Terreiro de Mãe Amara é homenageado em reunião solene
Durante a solenidade vários terreiros foram homenageados, com a distribuição de certificados. A solenidade foi presidida pela vereadora Elaine Cristina (PSOL), que compôs a mesa solene com a vereadora autora da proposição; Luciene Mattos, a Iyabasse Vera Baroni, e a Iyalaxé Olefun Helaynne Sampaio, todas do Terreiro de Mãe Amara; Mãe Laine, do Ilê Axé Oyá Igbalé Funan; o Pai Ivo, de Xambá. O terreiro homenageado, de Mãe Amara, foi fundado em 1945 sob a liderança da Ìyálorixá Amara Mendes, considerada "uma mulher de grande sabedoria, uma líder espiritual, e uma matriarca que exerceu uma influência significativa na Rede das Mulheres de Terreiros de Pernambuco".
Antes do discurso da vereadora Cida Pedrosa, foi feita uma louvação aos orixás com um xirê de abertura (ritual de homenagem) com o babalorixá Juninho de Oxaguian, bisneto de Pai Adão, do Ilê Oyn Osun. Em seguida, a parlamentar ocupou a tribuna e fez suas colocações. Ela começou explicando que o babalorixá começou cantando, pedindo paz para a humanidade. “É disso que todos nós precisamos”. Ela fez uma saudação a todas as mulheres ancestrais e também as mais jovens.
“É uma alegria imensa tê-los e tê-las neste plenário. Um dos primeiros objetivos do nosso mandato é ocupar a Câmara do Recife com pessoas que foram historicamente vulnerabilizadas, abrir o parlamento para a cultura, criar frestas neste sistema capitalista que insiste em oprimir. Ver esta Casa Legislativa coberta por pessoas do axé é um alento e uma forma de dizer que este espaço também pertence a vocês. Sejam bem-vindos. Realizar esta homenagem aos terreiros, em especial ao Ilê Obá Aganjú Okoloyá, de Mãe Amara, é reafirmar a importância desses espaços sagrados e os seus papéis fundamentais na cultura e na identidade nacional”.
Ela lembrou que ontem foram vistas cenas absurdas no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife, quando o Ilê Axé Oyá Igbalé Funan teve um espaço de convivência depredado por um homem. “Crimes como estes não podem mais ser tolerados. Ao depredar aquele espaço de convivência, aquele homem demonstrou o quanto o Brasil ainda está adoecido e o quanto o fascismo ainda nos ronda”. Ela lembrou que o seu mandato produziu um projeto de lei, que proíbe a contratação de pessoas que tenham cometido crimes de racismo ou de injúria religiosa. “Mas Mãe Laine, quero dizer que o nosso mandato seguirá atento e vamos acompanhar o caso até que a pessoa que cometeu o crime seja condenada”. A vereadora defendeu que as religiões caminhem juntas pela construção da paz, o direito e a liberdade de cada pessoas escolher a sua religião e de exercer a sua religiosidade.
Cida Pedrosa também defendeu o país laico, com uma sociedade igualitária, livre de todas as formas de opressão. Na justificativa da solenidade, ela disse que se tratava de “um ato de reconhecimento e celebração das contribuições do Terreiro de Mãe Amara para a nossa comunidade. É uma oportunidade para honrar a memória de Mãe Amara, o trabalho de Mãe Helena e celebrar a vitalidade do Ilê Obá Aganjú Okoloyá e reforçar nosso compromisso com a valorização e preservação das tradições culturais afro-brasileiras”.
O Terreiro Ilê Obá Aganjú Okoloyá, também conhecido como Xangô de Mãe Amara, de acordo com a parlamentar, “é um espaço sagrado conduzido, pelo amor, fé e dedicação integral de mulheres do axé”. A devoção ao orixá Xangô, patrono da comunidade, reflete a profundidade e a riqueza espiritual que o terreiro representa para seus seguidores e para a cultura afro-brasileira.
Ainda de acordo com a justificativa da vereadora, o terreiro tem uma ligação fundamental com o Afoxé Oyá Alaxé, uma expressão cultural e religiosa que fortalece ainda mais a presença e a visibilidade das tradições africanas no Recife. Fundado em 10 de abril de 2004, quando Mãe Maria Helena Sampaio era Yakekerê do Ilê, o Afoxé Oyá Alaxé é um exemplo vivo da continuidade e vitalidade das práticas culturais e religiosas oriundas do terreiro.
