Mulheres abordam os impactos econômicos da pandemia

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o 8 de Março, a Comissão em Defesa dos Direitos da Mulher, presidida pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), realizou Reunião Pública Virtual sobre os impactos econômicos da pandemia na vida das mulheres. Para tanto, diversas convidadas falaram, na tarde desta terça-feira (09), por videoconferência, sobre diversos temas contemplando a questão econômica, que atinge mais as mulheres neste momento. Cada uma das convidadas fez discursos sobre um assunto de relevância apontando como as mulheres estão conseguindo passar pela pandemia, muitas delas sozinhas e sem condições econômicas.

A  vereadora Cida Pedrosa disse que estamos passando pela pior crise do país, com mais de 260 mil  mortes, e que as mulheres pobres têm de cuidar dos filhos e filhas, sem poder sair de casa. “A  fome esta crescente e todos os direitos conquistados estão sendo perdidos. Esta crise tem um mandante e é o capitão Bolsonaro.

A primeira a falar, Inaldete Pinheiro, convidada da Vereadora Cida Pedrosa, é  natural de Parnamirim, no Rio Grande do Norte, veio ao Recife aos 20 anos. Dedicou 40 anos de sua vida à enfermagem, além de ser uma das fundadoras do movimento negro em Pernambuco e escritora dedicada ao resgate da  ancestralidade do povo negro. Ela disse, em seu discurso, que na pandemia pôde ficar em casa, porque tem um salário que lhe garante o sustento, mas representa um número pequeno no universo de  mulheres negras, haja vista que a primeira mulher a morrer de covid-19, no Recife,  foi uma empregada doméstica negra.  

Lembrou, ainda, que outra  empregada doméstica perdeu o filho durante a pandemia, num caso de repercussão nacional Mirtes levou o pequeno Miguel para o trabalho e ele morreu ao cair do nono andar do prédio onde traballhava. "A  ela toda nossa força e conforto", disse Inaldete.  “Perda cruel. É um dos significados de como somos tratadas, estamos na batalha do cotidiano, as que têm filhos sozinhas e abandonadas, é o  machismo da sociedade na sua melhor essência”.  

Bianca Lacerda, convidada da vereadora Ana Lúcia (Republicanos), é empreendedora, mediadora, palestrante e membra da Academia Brasileira de Ciências Criminais. Também foi Secretária da Mulher em Ipojuca. Enalteceu o encontro afirmando que estava aprendendo muito com as falas e citou Simone de Beauvoir, quando diz que basta uma crise para que os direitos das mulheres sejam impactados. "Cerca de 35% dos postos de trabalho foram retirados e a maioria dos lares são de mulheres sozinhas, vítimas de violência doméstica, que tocam a vida sozinhas.  Faço parte do Comitê de Combate à  Violência contra a Mulher. São mulheres de todas as áreas que fazem trabalho de auxílio àquelas que sofrem violência" .

 A convidada de  Andreza Romero (PP), foi  Marcelle Moraes, vereadora de Salvador no seu segundo mandato, ativista e protetora animal. Atualmente também é membra da Comissão da Mulher e Procuradora da Mulher na Câmara Municipal de sua cidade. Ela ressaltou que os setores mais impactados foram o da beleza, da hotelaria, de bares e restaurantes. "Elas precisaram ficar em casa cuidando de seus parentes. Elas perderam seus empregos e são fortemente impactadas pela crise provocada pela pandemia, que acaba sendo econômica". Então,  exortou a todas as mulheres a "se unirem e caminharem de mãos dadas para vencer e mudar estados e municípios para chegar aonde almejamos”.

Já a convidada pela vereadora Dani Portela (PSOL) foi a professora Doutora Valdenice José Raimundo, doutora em Serviço Social pela UFPE, é professora e pró-reitora de Pesquisa, com pós-graduação e Inovação na UNICAP. Tem experiência na área de ensino, pesquisa e extensão, com ênfase nos direitos sociais, juventude, gênero, religião, movimentos sociais e questões étnicorraciais. Ela citou uma Conferência em Ohio nos anos 1800, que considerou as mulheres muito frágeis para tocar projetos. Fez indagações acerca do que as mulheres são capazes de fazer, sendo mulheres. 

