Osmar Ricardo realiza reunião pública para debater retorno das aulas presenciais

De um lado, os professores que planejam voltar às aulas presenciais somente quando toda a comunidade escolar receber o complemento da imunização contra a covid-19. Do outro, a Prefeitura do Recife que já anunciou o início da retomada das aulas presenciais na rede municipal para 22 de julho, em meio à pandemia. No centro da questão, os alunos que não têm idade prioritária para a vacinação, mas ao mesmo tempo enfrentam entraves para estudar no isolamento social porque nem todos têm acesso à internet. Para debater essa equação, o vereador Osmar Ricardo (PT) realizou reunião pública virtual na manhã desta quinta-feira (1º).

“Este é um assunto muito importante, que está mexendo com toda a sociedade. O nosso objetivo, nesta reunião, é ampliar o debate sobre essa volta e os protocolos de segurança diante do anúncio da Prefeitura do Recife sobre o  início do retorno das aulas”, afirmou o vereador. O Recife tem 321 unidades escolares e cerca de 92 mil estudantes matriculados na rede municipal. A Prefeitura do Recife anunciou que o início das aulas presenciais (opcional e híbridas) da rede municipal será no dia 22 deste mês, mas os professores; os ADI (Auxiliar de Desenvolvimento Infantil); Assadir (Auxiliares de Desenvolvimento Infantil de Recife); AAE (Agente Administrativo Escolar) e AADEE (Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial) querem adiar o reinício das aulas presenciais.

De acordo com o cronograma anunciado, os primeiros alunos que retornarão às salas de aula serão os do 8º e 9º anos, que são as turmas dos anos finais do ensino fundamental. Na sequência, o cronograma seguirá da seguinte forma: no dia 22 de julho, as turmas dos 8º e 9º anos do ensino fundamental; no dia 27, estudantes dos 4º, 5º, 6º e 7º anos do ensino fundamental. Em agosto, última etapa de retorno, será no dia 3, alunos dos 1º, 2º e 3º anos do ensino fundamental, além das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), das creches e da pré-escola. “O retorno presencial será opcional”, disse o secretário Executivo de Gestão da Rede, Gliebson Cavalcanti.

Dois vereadores fizeram participação na reunião pública organizada pelo vereador Osmar Ricardo. A vereadora Dani Portela (PSOL) defendeu a continuação do ensino remoto, apesar de reconhecer que este sistema é exaustivo. “O retorno às atividades presenciais neste momento vai expor todo mundo ao risco de contaminação. A Prefeitura do Recife está colocando educação e vida em lados opostos. Quando as aulas voltarem, cerca de 100 mil pessoas estarão circulando nas ruas”, disse. O vereador Ivan Moraes (PSOL) observou que a Prefeitura  “precisa ter humildade para ouvir quem está na linha de frente das escolas”. O vereador observou que compreende o pleito das organizações ligadas à educação para que se adie a retomada das aulas presenciais para se ter mais segurança. “Até termos 60% da população vacinada, no ciclo completo da imunização, não poderemos falar em segurança”, disse.

Os participantes dos debates foram a diretora do Sindsepre (Sindicado dos Servidores Municipais do Recife), Lúcia Miranda; a coordenadora Geral do Simpere (Sindicato Municipal dos Profissionais da Rede Oficial de Ensino do Recife), Cláudia Ribeiro; a coordenadora do Fórum de Servidores Municipais, Andréa Batista; a representante da ADI (Auxiliar de Desenvolvimento Infantil) e Assadir (Associação dos Auxiliares de Desenvolvimento Infantil de Recife), Roseane Cristina da Paz; o representante da AAE (Agente Administrativo Escolar), Victor Hugo; a representante da AADEE (Agente de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial), Evelyn Rocha;  além do secretário Executivo de Gestão da Rede, Gliebson Cavalcanti.

