Luiz Eustáquio comenta prisão de torcedores por crime de racismo
Os três torcedores atacaram o jogador Vinicius Júnior com insultos racista no estádio Mestalla, em maio do ano passado, durante uma partida entre o Valência e o Real Madrid, time no qual o jogador brasileiro atua. “Eu não posso impedir que ninguém seja racista, mas queria que ninguém fosse. No entanto, as pessoas precisam entender que cometer o crime de racismo tem consequência. O jogador Vini Jr. comemorou a detenção e disse ‘não pense que eu sou vítima de racismo, eu sou algoz de racista’. É isso, algoz de racistas”, destacou.
Para o parlamentar, a atitude de Vinicius Júnior em denunciar os torcedores foi relevante, sobretudo levando em consideração o papel representativo que ele ocupa na sociedade. “Um homem que chega na posição em que ele chegou e tem o compromisso que ele tem, assim como Lewis Hamilton, precisam ser espelho para a sociedade. Homens como Martin Luther King que deu a vida lutando pelo direito civil e entregou a vida dele para que o povo negro fosse respeitado nos Estados Unidos. São homens como esses que me inspiram a continuar lutando e defendendo o nosso direito”.
Luiz Eustáquio informou que solicitará à governadora Raquel Lyra a criação de uma delegacia específica. “Já tenho pedido para a governadora do Estado e vou fazer um ofício ainda essa semana para que faça uma delegacia para punir crime de racismo. O que temos aqui não é uma delegacia, é um puxadinho dentro da Defesa Social. Da última vez que um professor sofreu crime de racismo em Olinda, ele passou oito horas para a polícia chegar lá e atendê-lo, para que realizasse a denúncia”, afirmou.
O vereador aproveitou a ocasião para dizer que discorda da construção de um habitacional em um campo de várzea do bairro de Santo Amaro, área central do Recife. Na semana passada, o governo do Estado anunciou a construção do habitacional no terreno da antiga vice-governadoria, na avenida Cruz Cabugá, no entanto, segundo o parlamentar, moradores de Santo Amaro foram surpreendidos com obras no chamado Campo do DER, que fica ao lado do Mercado Público.
Ele defendeu a importância da manutenção de áreas de lazer na cidade. “Eu sou do bairro de Santo Amaro e lá a gente tem lutado para que mantenha as áreas de lazer. Aquele campo que fica no terreno do DER é muito importante para aquela área que, inclusive, foi transformada em Zeis [Zonas Especiais de Interesse Social] e não pode fazer outras construções. Já falaram que aquele terreno seria vendido para imobiliária, não apenas para habitacional, e é algo muito sério que precisamos investigar”.
Grande expediente- O tema do racismo foi retomado no grande expediente da reunião plenária, realizada nesta terça-feira, pelo vereador Luiz Eustáquio. Ele voltou a falar no caso do jogador Vinícius Júnior. “Três homens brancos que desrespeitaram o jogador Vinícius Júnior e esses homens acharam que não seriam impunes, mas o Vinícius Júnior entrou com uma ação. Muita gente dizendo que não adiantava nada, dizendo para ele que não que não devia se importar, que deveria só jogar bola. E na hora que saiu a condenação ele falou algo muito importante. Ele disse que essas pessoas que tiveram essa condenação não era só por ele, mas era por todos os pretos e pretas do mundo. As pessoas têm que entender que é preciso respeitar o próximo. Racista para mim é uma pessoa doente, que não respeita o próximo e desrespeita a pessoa pela cor da pele”.
O parlamentar disse, emocionado, que muitos não aceitam a ascensão do negro na sociedade e voltou a falar sobre a necessidade da criação de uma delegacia para combater o racismo. “Por que essas pessoas fizeram isso para atacar um grande jogador? Porque não podem aceitar que um homem negro brilhe. Para eles é um absurdo um homem negro brilhar. Eu gostaria de aproveitar aqui e fazer um pedido. É lei que tenha uma delegacia, do mesmo jeito que a Delegacia da Mulher, para a questão de crimes raciais. Isso poderia já ter sido feito, mas não fez até agora. Hoje é um anexo dentro da Secretaria de Defesa Social (SDS) que trata de muitos assuntos e também do racismo. O racismo é algo Sério. Pelo povo negro, eu vou fazer um ofício pedindo à governadora Raquel Lyra e para a vice-governadora, Priscila Krause, e eu peço para o líder da oposição também ajudar no encaminhamento desse pedido. Seria um ganho muito grande para o povo negro e importante para a sociedade pernambucana”.
No aparte, Liana Cirne (PT) ressaltou que é preciso rigor na justiça para punir os racistas. “Quero parabenizar pela fala e Vinícius Júnior é um dos melhores jogadores do mundo. O que Vini Jr. fez foi uma lição e vai mudar a percepção do racismo no mundo. Eu sou autora de um texto produzido há mais de 20 anos, fruto de um projeto de iniciação científica chamado Racismo Institucional no Judiciário em que eu pesquisei as condutas dos magistrados e das magistradas em relação à desqualificação do crime de racismo para o crime de injúria racial. Nós avançamos um pouco em relação a esse tema, mas enquanto nós tivermos a desqualificação do crime de racismo para o crime de injúria racial, o racismo seguirá impune no Brasil. Nós, ainda hoje, não encontramos aplicação adequada da legislação e temos raros casos de condenação à pena de prisão por crime de racismo”.
Natália de Menudo (PSB) também parabenizou o discurso de Luiz Eustáquio e criticou as atitudes de pessoas racistas. “Ouvindo o seu pronunciamento, por muitas vezes passou em minha mente o que se passa na cabeça de um racista, de achar é melhor do que a outra apenas por causa da cor. E aí entra a falta de empatia porque o racista vai muito além. Ele cria um ódio pela outra pessoa. Nas lutas contra o racismo, só quem sabe é quem passa e sente na pele a dificuldade. Como a vereadora Liana Cirne falou, a impunidade não pode prevalecer. Essas pessoas não podem ficar impunes, destilar ódio e ficar por isso mesmo. Você entra nas redes sociais hoje em dia, vai ler comentários e é estarrecedor. Eu estou aqui para colaborar. A política precisa se unir para continuar lutando contra o racismo e que essa impunidade não venha a prevalecer”.
Ana Lúcia (Republicanos) lamentou que em pleno século XXI ainda existam crimes de racismo e enalteceu o poder da educação. “Nós ainda temos que subir à tribuna para comemorar, e é importante isso, a condenação de três racistas contra um jogador de futebol. Ainda temos que combater o racismo que é estrutural e quando um homem negro chega em determinadas posições é preciso que ele seja como você [Eustáquio]. O racismo é perverso. Como professora, nós ensinamos às nossas crianças a não serem racistas. As crianças brincam, se amam, se respeitam, repartem o lanche e aprendem. O papel que Vini Jr assume é importantíssimo porque ele é um jogador famoso e tem mesmo que reverberar para combater o racismo. Como ele mesmo disse, ele é o algoz [dos racistas] e a gente precisa combater, criminalizar e denunciar as pessoas que precisam aprender a respeitar os outros”.
Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.
Em 11.06.2024