Audiência debate políticas públicas para o Recife Antigo

Um Recife Antigo mais seguro, inteligente, atrativo e planejado mais para as pessoas do que para os carros. Essa visão do bairro que é o berço da capital pernambucana foi tema de uma audiência pública virtual promovida pela Câmara Municipal na tarde desta terça-feira (15). A iniciativa do debate partiu do vereador Marco Aurélio Filho (PRTB).

A integração de diversos setores da sociedade foi salientada pelo parlamentar como uma maneira de construir um Recife Antigo melhor. Na ocasião, estiveram presentes integrantes do comércio, gestão pública e da pesquisa em urbanismo. “Junto a essas entidades, vamos conseguir avançar na cidade do Recife. É disso que a gente precisa: diálogo e avanço. Quando a gente se junta, dá certo”

Marco Aurélio Filho citou entre os pontos que considera importante para o avanço do bairro histórico ações como enterramento da fiação, recuperação de edifícios históricos e retomada de prédios abandonados, inciativas que privilegiem a mobilidade a pé. Ele destacou, ainda, o anúncio de que o Poder Executivo vai criar um Escritório de Gestão para administrar o Antigo com mais eficiência e participação social. “Fico muito feliz com a notícia de que a algumas semanas o prefeito do Recife anunciará o Escritório de Gestão, um compromisso de sua campanha. Ele vai ser um marco para a cidade”.

Presidente da Comissão de Planejamento Urbano da Câmara, o vereador Zé Neto (PROS) participou da audiência e disse estar de prontidão para contribuir. “A gente só constrói assim, juntando forças. Esse é um tema de extrema importância para a nossa cidade. Pode me ter como um aliado nessa discussão do bem, que é a discussão do Recife. Estou à inteira disposição para reforçar esse time e conseguirmos ainda mais melhorias”.

O vereador Alcides Cardoso (DEM) teceu comentários sobre as potencialidades do Recife Antigo. “Essa iniciativa é de grande valia. Ali tem muito trabalho a fazer: turismo, empreendedorismo, moradia. No Recife Antigo cabe tudo”.

O professor e urbanista Francisco Cunha fez uma apresentação sobre as possibilidades de transformação do Recife Antigo em um bairro remodelado para ser amplamente usado por pedestres. Com fotografias e mapas da área, ele traçou uma história urbanística do Antigo, chegando ao que chamou de “invasão dos carros”. “O bairro do Recife é um bairro propício a ser predominantemente caminhável”.

Cunha defendeu, ainda, um planejamento em dois níveis para as ilhas do Recife Antigo e de Antônio Vaz (que abriga os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Ilha Joana Bezerra). “Não adianta fazer uma cidade que é boa para só para o comércio, ou para o Porto Digital, ou para o setor público. Se for separado, não vai dar em nada. O que é fundamental é dar ao planejamento uma perspectiva de ‘faróis altos e baixos’. Precisamos ver o centro com novos olhos”.

O “farol baixo” citado pelo professor é relativo ao planejamento de curto prazo e leva em consideração ações para garantir o controle urbano já alcançado, avançar no ordenamento de áreas vizinhas e ter uma atenção especial para o acolhimento das vítimas da pandemia. Já o “farol alto” trata de um planejamento de ações mais amplas, como a criação de uma gerência territorial do bairro do Recife e da Ilha de Antônio Vaz, um conselho consultivo dessa gerência e dar continuidade a um planejamento estratégico de longo prazo, com a formulação de projetos estruturais para a região.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife, Rafael Dubeux, afirmou que a Prefeitura planeja ativar economicamente a capital no período pós-pandemia por meio do incentivo à ciência e à tecnologia – uma meta que necessariamente passa pelo Porto Digital, localizado no Recife Antigo. “Pensamos em medidas para ampliar a produtividade da economia, com a incorporação cada vez maior de ciência, tecnologia e inovação nos processos produtivos. E aí o Porto Digital tem um papel absolutamente central”.

Em relação à qualificação do Antigo, Dubeux adiantou algumas ações que devem ser anunciadas em breve pelo Executivo. “Precisamos pensar no longo prazo para que o berço da nossa cidade seja também o seu futuro”.