A diretora do Sindsepre, Lúcia Miranda, reafirmou que a retomada das aulas, para os trabalhadores da educação, está atrelada à necessidade de vacinação de todos os profissionais que atuam na rede. “A Prefeitura fala da importância da segunda dose para a imunização, mas se antecipa e chama os profissionais da educação para retornar às escolas, sem completar o ciclo da imunização”. Ela explicou também que a educação tem diversas categorias. “O nosso sindicato representa todos os trabalhadores, menos os professores que têm o seu próprio sindicato”, disse, completando que cada categoria tem suas questões específicas. “Os Aadee's, por exemplo, cuidam das crianças com necessidade especiais e suas atribuições estão atreladas ao cuidar e ao educar. Eles não podem seguir um protocolo de distanciamento das crianças para alimentá-las, dar banho e atendê-las em seus cuidados, com distanciamento”. Lúcia Miranda também observou que os ADIs, que lidam com educação infantil, não têm condições de cumprir protocolos rígidos.

A coordenadora Geral do Simpere, Cláudia Ribeiro, reconheceu que há um prejuízo nas aulas realizadas através do sistema remoto para os alunos, mas  considerou que “o retorno presencial não tem que ser feito de qualquer modo, de qualquer jeito e a todo custo. A pandemia não acabou”, disse. Ela lembrou que o processo de vacinação implica as duas doses, e que só a primeira não garante a imunização. “Só quando completar o ciclo vacinal, com a segunda dose, é que poderemos voltar. Não só a segunda dos professores, mas como de toda a comunidade escolar”, disse. Ela citou uma pesquisa publicada em 4 de maio, com nota técnica de cientistas da Fundação Getúlio Vargas, Universidade de São Paulo,  Universidade do Rio de Janeiro, dizendo que a volta às aulas, sem testes e sem a garantia do isolamento, pode aumentar os números da infecção. A pesquisa fala, segundo ela, de um aumento de 270% de infecção na comunidade escolar em 80 dias. “A Prefeitura não está levando em conta nem os dados científicos”, disse.

Ainda de acordo com Cláudia Ribeiro a Prefeitura do Recife garante que seguirá um protocolo de segurança na retomada das aulas, “mas só o uso de máscara, de álcool 70 e o afastamento de bancas nas salas de aula não é protocolo de segurança”. Ela afirmou que um protocolo de segurança sanitária real pressupõe a aplicação da segunda dose da vacina para todos os trabalhadores da educação, rastreamento dos casos, testagem das pessoas e adoção de política de isolamento.

A coordenadora do Fórum de Servidores Municipais, Andréa Batista, denunciou que a Prefeitura do Recife já está enviando para as unidades escolares um formulário para que os gestores preencham, dizendo quem são os funcionários que estão dando expediente ou faltando. “É um formulário da Secretaria de Educação, que orienta a gestão a preencher quem está indo trabalhar de forma presencial. É um controle, uma vez que muitos profissionais continuam com suas atividades remotas”.  Ela afirmou, ainda, que há uma tentativa de se inibir a atuação de atividades das entidades de classe nas escolas. “As entidades precisam realizar as visitas nas unidades de trabalho. Mas há um processo de inibição, pois os diretores dos sindicatos não podem entrar nas escolas para registrar os problemas nesta pandemia”, disse.

O representante da AAE, Victor Hugo, disse que os agentes administrativos escolares já voltaram a trabalhar presencialmente nas escolas, desde em janeiro, para a realização das matrículas. “Fomos obrigados a voltar sem flexibilização do horário presencial e sem recebermos material de proteção suficiente ou adequado. Ficamos expostos aos vírus, para realizar as matrículas dos alunos”, disse. Até hoje, segundo ele, os protocolos não são respeitados nas unidades escolares, pois o distanciamento não é garantido e o uso de máscaras é irregular. “A Prefeitura do Recife quer que enfrentemos a pandemia de covid-19 apenas com o uso de máscaras de pano e utilização de álcool em gel”.

