Comissão de Combate ao Coronavírus realiza reunião com autoridades médicas do Estado
A comissão, que funcionou no ano passado e foi reinstalada na Câmara Municipal do Recife há uma semana, reuniu o presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), Mário Lins; o presidente da Academia Pernambucana de Medicina (APM), Hildo Azevedo; o presidente da Associação Médica de Pernambuco (AMP), Bento Bezerra; e a presidente do Sindicato dos Médicos (Simepe), Cláudia Beatriz.
A reunião foi conduzida pelo vereador Eriberto Rafael (PP), presidente da Comissão Especial Interpartidária de Acompanhamento ao Coronavírus. Os convidados deram opiniões e informações sobre da crise sanitária que está ocorrendo e depois responderam a perguntas dos vereadores. Participaram do encontro, além de Eriberto Rafael, os vereadores Marco Aurélio Filho (PRTB) vice-presidente; Ivan Moraes (PSOL), Hélio Guabiraba (PSB) e Tadeu Calheiros (Podemos).
Os participantes reconheceram que há uma variante do vírus da covid-19 circulando no País, que já houve registros dele em Pernambuco e é preciso isolá-lo. O grande vilão do momento, para eles, é a superlotação de ônibus circulares e do metrô, sobretudo na hora de pico. Todos defenderam medidas de restrição social, como ficar em casa, manter o distanciamento, usar máscaras (duas) e a higienização das mãos. Disseram que é imperioso aumentar os números da vacinação, mas denunciaram que o imunizante não foi aplicado em todos os profissionais de saúde do Recife.
No momento em que os vereadores passaram a fazer questionamentos, Ivan Morais quis saber como as autoridades médicas avaliam as ações do poder público para combater a covid-19; e se os 11 dias de quarentena, que começaram hoje, são suficientes para ajudar no controle da doença. Para ele, os governos estadual e municipal deveriam dar condições de a população ficar em casa, com ajudas financeiras.
Tadeu Calheiros, que além de parlamentar é médico, criticou o desmonte de equipamentos usados no pico da covid-19, no ano passado. “Por que os hospitais de campanha não são reabertos?”, questionou. E denunciou que as policlínicas do Recife que oferecem tratamento para covid-19 não dispõem de todos os exames laboratoriais necessários para se detectar a doença. Segundo disse, elas também não têm a máquina para a realização da gasometria (um exame de sangue).
O vereador Marco Aurélio Filho ressaltou que o momento pede união de toda a sociedade para conter a propagação do vírus. “Do ponto de vista político, independentemente de ser governo ou oposição, não devemos usar o vírus como palanque político. Há um grave problema sanitário, e também econômico, que pedem o nosso emprenho”. Ele lembrou: “O Conecta Recife é um modelo inovador no plano de imunização”, disse.
Já o vereador Hélio Guabiraba convocou todos os presentes na reunião para lutarem contra o vírus. “Acho que todos nós devemos entrar de cabeça nessa luta, pois este é o momento de somar. Chegou a hora de as autoridades médicas e nós, políticos, nos unirmos para combater o inimigo em comum”. Ele aproveitou para elogiar o prefeito João Campos que “em dois meses já vacinou muitos recifenses”. A escassez de vacinas, lembrou, é da responsabilidade do Governo Federal e atinge todo o País.
O último a falar foi o vereador Eriberto Rafael. Ele quis saber quais as principais dificuldades da comunidade médica no Recife. O vereador, que reconhece o problema da superlotação do transporte público e o perigo que isso representa para a transmissão do vírus, sugeriu que, além do aumento da frota, pode ser mais eficaz a adoção de horários alternados de trabalho para o setor produtivo. Com isso, não haveria superlotações. A ideia do parlamentar foi aprovada pelas autoridades médicas.
Para o presidente do Cremepe, Mário Lins, a grande preocupação do momento é com a transmissão da carga viral, que em seu entender está muito acelerada. Ele apontou que faltam leitos nos hospitais e que, diante da grande quantidade de casos da doença que surgem por dia, “os médicos estão trabalhando exaustivamente”. Depois acrescentou: “Os médicos não estão exaustos. Estão destroçados”. Para Mário Lins, a vacinação em massa precisa ser urgente e prioritária, mas lamentou que apesar disso o País não tem os imunizantes. Ele preferiu não fazer críticas ao poder público. “Nesse momento de crise, é preciso ser parcimonioso e fazer julgamentos com isenção”.
O presidente da APM, Hildo Azevedo, disse que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido a arma de defesa da população brasileira nesta “batalha que atinge todos nós”. Azevedo disse ainda que não dá para se fazer projeções sobre até quando a pandemia se estenderá no Brasil e que há possibilidade de a covid-19 se tornar endêmica. O médico foi incisivo em dizer que é preciso respeitar os protocolos sanitários e acredita que o uso de apenas uma máscara é insuficiente para impedir a contaminação. “Precisamos de duas”.
O presidente da AMP, Bento Bezerra, leu um manifesto de 54 associações médicas especializadas, de todo o País, dizendo que não há remédio para uso pré-hospitalar que impeça o desenvolvimento da covid-19. Ele não recomenda o tratamento precoce. “As recomendações para se reduzir a circulação do vírus e diminuir a taxa de transmissão continuam sendo os protocolos sanitários conhecidos”. Afirmou categoricamente que o transporte público é hoje o grande vetor de transmissão da covid-19.
A presidente do Simepe, Cláudia Beatriz, disse que desde novembro de 2020, já se sabia que a curva de casos aumentaria neste ano. “Sabia-se, inclusive, que o problema poderia ser até maior do que o de 2020. Mas faltou planejamento e organização”. Ela afirmou que não existe uma solução “como forma milagrosa e salvadora para conter a pandemia. Por isso, vamos precisar de várias medidas emergenciais para minimizar a situação”. Foi ela quem denunciou que o pessoal médico da rede municipal não foi totalmente vacinado. “Muitos médicos jovens não foram contemplados com a vacinação”. Para ela, a quarentena não será suficiente “para dar conta da doença”.
Em 18.03.2021.