Reunião pública discute pontos turísticos abandonados do Recife
A parlamentar disse que a ideia de promover o debate, além de considerar a sua ligação com a cidade, deve-se ao fato de ter recebido muitos comentários “no sentido que a nossa cidade precisa ter um programa de turismo que contemple as tantas iniciativas”. Liana Cirne destacou que o Recife possui riquezas naturais, história riquíssima, patrimônio arquitetônico e histórico de grande valor artístico e cultural, que muitas cidades não têm.
“Nós temos uma história de influência africana muito relevante, com pontos de turismo muito relevantes”, afirmou. “Nós temos um circuito natural do Recife assombrado, um circuito muito precioso de igrejas, um circuito potencial de cicloturismo, temos um potencial gigante para o afroturismo”.
Ela falou sobre ações de revitalização realizadas pela Prefeitura como o Parque de Esculturas de Brennand, a Praça Maciel Pinheiro, a casa de Clarice Lispector. Mas lembrou da necessidade de se avançar no turismo para pessoas com deficiência, na intenção de “tornar o Recife uma cidade inclusiva”. Disse, ainda, que é preciso que espaços públicos, não sejam privatizados, mesmo que temporariamente. Lembrou que no início do mandato apresentou um conjunto de 46 requerimentos destinados à rua da Aurora, solicitando por exemplo, iluminação cênica para a via..
Após as explanações iniciais, foi a vez de Amparo Araújo, fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais e integrante do Comitê do Direito à Memória e à Justiça, tecer suas considerações sobre locais de memória do Recife. Ela contou que quando esteve à frente da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Cidadã, promoveu uma pesquisa sobre os locais de memória do Recife.
“Naquela época e desde antes, nós identificamos a Cruz do Patrão como um local muito emblemático – porque ali foi um local de tortura, ali é um cemitério”, contou. “Se a gente quer resgatar uma memória e criar uma identidade nesse país, a gente tem que começar pela resistência dos povos originários e pela resistência dos negros que foram sequestrados na África e vieram para cá obrigados”. Lamentou, no entanto, que a Cruz do Patrão esteja abandonada. Sugeriu a criação de um jardim ou de parque temático no local.
A Cruz do Patrão também foi abordada pela coordenadora da Rede das Mulheres de Terreiro, Vera Baroni. "Existe um projeto elaborado pela URB [Autarquia de Urbanização do Recife] com relação à Cruz do Patrão e eu tive acesso a ele, em 2002, quando trabalhei na Secretaria de Assuntos Jurídicos. Ele está arquivado, talvez seja algo que possa ser resgatado".
O abandono, a sujeira e a falta de segurança foram os problemas elencados por Karla Suzarte, que trabalha com agência de turismo. Ela relatou uma série de problemas em locais como a Capela Dourada, o Gabinete Português de Leitura, o Arquivo Público, a Casa da Cultura, a Praça de Boa Viagem. Disse já ter presenciado assaltos em vários locais. Também chamou a atenção para a sujeira nos rios que cortam a cidade.
O professor de História, Mardilson Alencar, destacou a situação das ruínas do Forte de Santo Antônio do Buraco, que ficam no antigo istmo do Recife, próximo à Praia Del Chipre. Contou que é uma área bonita, com grande potencial turístico, porém de difícil acesso, tomada pelo lixo e vegetação. Segundo o professor, o Forte foi implodido pela Marinha para construção de um estaleiro que não se concretizou. Restaram apenas as ruínas da antiga fortaleza. Além dos cuidados com o local, ele sugeriu medidas como a iluminação cênica para as torres das Igrejas e a manutenção das pontes da cidade.