A representante da AADEE, Evelyn Rocha, revelou que está preocupada com a retomada das aulas presenciais porque os agentes de apoio ao desenvolvimento escolar especial se deslocam, para ir às escolas, em grande parte, de ônibus. “Mas, há um estudo recente da Fiocruz dizendo que o maior risco de contaminação das pessoas, no Recife, ocorre nos terminais de ônibus. Esse estudo mostra que esses terminais oferecem 48,7% de probabilidade de contaminação, o que é superior aos dos arredores dos hospitais, cujo percentual é 26,8%”. Como a grande parte da categoria usa ônibus, e passa pelos terminais para chegar aos postos de trabalho, ela entende que “já no caminho seremos vetores de transmissão e corremos risco de sermos contaminados”. Ela lembrou, ainda, que os AADEE lidam com crianças com deficiência ou com o transtorno autista, ou ainda especiais. Por lei, são pessoas dispensadas do uso de máscaras. “Tanto essas pessoas quanto nós, portanto, estaremos expostas. A Prefeitura quer nosso retorno presencial, mas até hoje não foi exalado um protocolo especifico para nós ou para os alunos”.

A representante dos ADIs (Auxiliar de Desenvolvimento Infantil) e dos Assadir (Auxiliares de Desenvolvimento Infantil de Recife), Roseane Cristina da Paz, assegurou que a categoria não voltará de forma presencial. “A Secretaria de Educação fez um calendário para a volta às atividades presenciais, mas quer que a gente volte às unidades para desempenhar atividades remotas. É uma contradição”. Ela acrescentou que os ADIs e os Assadir não têm o trabalho normatizado junto à Secretaria de Educação. “Da mesma forma, nossas categorias não têm diretrizes de trabalho remoto”.

O secretário Executivo de Gestão da Rede, Gliebson Cavalcanti, explicou que a Secretaria de Educação do Recife vem se preparando para a retomada das aulas presenciais  desde o início da gestão, em janeiro. “Primeiro quero deixar claro que os estudantes não voltarão às salas de aula de forma obrigatória. As famílias vão optar se eles devem voltar na forma presencial ou não”, disse. Também haverá um rodízio, segundo ele, e as aulas serão ministradas de forma híbrida (presencial e virtualmente).

Gliebson Cavalcanti fez um resumo de todas as iniciativas que foram tomadas para garantir uma volta segura das aulas presenciais.. “Uma das primeiras coisas que fizemos foi contemplar as unidades escolares com pias. Todas as escolas estão equipadas de acordo com o quantitativo de alunos. Também foram enviados kits de segurança, com tapete sanitizante, tótens de álcool gel, máscaras, pulverizadores, material de proteção para os profissionais, produtos para limpeza (álcool, sabão, papel, papel toalha etc), cartazes e adesivos com orientação sobre normas de  segurança. Também fizemos a demarcação em salas de aula, garantindo o distanciamento”, disse.

A partir de março, garantiu, foi realizado um  planejamento estratégico, respeitando as especificidade de cada uma das unidades escolares. “Esse planejamento não é padrão para todas as escolas, mas elaboramos de forma a respeitar a autonomia de cada escola, de acordo com as suas necessidades”. Também foi apresentado, de acordo com Gliebson Cavalcanti, o protocolo de segurança estadual aos gestores. A partir dele, foram feitas adequações e complementos, com o protocolo sanitário do município. “Apresentamos a toda a rede e demos orientações para os gestores escolares. Criamos intercâmbio entre gestores, que socializaram seus planos”.  A Secretaria de Educação, disse ele, realizou formação com gestores e coordenadores pedagógicos, eu receberam orientações técnicas; ciclo de oficinas com gestores de outras redes, para relatarem suas experiências na volta às aulas presenciais, entre outros.

Gliebson Cavalcanti afirmou que a  Prefeitura do Recife criou “um dos maiores sistemas de aula digitais que é o programa Educa Recife, lançado dia 29, com quatro estúdios modernos e equipados, com qualidade inegável, no bairro da Boa Vista, para aulas digitais”. Segundo ele, 45 professores foram selecionados para aulas online e as aulas serão aulas transmitidas ao vivo, por TV, para aumentar o alcance. Além disso, 42 mil tablets serão distribuídos neste semestre, para dar suporte aos estudantes.



Em 01.07.2021.