Direitos Humanos promove reunião na Praça Dezessete
“Vocês não estão sozinhos. Nós estamos com vocês”, repetiu diversas vezes a vereadora Michele Collins. “Todas as pessoas precisam ser respeitadas e ter seus direitos garantidos. Esta é a primeira reunião que realizamos nas ruas, mas sempre discutimos questões relacionadas à população de rua na Câmara do Recife”, afirmou, enquanto passava o microfone para vários moradores que quiseram falar.
Foram histórias reais contadas por Janaína, João, Sérgio, Josuel, Jailson, Carlos, Margarida, Adriele, José, Jeferson. A história de quem conhece a rotina da invisibilidade nas ruas. “O morador de rua é invisível, ninguém vê”, disse José. Mas, tem o sonho de conseguir emprego, como muitos afirmaram. Querem também ser tratados com dignidade e respeito, seja na rua, nos abrigos ou nos postos de saúde e querem ser vacinados contra a covid-19. Outro desejo expresso, foi o de uma casa para morar e, no mais curto prazo, que a praça que lhes serve de teto, seja mais limpa. Pediram banheiros públicos limpos e abertos para o uso.
Todas as demandas foram anotadas pela equipe da vereadora Michele Collins e lidas no final da reunião por cada um dos parlamentares presentes. Ela afirmou que os pedidos resultarão numa série de medidas, como requerimentos, por exemplo, que serão apresentadas na Câmara do Recife para serem encaminhadas à Prefeitura da cidade e outros órgãos competentes.
O deputado estadual Cleiton Collins (PP) disse que “o Legislativo Municipal parou para ouvir pessoas que precisam ser ouvidas e acalentadas. Precisamos ter um olhar diferenciado”. Além dele estavam presentes diversos vereadores do Recife que parabenizaram a iniciativa e em poucas palavras afirmaram que o parlamento estava ali para ouvir.
O vereador Felipe Alecrim (PSC) destacou que era importante mobilizar a classe política para ver de perto e construir soluções. Joselito Ferreira (PSB), afirmou a igualdade entre todas as pessoas, sem distinção de classe social, cor ou qualquer outro atributo. Opinião semelhante à externada por Paulo Muniz (SDD), que lembrou do amor ao próximo pregado por Jesus Cristo. Já Tadeu Calheiros (Podemos), que também é médico, ressaltou que saúde é ter dignidade, é ter moradia, é ter educação, é ser ouvido.
Quem passou pela praça Dezessete ou assistiu a transmissão ao vivo da reunião pelo canal do Youtube da Câmara do Recife, pode ouvir vozes conscientes da luta por seu espaço e de reconhecimento de seu valor e amor próprio. “A pior doença é o preconceito”, disse Raída Fênix, uma mulher trans que lamentou a homofobia que precisa enfrentar. O preconceito também impede o uso de alguns banheiros públicos, conforme lamentou Flávia Érica. E não faltou a lembrança do caso recente de outra mulher trans, moradora de rua, que foi queimada no Cais de Santa Rita, no bairro de São José.
O coordenador do Movimento Pop Rua, Robson, expressou o direito da pessoa em situação de rua ser ouvida para construção de políticas públicas. “Só quem sabe o que é a rua, é quem vive na rua. Nada sobre nós, sem nós”, afirmou. Durante a reunião foram ouvidos também representantes de outras instituições, a exemplo de Amaro que é um dos fundadores do Movimento Nacional da População de Rua; Jaílson, do Instituto Ruas Museus. A irmã Juvita, da Pastoral do Povo de Rua, salientou que é preciso que as autoridades pensem primeiro na habitação. “Se a pessoa não tem onde dormir, onde encostar a cabeça, como vai se recompor?”, questionou.
E diante da dureza dessa realidade, um jovem morador em situação de rua trouxe a leveza da sua poesia para a Praça. João Costa leu versos de sua autoria: “Por amor, movemos terra, céu e mar para sermos felizes. Mesmo que esse amor não seja correspondido”. Leu um poema inteiro e ao final falou da necessidade de cursos profissionalizantes e escola de artesanato.
Saravida – Representantes da Comunidade Terapêutica e Dependência Química Saravida comemoraram os 18 anos de fundação da instituição na Praça. O voluntário Alexandre relatou que conhece a realidade das ruas, por tê-la vivido e guardar consigo as cicatrizes do uso abusivo de drogas.
Desde a manhã, a Saravida levou serviços para a população de rua, como o trabalho de documentação promovido pela secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS/PE). O gerente de Prevenção e Articulação Comunitária, Flávio Queiroz, afirmou que foi feito um levantamento para providenciar documentos como a carteira de identidade. Uma ação promovida pela SDS através do programa “Resgatando a Cidadania”.
Relatório final – Após ouvir as pessoas em situação de rua que participaram da reunião, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara do Recife, Michele Collins, pediu que cada parlamentar lesse um item do relatório final:
- Reajuste do aluguel social;
- Regularização dos títulos de posse;
- Reabertura do restaurante popular de Santo Amaro e reformas dos banheiros públicos;
- Prioridade nos programas habitacionais;
- Realização do censo sobre a pop rua;
- Programa de geração de emprego;
- Instituição de campanha de vacinação pelo Consultório de Rua;
- Ampliação das ações do “Acolhe Vida Móvel”;
- Limpeza de praças e logradouros públicos;
- Apuração de denúncias de cobranças de taxas para o uso de banheiros públicos; entre outras.
Em 01.07.2021