Comissão Especial Interpartidária de Acompanhamento ao Coronavírus realiza reunião

A Comissão Especial Interpartidária de Acompanhamento ao Coronavírus, da Câmara Municipal do Recife, realizou reunião virtual na manhã desta quinta-feira (1) para ouvir opiniões de profissionais da área de saúde sobre a pandemia. “Cada convidado vai falar sobre este momento dramático que estamos vivemos, dar sugestões e fazer criticas para que possamos levar adiante, nesta comissão, em favor da cidade do Recife”, disse o vereador Eriberto Rafael (PP), presidente do colegiado.

Estiveram presentes a vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Bernadete Peres; o médico Rodrigo Diniz, integrante da Rede de Médicos e Médicas Populares; Ana Brito,  da Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia; Leonardo Gomes, coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu-Recife) e o diretor do Hospital Albert Einstein, médico-cientista João Bosco Oliveira, que está à frente dos estudos de novas cepas do cornavírus. Participaram, ainda, os vereadores Ivan Moraes (PSol), Tadeu Calheiros (Podemos), Hélio Guabiraba (PSB), Ana Lúcia (Republicanos) e Marco Aurélio Filho (PRTB).

A vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Bernadete Peres, disse que o enfrentamento da pandemia está se dando de forma intersetorial, devido à complexidade de doença. ”Estamos num contexto homogêneo no País, de precolapso e de colapso no sistema de saúde. Hoje, nós nos encontramos na forma mais grave de toda a pandemia. Mas a covid-19 é uma doença evitável, inclusive com medidas não farmacológicas”, alertou. Ela garantiu que a Associação Brasileira de Saúde Coletiva trabalhou um plano de enfretamento no âmbito clínico e de organização da rede de saúde, para dar bases científicas às gestões.

Esse plano, segundo ela, foi feito em nível nacional e, no caso de Pernambuco, já fooram entregues 10 cópias do documentos a diversos órgãos como Governo do Estado, Assembleia Legislativa e Ministério Público. Uma das abordagens do documento é o isolamento domiciliar. “Ele é muito difícil de se fazer numa sociedade desigual. E é preciso trabalhar isso como modos de existir e de habitar das populações”. Outro ponto abordado por ela foi a imunização.  “A vacina é a principal forma, mas a saída para esta pademia não é só a vacina. Por mais eficaz que ela seja, sozinha, ela não é a saída. Há um pano de fundo de desigualdade, do racismo estrutural, da pobreza e da fome, que precisam ser enfrentados e levados em consideração nesse momento”, alertou.

O coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências, Leonardo Gomes fez uma apresentação sobre o trabalho do Samu-Recife neste período da pandemia. “Em Pernambuco o Samu atende a 71 cidades e mais Fernando de Noronha. A forma de acessar é uma só: a população liga para o 192, que cuida de fazer o primeiro atendimento”, disse. Segundo ele, a experiência da pandemia observada em outros países é que serviu para incrementar o serviço no Recife. “Vimos como outros países agiram e isso serviu de base para nós nos prepararmos”.

Uma das prevenções foi aumentar os equipamentos técnicos e o número de profissionais que atendem no Samu.  “Foi assim que nós recebemos um incremento de cerca de 200 profissionais, reforço de mais de 30 ambulâncias, oito motocicletas, veículos de intervenção e de suporte”, disse. O Samu Recife atende, além da sede, mais 12 pontos descentralizados. “Também utilizamos escolas para dar apoio em outras áreas mais distantes, pois essa é uma doença que exige rápido atendimento”, disse.

A representante da Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia, médica Ana Brito, lembrou que o Samu teve uma origem no Recife, que inspirou o atual modelo nacional. Em seguida ela falou sobre as conclusões que os médicos-cientistas já acumulam sobre a covid-19 no Brasil. “Essa é uma doença evitável, na maior parte das vezes, assim como a mortalidade dela também é”, disse.

 A covid-19, segundo Ana Brito, não é de alta virulência, pois a capacidade de formar casos graves é menos do que cinco por cento. “Mas o grande problema dessa doença é que o vírus dela é de transmissão rápida e efetiva”, disse. Ana Brito explicou como se dá a reprodução do vírus e a formação de variantes e novas cepas. “Hoje, a transmissão está ocorrendo livremente porque as variantes estão circulando com facilidade e isso é de grande importância epidemiológica”.

