Comissão do Coronavírus escuta profissionais de Educação Física e de Odontologia

Reconhecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como trabalhadores da área da saúde, os profissionais de Educação Física e de Odontologia foram ouvidos pela Comissão Especial Interpartidária de Acompanhamento ao Coronavírus da Câmara Municipal do Recife, em reunião virtual realizada na manhã desta quinta-feira (27). Os primeiros querem a essencialidade para toda a categoria ser incluída no Plano Municipal de Vacinação. Os segundos defenderam que o retorno dos odontólogos às atividades ambulatoriais dos postos de saúde só ocorra com toda a segurança, assim como querem a convocação de concursados para ocuparem cargos que estão vagos, visando o reforço dos serviços de atenção básica.

Esta foi a 11ª reunião da Comissão de Acompanhamento ao Coronavírus, que já colheu depoimentos de representantes de diversas áreas. Foram ouvidos, em ocasiões anteriores, médicos especializados, enfermeiros assistentes de saúde, além de pessoas de outros setores da sociedade civil como artistas, guias de turismo, hoteleiros, professores e comerciantes, que disseram como estão enfrentando as dificuldades nesta pandemia. Os vereadores registram os anseios, anexam reivindicações aos documentos que são produzidos, e buscam encaminhamentos com soluções práticas junto à Prefeitura do Recife e ao Ministério Público.

Participaram dos debates o presidente do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE), Eduardo Vasconcelos; a primeira vice-presidente do Sindicato dos Odontologistas no Estado de Pernambuco (Soepe), Roberta Souza; e a vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região/Pernambuco (CREF 12/PE), Niluzia Arruda. A reunião foi conduzida pelo vereador Tadeu Calheiros (Podemos),  e contou com a presença dos vereadores Helio Guabiraba (PSB), Marco Aurélio Filho (PRTB), Eriberto Rafael (PP), Ana Lúcia (Republicanos) e Ivan Morais (PSol).

O presidente do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE), Eduardo Vasconcelos, lamentou que o atendimento laboratorial de odontologia nos postos de saúde municipais do Recife esteja paralisado desde o ano passado por causa da pandemia. “Entendemos perfeitamente o motivo, mas sabemos que a população tem buscado um atendimento de outras formas para se tratar porque está sem acesso à saúde bucal pública. Há indícios que está aumentando o número de mutilados. Sem poder pagar o tratamento de canal ou obiturações, na rede privada,  o povo está recorrendo às extrações. Por isso, corremos o risco de termos num futuro próximo uma grande quantidade de desdentados”, alertou. Para ele, é necessário que o profissional de odontologia da rede pública seja convocado para fazer esse tratamento, desde que tenha a segurança sanitária necessária para continuar o trabalho.

Eduardo Vasconcelos observou que também é preciso se criar um atendimento de odontologia hospitalar, pois nessa pandemia tem se observado que muitos pacientes precisam do acompanhamento dos profissionais especializados e não dispõem. Nesse caso, os odontólogos poderiam acompanhar não só na saúde bucal dos internados nos hospitais que já chegam com a carência do tratamento, como também prevenir as infecções  hospitalares pela boca. “É preciso implementar a odontologia hospitalar e o  atendimento especializado nos postos. Em todos os casos, faz-se necessário que a Prefeitura do Recife convoque os profissionais que já foram aprovado em concurso para ocupar os cargos de vacância. Até por que muitos profissionais já se aposentaram e há necessidade de contratações”, defendeu. Ele acrescentou que o Recife tem apenas 38% de cobertura em saúde bucal nos postos e que só dois terços das equipes da família contam com esses profissionais em tempos normais, sem a pandemia.

A primeira vice-presidente do Sindicato dos Odontologistas no Estado de Pernambuco (Soepe), Roberta Souza, disse que, com a pandemia, novas demandas surgiram para os profissionais da área que trabalham nos postos de atendimento à saúde básica. “Os odontólogos estão na linha de frente de combate à covid-19,  fazendo a testagem de covid-19. Quem era dos postos, saiu do consultório odontológico e está ajudando no enfrentamento”, observou. Segundo ela, os profissionais não só ajudaram na realização dos testes de SWAB (para identificar a covid-19), como também no atendimento dos postos; e agora estão atuando na vacinação da população. “Encontramos dificuldade nessa nova realidade do trabalho odontológico, mas foi bom o registro dessas outras atividades que considero igualmente importantes. Afinal, a sociedade só vê quando o dentista faz atendimento eletivo e a pandemia desmistificou isso”.

