Câmara promove audiência pública para debater arborização do Recife
“Muitas vezes, as pessoas só lembram desse manto vegetal quando vai acontecer, por exemplo, uma construção com retiradas de árvores. Ou até mesmo quando as árvores são arrancadas por fortes chuvas, causando transtorno. A gente sabe que não são elas que estão erradas, mas nós que precisamos aprender a lidar com a arborização, que precisa ser cuidada e preservada”, comentou a parlamentar ao dar início à audiência. “Queremos saber mais sobre esse manto vegetal que temos na nossa cidade e que é tão importante, não só pelo aspecto da beleza, mas pelo aspecto da preservação, do cuidado, e da manutenção. Esta audiência tem o objetivo de fazer um debate sobre os nossos anseios”.
O vereador Ivan Moraes (PSOL) também participou da discussão e levantou uma série de perguntas a respeito do trabalho da Prefeitura na fiscalização e no diálogo com entes privados quando o assunto é a poda de árvores. Em seguida, fez questionamentos sobre a fiscalização do replantio de árvores decorrentes de obras que necessitam suprimir a vegetação existente. “Quando um engenheiro precisa ou acredita que tem que cortar árvores para construir um prédio, uma casa, um hospital, um shopping center, sabemos que há legislações que obrigam esse empreiteiro ou empreiteira a realizar um novo plantio de árvore. Muitas vezes, temos recebido críticas de que a Prefeitura não fiscaliza e não exige esse replantio por empresas privadas”.
Educação para o meio ambiente – Um dos temas abordados na audiência pública foi a experiência da Escola Municipal Professor Antônio de Brito Alves (EMPABA), reconhecida pela UNESCO por seu trabalho com educação ambiental.
Especialista no ensino da questão ambiental na disciplina de Geografia, a professora Maria Lopes indicou que o sucesso da EMPABA está nos projetos que integram professores, alunos e comunidade escolar. “A escola vem trabalhando com sustentabilidade desde a sua fundação, em 1999. Ela é integrada com todos os seus projetos, tanto do Fundamental 1 quanto do Fundamental 2. São projetos que levam para dentro da escola experiências de alunos e a ajuda da comunidade. Isso é feito com pesquisa, com buscas. Temos muito mais no papel por fazer, como um prédio sustentável, o teto verde, a ampliação da ecobarreira. E vamos realizar”.
A ecobarreira citada por Lopes é um projeto que instalou, com a ajuda da Emlurb, uma rede feita de garrafas PET que filtra o lixo jogado no Canal do ABC. O canal, que passa em frente à escola, era uma fonte de arboviroses que afetava a comunidade escolar.
Também professor da unidade, o mestre em entomologia agrícola Alexandre Conte detalhou a experiência, que ganhou repercussão internacional. “A ecobarreira surgiu em 2018. Sabemos que o Recife é cortado por canais, vias que levam água para os rios. Em frente à nossa escola, existe um canal que é repleto de sujeira. Reunimos nossos alunos para fazer esse projeto que funciona com uma teia feita de garrafas PET. Foi uma alternativa pioneira”.
Conte explicou, ainda, que a preocupação com o meio ambiente pode ser vista na própria estrutura da Escola. ”Nos preocupamos com a sustentabilidade em vários aspectos. Temos calhas que recolhem água da chuva e que é aproveitada para limpar toda a escola. Reciclamos utensílios que seriam jogados fora – por exemplo, temos bancos e mesas todas de pneus. É uma escola verde, com vários tipos de plantas”.
Pertencimento estimula preservação – Foi exaltando o sentimento de pertencimento baseado nas teorias do educador Paulo Freire que o ativista ambiental e gestor do Sítio da Trindade, Nélio Fonsêca, afirmou que o ativismo ambiental é uma "resistência secular que a gente faz contra vários sistemas e permanece desse jeito". "Uma das coisas que mais peço é que a gente crie esse senso de pertencimento baseado em Paulo Freire de que, quando você faz parte do processo, você assume a responsabilidade. Todas as mudas que eu planto, que são fruto da nossa sementeira própria lá em Aldeia, que são frutos das ONG's, de parcerias com a sementeira da UFRPE, eu distribuo", pontuou.
O ativista ambiental contou que a proposta da sementeira do Sítio da Trindade é fazer um espaço de educação ambiental tecnológica e de movimento da cultura popular. "É um tripé ambiental, social e econômico. Sempre bato na tecla de pensar em sustentabilidade como um tripé, tem que começar a botar os moradores da comunidade para plantar, é o social, eles se sentem parte daquilo. O econômico, é dizer, sim, que vai valorizar a rua dele, o imóvel. É necessário termos um desenvolvimento, uma inclusão das comunidades, seja de prédio de luxo a casas populares. Todos os recifenses têm que participar do processo de plantio na sua área para despertar o senso de pertencimento, bem-estar e crescimento da árvore", afirmou.
Compensação da vegetação da cidade – O presidente da Autarquia de Urbanização do Recife (URB), Luis Henrique Lira, explicou, em resposta a uma das perguntas de Ivan Moraes, que a supressão das 99 árvores da obra da via-parque das Graças terá a compensação de 552 árvores em torno do Recife. "A obra vai transformar a margem do Rio Capibaribe, que está entre a Ponte da Torre e a Ponte da Capunga. Será a construção linear para conectar o mangue com o rio e a natureza. Há a necessidade de fazer uma supressão temporária e uma compensação, que será 5,5 vezes maior do que foi suprimido. Vamos ter a necessidade de fazer a supressão de 99 árvores, mas vamos plantar 552 delas. 199 serão no próprio local e outras 350 em todas as áreas da cidade, e já temos uma parceria muito forte com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAS)", disse. Lira também evidenciou que existe um manual de plantio para garantir o desenvolvimento da árvore até que ela se firme no local.
"A gente tem um projeto muito importante de plantio ativo na SMAS, que realiza um plantio diário na cidade com plantas nativas do nosso bioma da Mata Atlântica", elucidou o representante da Secretaria de Meio Ambiente, Rômulo Faria. Ele contou que há um cuidado passivo com as árvores, que são de controle do colegiado, e que a arborização do Recife fica sob a autorização deles.
Rômulo contou que as áreas privadas também são bens de importância pública e o patrimônio ambiental público precisa ser preservado. "Mesmo estando em áreas privadas, caso precise ser feita qualquer intervenção, há a necessidade de autorização que é feito pela Secretaria. Existe um processo que vai analisar a condição fitossanitária das árvores, a pertinência de uma determinada poda, necessidade de uma eventual erradicação. Esses processos eletrônicos são rápidos, mas não devemos esquecer da técnica de avaliação de cada um (intervenção)".
Com relação a compensação e erradicação, Faria afirmou que a Prefeitura da Cidade do Recife trabalha com um "alto padrão de compensação". "Nunca haverá de um para um, às vezes vamos de um para dez (vezes mais de compensação). Esse é o que determina a legislação. A instalação de um empreendimento que necessite de erradicação, será compensada e isso é fiscalizado até de forma mais transparente e tranquila, pela própria sequência do processo de licenciamento, que é feito em três fases: prévio, de instalação e erradicação", finalizou.
Em 04.06.21