O diretor do Hospital Albert Einstein, João Bosco Oliveira é um dos médicos-cientistas que participam dos estudos de novas cepas. Foi ele quem criou, no Recife, o Laboratório Genômica Einstein, e é conhecido como um dos primeiros cientistas a ajudar no diagnóstico de coronavírus , junto com o Lacen, em Pernambuco.  “Tivemos a primeira circulação do vírus no ano passado, que caiu bastante em até 60%. E a partir do inicio deste ano, os casos voltaram a subir”, lamentou. Ele afirmou que a principal forma de transmissão do vírus, hoje, tem ocorrido em ambientes fechados por tempo prolongado (salas com ar-condicionado, por exemplo). “Hoje, há menos foco do vírus em superfícies. No entanto, o vírus se propaga no ambiente fechado. Por isso, a limpeza de ar, o aerosol, é fundamental”, disse.

De acordo com João Bosco, é importante o monitoramento das novas cepas do vírus, mas isso está sendo feito muito lentamente no Brasil. Ele ressalotu que são as cepas  sul-africana, inglesa e brasileira que têm cargas virais mais altas e persistentes que as anteriormente existentes, e podem levar a alterações na forma de transmissão e aumentar a taxa de mortalidade. João Bosco alertou que o perfil de mutação do coronavírus  pode levar a uma perda de eficácia das vacinas.  “Por isso, defendo que seja preciso se fazer um trabalho constante, de monitoramento. Somente assim, poderemos saber qual o vírus que está circulando e o que está acontecendo em cada região do Estado”, afirmou.

O médico integrante da Rede de Médicos e Médicas Populares, Rodrigo Diniz, que trabalha na Saúde da Família do Recife, falou da visão dos movimentos sociais sobre o enfrentamento do coronavírus. “Nossa bandeira é vacinação para todos, defesa do SUS e o atendimento social do tipo auxílio financeiro emergencial para a população que precisa ficar em casa”, disse. Ele lembrou que Pernambuco, no primeiro momento de enfrentamento do coronavírus, ainda no ano passado, foi vanguarda quando os movimentos sociais se mobilizaram para lutar pelas medidas de isolamento e higiene junto à população, além das medidas de segurança e distanciamento social.

“Hoje, vivemos o pior momento da pandemia, ao mesmo tempo em que também são baixos os índices de vacinação”, disse. Rodrigo Diniz lembrou que o País se encontra, atualmente, na segunda semana epidemiológica de  com cerca de 40 mil casos diários e cerca de 3 mil mortos também diários. “Pernambuco apresenta números altos e são proporcionais aos do Brasil”, afirmou.

Ele contou que os movimentos sociais do Estado, no ano passado, se uniram (mulheres, ONGs, organizações do campo etc) e organizaram o “Mãos Solidárias”, sobretudo nas periferias, para evitar que as pessoas passassem fome na pandemia. “Fizemos bancos de alimentos para as populações. Os assentamentos do MST e de outras entidades do campo forneciam o alimento e nós fazíamos a distribuição”, afirmou. Tambem foi criado o “Agentes Populares de Saúde”, que tiveram formação com professores da Fiocruz e com professores de universidades, para interverir junto à população. “Passamos a fazer abordagens comunitárias, orientando a população sobre os casos de coronavírus”.

Rodrigo Diniz falou, ainda, dos erros cometidos pelos governos Federal, Estadual e Municipal. “O Governo Federal sempre foi negacionista e isso dificultou bastante o nosso serviço junto à população. Nós orientávamos, mas ele promovia as  aglomerações, o não-uso de máscaras”. Em Pernambuco, disse, por falta de medidas mais eficazes, houve falta de leitos de UTIs e dificuldades para os médicos conseguirem equipamentos de proteção individual. “Já no Recife a Atenção Primária acertou porque não atendeu aos casos de coronavirus. A atenção primária ficou restrita aos casos que não fossem de coronavirus”.


Em 01.04.2021.