Projeto de estudantes para Brasília Teimosa discutido em audiência pública

Um estudo de requalificação da orla de Brasília Teimosa, que propõe o aterro da bacia do Pina para a criação de um parque de lazer ao longo da faixa, além da construção de escola-restaurante e uma biblioteca, foi alvo de audiência pública na Câmara Municipal do Recife nesta segunda-feira, 3. A reunião partiu de uma iniciativa do vereador Wilton Brito (PHS) para quem a ideia, elaborada por alunos de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) pode “tornar mais bela a nossa cidade, além de criar mais um ponto turístico para o Recife”. Ele, porém, entede que a proposta necessitava de um debate com os moradores da comunidade.

Além dos alunos que realizaram o estudo, estiveram presentes os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE Circe Monteiro, Luiz Vieira e Roberto Montezuma, também coordenadores do projeto; a presidente do Instituto Pelópidas Silveira, Eveline Labanca; a gerente da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife, Zenaide Nunes e o coodenador geral do Prezeis, Bismarck Saraiva. Os alunos apresentaram o projeto, que contará como exercício acadêmico. Compareceram ainda os vereadores Eduardo Chera (PTN) e Jayme Asfora (PMDB).

Os moradores da comunidade reagiram assustados à proposta dos alunos, pois antes de o estudo ser apresentado a eles foi publicado pelos jornais. As pessoas ficaram com medo de o projeto de requalificação incluir a remoção de famílias de Brasília Teimosa, uma área de Zeis que se formou a partir da resistência de moradores. Mas, segundo esclarecimentos prestados durante a apresentação do estudo isso não vai acontecer. “Em vez de desapropriação, a comunidade vai ganhar mais terra”, explicou a professora Circe Monteiro. O parque, que vai da ponte do Pina até o final de Brasília Teimosa, tem cerca de 3 quilômetros de extensão, num local que hoje é o desnível do rio. Esse precisará ser aterrado para construção do parque, semelhante ao que ocorreu no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

O nome do projeto é exatamente esse: “Aterro de Brasília Teimosa” e foi elaborado no período de um ano pelos alunos da UFPE. Ele está previsto para ser um parque linear para passeios ciclísticos, centro comunitário, quadras esportivas, píer de pescadores, praças e requalificações de moradias próximas ao parque. Na área onde hoje funciona uma fábrica de lanche está prevista a construção de centro de arte para as manifestações culturais locais, apresentações de música, dança e capoeira, além de salão de eventos, da biblioteca e da escola de gastronomia exclusiva para jovens locais.

A presidente do Instituto Pelópidas Silveira, Eveline Labanca, achou que, apesar de o projeto ser apenas um exercício de formação dos alunos, ele é válido porque repensa a cidade. “E ele se apropria do terreno em favor da comunidade”, elogiou. A gerente da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife, Zenaide Nunes, ressaltou que a ideia do estudo é bonita porque “prepara Brasília Teimosa para o futuro, mas o que faltou foi a participação popular. É preciso respeitar os canais de participação, através de seus representantes”. Sem essa participação, a reação da comunidade, na audiência foi contra o estudo, fato que foi contestado pelo professor Roberto Montezuma. “Não se pode ver o estudo como proposta de inimigos, mas de parceiros. Ele é só o começo de um processo, pois propõe uma reflexão para a comunidade”, disse.

O coodenador geral do Prezeis, Bismarck Saraiva,  lamentou que o Recife não tem planejamento urbano e disse que os moradores de Brasília Teimosa preferem ‘manter suas características populares’, rejeitando claramente o projeto. O presidente do Conselho de Moradores, Wilson Lapa, reforçou que todos os projetos urbanísticos para a área “sempre trazem desapropriações”, embora os professores e alunos tenham dito que o objetivo é exatamente o contrário. “Queremos manter a população dentro do espaço e tirá-la da condição de vítimas da exploração imobiliária’, disse o professor Luiz Vieira. O estudo foi feito depois que os alunos constataram que o bairro de Boa Viagem vem sofrendo muitas intervenções a exemplo do Shopping Rio Mar e da Via Mangue e que Brasília Teimosa, que fica na entrada, segundo eles, não será a mesma nos próximos 30 anos.

“O objetivo da audiência pública foi discutir esse projeto, que apesar de bonito, precisa de um debate amplo. É preciso avaliar o seu real impacto social, econômicos e ambiental”, observou Wilton Brito. Jayme Asfora aplaudiu o estudo e a inicitiva dos alunos, que antes de elaborar o projeto, frequentaram Brasília Teimosa durante dois meses, ouvindo os moradores. Eduardo Chera, que também vê pontos positivos no projeto, solicitou uma audiência “mais longa e participativa dos alunos na comunidade”.

 

Em 03.06.2013, às 14h50.

registrado em: wilton brito