Para Valdenide Raimundo, tanto tempo passou e as mulheres negras continuam sendo tratadas do mesmo jeito, ressaltou que  há um fosso enorme entre elas e a sociedade. Um fosso que aumenta com a pandemia. Ainda segundo ela,  as condições sociais e ambientais são as que mais afetam as populações negras e indígenas, mais expostas à pandemia. Negros e negras são mais hospitalizados e atingidos pelo coronavírus. " A crise só escancarou a diferença".

 Vera Baroni,  convidada da vereadora Liana Cirne (PT), é advogada sanitarista, ativista pelos direitos humanos e Iyabassé do Ilê Obá Aganjú Okoloyá. Ela saudou as presentes enaltecendo o momento de celebração do Dia da Mulher, com este honroso debate. Disse que, "se estamos aqui é porque mulheres no passado lutaram e foram presas em uma fábrica, sendo mortas. E é por elas que estamos falando hoje sobre esta luta, não podemos deixar de falar naquelas que vieram antes de nós para darmos continuidade a esta luta que vem de longe".

De acordo com ela, “esse momento pandêmico nos fala do quanto nós mulheres estamos sendo vitimadas na pandemia pelo desemprego, pela violência doméstica. Pernambuco é o terceiro estado em homicídios e feminicídios contra as mulheres”. Vera Baroni ressaltou ainda que "temos esperança de que esta nova leva de vereadores traga muitas possibilidades para fazer com que as mulheres participem mais do controle social e aprimoramento das políticas públicas".

Já a vereadora Michele Collins (PP), convidou Pollyanna Dias , natural de São Bento do Una (PE). Ela é fundadora e atual presidente da Amar - Aliança de Mães e Famílias Raras. Há um ano, também é Coordenadora do Comitê Estadual de Doenças Raras de Pernambuco. Ela frisou que as mulheres não têm condição de voltar ao mercado de trabalho em virtude dos cuidados necessários com um filho que tem uma doença rara. "As mulheres são cuidadoras 24 horas,  não encontram espaço e são abandonadas pelos companheiros.

Lamentou que “cerca de 79% das mulheres da  Amar, mais de 400, foram abandonadas por companheiros, não têm condição socioeconômica de buscar oportunidade e este é o momento  de mostrar como nós somos invisíveis e não somos vistas”. Ela acentuou que não tem como cuidar de uma criança 24 horas sem suporte. Nessa pandemia disseram a estas mulheres peguem suas crianças e fiquem em casa. Muito foi tirado delas e nenhuma ação foi criada para estas mulheres,  e muitas já se contaminaram com o vírus. “Parece que a  nossa voz não ecoa”.

Natalia de Menudo (PSB), convidou Camila Barros que é natural de São José de Mipibu, no Rio Grande do Norte. Ela  é feminista, ativista socioambiental, defensora ferrenha das políticas públicas de juventude, causas nas quais milita desde os 16 anos e que teve a oportunidade de contribuir no governo do Estado e do Município. Ela ressaltou que era muito simbólico ser convidada por uma mulher jovem que tem sua caminhada junto à juventude. Disse que ficou feliz em ouvir as vereadoras que fazem parte desta Comissão em Defesa dos Direitos da Mulher, "que nos representa e acalanta nossos corações".

Para ela, “a crise não criou novidades,  apenas aprofundou as questões estruturais existentes no país, escancarando as desigualdades de gênero e raça. Temos uma pedra em nosso caminho e nosso maior desafio é o presidente Bolsonaro, pois quanto mais avançamos, mais ele retrocede, precisamos estar muito mais juntas para que não retrocedamos”.

 

 Em 09.03.2021