Marco Aurélio Filho diz estar preocupado com “inversão de valores” da sociedade

O vereador Marco Aurélio Filho (PRTB) disse que está preocupado “com a inversão de valores” diante da operação da Polícia Civil realizada na favela Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Números atualizados dão conta que 27 pessoas da comunidade e um policial foram mortos na entrada policial no local, na semana passada. “Até agora, não vi a imprensa ou casas parlamentares como esta se colocando no lugar da polícia. Em nenhum momento vi ninguém fazendo a defesa da Polícia Civil”, reclamou, na reunião Ordinária virtual da Câmara do Recife nesta segunda-feira (10).

A operação policial, que terminou em tragédia, foi realizada para prender 21 pessoas que eram investigadas por suspeita de aliciar menores para o tráfico de drogas. “Não estou defendendo extermínio, mas a valorização da polícia, pois há pessoas e meios de comunicação que estão colocando a polícia contra a população. Estão tratando os policiais como se eles fossem inimigos da população. Os policiais são tratados como bandidos. Os bandidos não são os policiais, que fique claro”, comparou. O vereador observou que levou a discussão para o plenário virtual da Câmara do Recife “para expressar a preocupação com essa inversão exacerbada de valores. Os policiais são servidores, que vestiram uma farda para defender aquilo que eles juraram defender”, disse.

Marco Aurélio Filho acrescentou que não cabe a ele mesmo fazer um julgamento. “Se houve exacerbação, se a operação se deu de forma truculenta, errada, que a corregedoria da polícia investigue. Mas não podemos taxar a  instituição como inimiga da sociedade, como está se dando. Esta inversão de valores eu não estou entendendo. E isso me causa preocupação”, disse. Em seguida ele reafirmou que “a imprensa está querendo colocar a população contra a polícia”. Ele disse que teve acesso a reportagem que disse “que morreu apenas um policial” (o policial civil André Leonardo Frias) e os moradores da favela. “Os policiais são gente como a gente. Eles colocam uma farda para defender a nossa vida. Precisamos ficar do lado desses servidores”.

O vereador Dilson Batista (Avante) disse que estava feliz com as palavras de Marco Aurélio Filho. “Você demonstrou o que o cidadão deve sentir. Quando vi a repórter da CNN dizer que do lado de lá morreu só um policial e do lado dela, morreram vários, fiquei sem entender nada. O lado da repórter é o lado do marginal, do bandido. Os que morreram eram marginais. Não vou dizer que houve chacina, mas uma faxina, em Jacarezinho. Eram todos marginais que traficam droga e que atiraram na polícia. Atiraram a sangue frio no policial André Frias, que estava ali não só como um braço do Estado, mas para cumprir sua obrigação de segurança publica”.

O vereador Alcides Cardoso (DEM) também parabenizou Marco Aurélio Filho “pela posição em favor da nossa polícia”. Ele lembrou que, entre os suspeitos mortos, havia um que fez vídeo com armas na mão. “E eram  armas letais”. Alcides Cardoso também criticou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, que proibira operações policiais no interior das favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia. “Isso mostra que realmente os valores estão invertidos”, afirmou.

A vereadora Liana Cirne (PT) manifestou a sua preocupação como esse debate foi colocado “aqui na Câmara por alguns colegas”. Ela ressaltou que foi dita “a expressão faxina, no lugar de chacina, e que a operação só matou bandidos”. Cirne pediu para se refletir sobre “a gravidade do que foi colocado aqui”. Ela também abordou o ponto levantado por Alcides Cardoso, sobre Edson Fachin. “De que adianta um dia apresentar voto de aplauso para desembargadores e depois acusar o Judiciário? Vamos decretar o fechamento do Judiciário? As pessoas já estão condenadas antes de um julgamento?”. A vereadora questionou ainda: “Estão dizendo que eram todos bandidos. Será que só tinha um trabalhador, entre os mortos, que era o policial? Será que a polícia tem licença para matar só porque eram suspeitos? É isso que alguns colegas defendem aqui?”.

O vereador Ivan Moraes (PSOL) criticou a adjetivação de “faxina” em vez de “chacina”, que foi feita durante a discussão. “Aqui na Câmara há parlamentares que estão tratando esse caso como faxina, como limpeza. Mas, eu quero lembrar que nós, quando tomamos posse, juramos defender a Constituição. E quem a defende a Constituição tem que defender o Estado de Direito. Não podemos achar normal ou defender a execução sumária. O que houve foi execução sumária”. Ivan Moraes ressaltou que politicamente pode-se discutir o ocorrido pela ótica do racismo institucional. “As corporações policiais foram formadas para defender uma elite. Policiais negros são colocados em situação de perigo e lutam contra outros negros, que moram em favelas. A guerra contra as drogas é justificada para matar moradores da comunidade, bandidos, policiais e traficantes. Mas uma operação como aquela não ocorre no Leblon ou na Avenida Boa Viagem”.

A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), assim como Ivan Moraes, considerou que “no Jacarezinho houve uma execução sumária, promovida por policiais maus treinados. "Não se pode dizer que  foi uma ação com características de pena de morte. Até porque não temos pena de morte. Mas, até a pena de morte, exige um processo legal para evitar o autoritarismo do Estado”.


Em 10.05.2021.