O afroturismo foi o tema abordado pela guia de turismo Niete Cordeiro, da Odara Afro Tour. Ela explicou que o projeto surgiu há pouco tempo na capital pernambucana e vem buscando superar as diversidades. Segundo ela, o Circuito do Recife Sagrado cita apenas igrejas católicas. "No guia turístico que temos acesso, o único terreiro citado é o de Pai Adão. Fora isso, não tem nenhum outro”. Falou da necessidade de se criar um guia que faça indicação de lugares de memória afro, com restaurantes afro. Aproveitou para sugerir que modificações na movimentação de veículos no Pátio do Terço, sobretudo em dias de eventos.
Outra guia de turismo da Odara Afro Tour, Cintia Neves, propôs a criação do turismo afro para que o Recife seja "a primeira cidade do Brasil a ter um circuito de turismo decolonial" - termo que pode ser compreendido como uma "contraposição à 'colonialidade'”. Ela também falou do Pátio do Terço, sua importância para pessoas de religião de matriz africana. “A gente chama de encruzilhada, mas e não tem essas questões exploradas no turismo”, lamentou.
Respostas aos questionamentos - O secretário Executivo de Lazer, Planejamento e Gestão, Thiago Angelus, também participou da reunião pública e disse que além de apresentar ações da pasta, estava presente para escutar as demandas “que enriquecem e contribuem para aperfeiçoamento da gestão”. Ele tratou de responder aos pontos que foram abordados,
Sobre a Cruz do Patrão, lembrou que a área pertence à União, quem faz a gestão é o Porto do Recife e que, para uma intervenção, é necessária uma construção conjunta com vários órgãos, como o Iphan, por exemplo. Também disse que fará uma busca no projeto da URB que foi citado.
A respeito da falta de segurança em pontos turísticos do Recife, ele ressaltou que há um esforço que vem sendo feito com a secretaria de Segurança Cidadã, com instalação de pontos da Guarda Municipal e rondas turísticas. Também citou que há um importante papel que cabe à Policia Militar do Estado de Pernambuco. Sobre a sujeira nos pontos turísticos, disse que os pontos que foram reclamados serão encaminhados para a Emlurb (Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife).
No centro do Recife, afirmou secretário Executivo, há o "Viva Guararapes" que é um projeto itinerante, que vem levando ações para as ruas, além de serviços, lazer, atrações culturais e musicais – que atraem muitas pessoas. Na Praça de Boa Viagem, há o evento "Pracinha Cultural" ganhou mais um dia na semana, além de opções de frevo e outros ritmos com apresentação de artistas pernambucanos. Neste período Junino estão ocorrendo festejos da época no local.
Ele disse que será feita uma visita técnica às ruínas do Forte de Santo Antônio do Buraco para que sejam elencadas as ações que possam ser efetuadas naquele espaço. Também solicitará uma atualização no guia que divulga o Circuito Sagrado para inserção de locais que foram reclamados durante a reunião. Sobre o turismo afro, afirmou ser um assunto importante e que marcará reunião para tratar com mais profundidade do assunto, além de discutir questões de infraestrutura, logística entre outros pontos.
Já o gerente de Inovação e Roteiros Turísticos, Bráulio Moura chamou a atenção para o projeto “Olha! Recife” oferecido para que o recifense, “seja turista na própria cidade. Para que conheça o seu patrimônio, sua identidade e a sua cidade”. Salientou que o projeto começou com cerca de 30 roteiros de ônibus e hoje são 330 roteiros, são mais de 300 temas, distribuídos em roteiros a pé, de bicicleta, de ônibus e de catamarã e que não se repetem durante o ano, inclusive abrangendo o universo afro da cidade. “Hoje, o Recife está dentro de um programa de promoção internacional da Embratur de afroturismo, são três cidades contempladas no Brasil: Recife, Salvador e Rio de Janeiro”.
Ao final da reunião, a vereadora Liana Cirne disse que todos os pontos abordados serão relacionados em um documento para ser entregue à gestão. Ressaltou ainda que o seu mandato acompanhará a reunião a ser marcada em breve com a Secretaria Executiva de Lazer, Planejamento e Gestão. bem como a visita técnica às ruínas do Forte de Santo Antônio do Buraco.
Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.
Em 20.06.2024