Após o discurso, Cida Pedrosa fez a entrega da placa e dos certificados aos homenageados. A lista completa está publicada abaixo. Na sequência, um vídeo foi exibido no telão do plenário da Câmara Municipal do Recife, com a história do Ilê Obá Aganjú Okoloyá, fundado em 18 de julho de 1945, no bairro de Dois Unidos, Zona Norte, pela ialorixá Amara Mendes e o babalorixá Toni Barreto. Funciona no bairro até hoje.
Luciene Mattos, do Terreiro Mãe Amara, foi convidada a fazer discurso. “Sou muito grata por este plenário estar repleto. Estou muito emocionada. A ancestralidade se faz presente hoje aqui, com gente de tantos terreiros. Estamos fazendo história na cidade do Recife e em Pernambuco. Esta é a segunda vez que esta Casa legislativa é ocupada pelo povo terreiro, desde que ela foi criada, em 1710. Estamos ocupando para nunca mais sair. Fazemos o nosso caminho de volta. Estamos felizes de estarmos aqui com nossas roupas, essências, nossos tambores. A nossa cultura é base e fortaleza, mas esse espaço de fala é nosso e precisamos ocupá-lo”.
Ao final, a vereadora Elaine Cristina, que presidiu a reunião solene, fez suas colocações, e convidou a todos os presentes para que, em posição de respeito, pudessem ouvir e acompanhar o Hino da Cidade do Recife.
Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.
Lista dos homenageados:
Com uma placa:
1- ILÊ OBÁ AGANJÚ OKOLOYÁ - TRADIÇÃO NAGÔ – 1945
Com certificados:
1. ILÊ OBA ÒGÚNTÉ - SÍTIO DE PAI ADÃO - TERREIRO NAGÔ - 1875 - Babalorixá - Manoel Papai
2. ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA AFRICANA SANTA BÁRBARA - NAÇÃO XAMBÁ – 1930 - Babalorixá: Pai Ivo de Xambá.
3. ILÉ OMÔ IFÉ ASÉ OMI OLÁ - TERREIRO KETU- 1950- Babalorixá: Junior de logunedé
4. ILÊ AXÉ OYÁ BERY/CENTRO ESPÍRITA PAI CANINDÉ TRADIÇÃO KETU - 1970 - Ialorixá: Eugênia Freitas
5. ILÊ AXÉ OXUM IPONDÁ ATAWEJÁ E AYRÁ IGBONAN TRADIÇÃO NAGÔ - 1981- Ialorixá: Mãe Claudia de Oxum
6. ILÊ NAGÔ BABÁ UFÃ YÁ ÒRÚNMÍLA - TRADIÇÃO NAGÔ - 1991 Babalorixá: Quinho T´oxalá e a Ialorixá: Ju D´oxum
7. ILÊ OYN OSUN - TRADIÇÃO NAGÔ - Babalorixá: Pai Juninho de Orixalá-1995
8. ILÊ AXÉ OMI SABÁ-CASA DAS ÁGUAS- TRADIÇÃO JEJE EBÁ-2000 Babalorixá: Vitor de Iemanjá Saba
9. ILÊ AXÉ ILÚ TAPA- TRADIÇÃO NAGÔ e JEJE - 2001- Babalorixás: Pai Marcílio de Obaluayê, Pai Beto de Xangô e Mãe Madza de Oxum
10. ILÉ ÁSÉ ÌYÁ OMI ORUN- AXÉ CONGONHAL- TERREIRO JEJE-NAGÔ 2008 - Babalorixá: Neto de Osa e a Ialaxé Valmira de Oxum
11. ILÊ AXÊ IBUALAMA- TRADIÇÃO KETU - 2002 - Babalorixá: Odé Genã de Oxossi
12. ILÊ AXÉ OXUM AJEMUN- TRADIÇÃO NAGÔ - 2008 - Ialorixá: Jane de Oxum
13. ILÊ AXÉ OGIYAN- TRADIÇÃO KETU- 2022 Babalorixá: Alekinifá de ogiyan
14. ILÊ AXÉ OMIM ALAKETU- TRADIÇÂO KETU - Babalorixá: Bira de oxum; ialorixá.
15. TERREIRO DE IEMANJA OMIRERÉ - TENDA ESPÍRITA CABLOCO TUPINANGY
Em 04/07/2024.