As medidas a serem implementadas são as seguintes: modernização do bairro (enterramento da fiação, com alargamento de calçadas e requalificação de ruas com foco no pedestre); atração de investimentos (com a criação de uma agência própria); projeto Recife 4.0 (um conjunto de ações modernizantes, como o uso de veículos elétricos, energia solar, mobilidade inteligente, ferramentas de inteligência artificial na segurança urbana); retomada de imóveis abandonados (com propostas de arrecadação desses imóveis pelo poder público); e o Escritório do Bairro (com foco em controle urbano, ativação econômica, planejamento urbano e diálogo com a comunidade).

Para o presidente do Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE, Bernardo Peixoto, é preciso tomar atitudes que atraiam para o bairro o setor empresarial e investir em segurança. “O que a gente precisa é desburocratizar, facilitar a vida do empresário. Quanto mais fácil, mais se investe. O Recife Antigo é um ponto turístico sensacional. Para empresários e para a população em geral, o importante é a segurança. Sem a sensação de segurança, ficamos com medo”.

Segundo o presidente do Sindilojas Recife e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do Recife, Fred Leal, a vitalidade do centro do Recife depende da retomada da moradia na região. “Só se pode ocupar com a moradia. A preservação dos prédios históricos também é fundamental. A gente não quer moradia de classe A, mas também não queremos favelização. Queremos moradia inclusiva, como parece que é feito no Recife Antigo com a comunidade do Pilar”.

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) em Pernambuco, André Araújo, fez uma defesa da criação de um polo gastronômico no Recife Antigo. “O bairro do Recife pode ter uma ação dignificante, com a ocupação e do foco em cima dos prédios abandonados. A partir de um polo gastronômico, podemos construir vários eixos. Por que não pegar um prédio desses e fazer um centro de gastronomia, incorporando a comunidade do Pilar nesse projeto?”

Ele deu exemplos, ainda, da visão da entidade sobre medidas urbanísticas e arquitetônicas que poderiam tornar a cidade mais atrativa. “Calçadas, fachadas ativas dos prédios, moradia mista – mora-se no primeiro pavimento e, no térreo, tem-se um negócio, que pode ser uma farmácia, um empório –, a questão da cidade compacta, a economia popular. A economia pode se movimentar de forma inteligente e sensata”.

Por sua vez, o presidente da Associação Comercial de Pernambuco, Tiago Carneiro, disse que é preciso identificar a vocação de cada ponto do Recife Antigo. “Acreditamos bastante no potencial do bairro do Recife, que é um dos principais pontos de desenvolvimento de Pernambuco. Hoje, acho que devemos planejar o bairro do Recife como um grande empreendimento a céu aberto. É preciso entender as diversas vocações do bairro, considerando as peculiaridades de cada rua ou polo. A avenida Rio Branco, por exemplo, tem um amplo potencial para ser um polo gastronômico, mas isso precisa ser validado com uma pesquisa que diga qual é a vocação de cada rua”.

O superintendente do Porto Digital, Gustavo Rocha, lembrou que o Porto Digital nasceu com a missão de dar mais vigor ao bairro do Recife. Ele mencionou, ainda, a realização de projetos desenvolvidos pela entidade com a Prefeitura e o BNDES para a revitalização do centro histórico. “Desde o ano 2000, ele existe com o objetivo específico de trabalhar na revitalização do Recife Antigo. Está no DNA do Porto Digital não só o fomento às empresas de tecnologia da informação, comunicação e economia criativa, mas ser um ator no desenvolvimento urbano desse bairro. Do ponto de vista do urbanismo, temos neste momento de crise, uma oportunidade muito grande”.

O gerente de desenvolvimento turístico do Recife Antigo, Tota Faria, disse que a gestão municipal aposta no diálogo para fomentar o turismo na área. “O nosso trabalho hoje no Recife Antigo é de zeladoria e de estruturação para o turismo. Tentamos falar com todos os setores: restaurantes, bares, barqueiros. A preocupação é de estruturação do bairro, pensando em como ele pode atender tanto a população quanto o turista. Iluminação e mobilidade parecem ser coisas simples, mas que demandam uma discussão com todos os atores. A gente acha que a reativação do comitê de gestão do bairro é urgente, para de alguma maneira acelerar essas discussões e deixar ele pronto para quando voltarmos ao novo normal”.

A audiência também contou com a participação do diretor do Museu Militar do Forte do Brum, André Monteiro.

Em 15.06.2021