes formas de manifestação e os poderes da República têm uma responsabilidade muito grande. Especialmente o Legislativo porque ele tem a responsabilidade não só de fazer as leis, mas de fiscalizá-las, além de fiscalizar o Executivo para a sua efetivação. O dia 13 de maio, infelizmente, está ligado a dois pressupostos racistas: a concepção da própria lei da Abolição onde os negros foram tratados como ‘coisa’, sem consideração alguma e o segundo é a concepção de que o Brasil é uma democracia racial. O nosso dia é 20 de novembro, data em que Zumbi dos Palmares foi assassinado”.

Jean Pierre, representante do Movimento Negro Unificado (MNU), enalteceu que era preciso estar juntos e irmanados. “Importante estarmos unidos nessa luta e em outras pautas também. Uma gratidão à Marta Almeida por tudo que ela fez pela entidade e nós vamos continuar o trabalho coletivamente. No MNU a gente não faz nada só. É construção e coletividade. O Movimento Negro Unificado estará sempre à disposição e sempre será um parceiro”.  

Iacelys Maria Santana de Carvalho, representando Sindsprev e integrante do Coletivo de Igualdade Racial do Recife, enalteceu a iniciativa do vereador Luiz Eustáquio e explicou o trabalho realizado no Sindicato. “É assim que se inicia a nossa luta. Se temos essa Lei, vamos dar valor e começar a nos entender por meio dela aqui, dentro da Casa. É uma iniciativa muito importante para todos nós que somos sindicalistas porque a nossa luta já vem dos nossos ancestrais, historiadores e a gente tem que fazer a nossa parte. Dentro do nosso combate ao racismo, nossas reuniões de discussão são muito importantes porque percebe-se que a nossa periferia precisa ir à luta e fazer o papel de cidadão. O Sindicato construiu uma comissão formada por um grupo de diretores e participamos de muitos conhecimentos”.

Martihene Oliveira, integrante do Coletivo Sargento Perifa, disse que era preciso pedir fortalecimento principalmente para quem está dentro dos territórios falando de racismo.  “Quem está fazendo isso, infelizmente, ainda não é o Estado mesmo com todas as secretarias que se tem. A gente ainda não tem uma prática eficiente. Eu represento mais de 70 iniciativas do mapa da mídia popular de Pernambuco. Todas elas falam de racismo. É claro que a gente tem iniciativas em quilombos, em comunidades indígenas, mas a gente tem uma grande parcela nas periferias do Recife. E essas iniciativas sobrevivem por conta própria, não por conta do Estado. A gente está fazendo o que o Estado deveria fazer”.

Gilson Gonzaga, secretário de Igualdade Racial da Central Única dos Trabalhadores (CUT), frisou que era necessário compreender que a classe trabalhadora negra rompeu as leis muitas vezes. “Se não fosse por romper as leis, nós não estaríamos ocupando os espaços geográficos que hoje nós ocupamos. A nossa gente ocupa espaços que não foram feitos para ser ocupados. Nós vivemos em territórios que foram feitos apenas para quando os ricos, os capitalistas e os brancos acharem que devem ser utilizados. Nós sofremos todas as contradições de uma classe branca e não nos apercebemos do quanto ela interage para nos sufocar, humilhar e maltratar, inclusive com tortura. Dentro desses aspectos, precisamos chamar atenção de nós mesmos para que juntos criemos, politicamente, as condições de se romper certas questões que são impostas para a gente”.    

Representando a OAB, Manuela Alves disse que é essencial a reparação e que existem fundamentos para continuar pedindo o combate ao racismo nas escolas e nos espaços públicos.  “O combate ao racismo, em vários lugares, é direito nosso. Hoje não é dia de abolição, mas todos os dias são dias da gente gritar por reparação. Enquanto esse país não enfrentar sua obrigação de reparação com a população negra, a gente não vai chegar à democracia racial no Brasil. Nossa missão é a de se levantar e fazer a diferença e, se for necessário, estaremos juntos todo o tempo. Contem com a OAB Pernambuco, com a advocacia negra para estar pensando essa Semana. Enquanto a gente tiver um preto, em algum lugar, é nossa luta em todos os lugares”.

Karina Oliveira, da Gerência de Igualdade Racial da Prefeitura do Recife, frisou que a construção de ações é valorosa. “Resolver demandas, que são históricas, eu não vou conseguir. Tenho isso muito claro. Mas, nesse período, eu posso tentar fazer e construir diferente. E essa construção é ter a sensibilidade de olhar e ouvir, num espaço como esse. Porque é a partir do que eu escuto e o de que vocês me trazem que a gente pode sentar e fazer diferente. A porta da Gerência está aberta e queremos fazer parte da formação da Semana Municipal de Enfrentamento ao Racismo Marta Almeida”.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 13.05.2024