Ela, porém, disse que para os dentistas prestarem esses serviços precisam ter boas condições de trabalho, mas a gestão pública deixou a desejar. “No ano passado recebemos máscaras que não estavam sequer recomendadas pelo Ministério Público do Trabalho. Hoje, a  categoria está sendo vacinada, mas a contaminação ainda nos preocupa. Os nossos profissionais, mesmo os que estão sendo vacinados, continuam expostos às novas cepas”, observou. Roberta Souza também defendeu que, para garantir a volta segura dos serviços ambulatoriais, a Prefeitura do Recife precisa realizar investimentos nos postos. Segundo informou, 10% dos dentistas dos postos de saúde municipais não têm sequer um auxiliar e 20% não contam com as condições de atendimento nas salas. “Por isso, somos a favor da volta do atendimento eletivo, mas temos cautela. Mais da metade dos consultórios é compartilhado e muitos não têm circulação de ar ou dispõem de equipamentos de proteção, que são os EPIs”.

A vice-presidente do Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região/Pernambuco (CREF12/PE), Niluzia Arruda, disse que apesar de os profissionais de Educação Física serem reconhecidos como “profissional de educação física na saúde”, ainda assim sofrem discriminações na campanha de vacinação contra a covid-19. “A nossa luta é árdua. Desde 1998 fomos reconhecidos e mesmo assim não fomos contemplados na essencialidade dentro do processo de vacinação. Fomos excluídos na campanha de imunização, sobretudo os profissionais que atuam nas academias”, observou. Ela lembrou que o pessoal de educação física que tem inserção na área de saúde, atendendo na atenção básica e nos espaços públicos, estão sendo vacinados. “Mas, não entendemos a exclusão e a diferenciação dos que trabalham nas academias. Isso só nos prejudica. Precisamos garantir a essencialidade de toda a atividade física, pois há pesquisas comprovando que quem pratica exercícios com regularidade não chega a desenvolver a forma mais grave da covid-19”.

Niluzia Arruda defendeu as academias de ginástica onde os profissionais de educação física trabalham. Segundo ela, todas adotam as medidas recomendadas pelas autoridades sanitárias para reduzir os índices de contágio do coronavírus. “Além disso, está comprovado que os problemas psicossociais aumentaram por causa do isolamento social e que as pessoas precisam de atividade físicas com regularidade, para reduzir as ansiedades. As questões psicossociais não estão sendo levadas em conta e é por isso que precisamos lutar pela garantia da essencialidade. A atividade física não trata a doença, mas promove a saúde”, afirmou.

O vereador Marco Aurélio Filho concordou que é preciso avançar nos serviços de saúde bucal, dentro da saúde básica municipal e também disse que está lutando  pela essencialidade dos profissionais de educação física. A vereadora Ana Lucia acrescentou que é importante se pensar na prevenção e profilaxia em termos de saúde bucal neste momento da pandemia e questionou a decisão de não se vacinar os profissionais de educação física das academias. O vereador Helio Guabiraba se colocou à disposição para auxiliar nos encaminhamentos das categorias, na comissão. “Quero muito contribuir buscando  resultados satisfatórios”.

O vereador Ivan Morais disse que a comissão tem agido na defesa dos interesses da população, que participa através das entidades civis organizadas. O vereador Tadeu Calheiros lamentou que o Recife não tenha 100% de cobertura de odontologia nos postos, mas somente 60% a 70%. “Além disso, em minhas visitas aos postos, já vi salas com até quatro cadeiras de dentistas”. Em relação à educação física ele disse que acha “inaceitável a falta de vacinação, uma vez que os profissionais são importantes para a promoção da saúde”.  O vereador Eriberto Rafael, que é o presidente da Comissão,  afirmou que  a Comissão Especial Interpartidária de Acompanhamento ao Coronavírus da Câmara Municipal do Recife é “um importante canal de diálogo para trazer algum retorno para a população. Todos os pedidos que foram apresentados aqui, deveremos compilar e entregá-los à Secretaria de Saúde”.



Em 27.05.2021.