Câmara promove reunião solene em homenagem aos 75 anos da UFPE
Ao início da comemoração, Liana Cirne listou dados de 2020 que demonstram a magnitude da UFPE: são três campi distribuídos pelo Estado, 103 cursos de graduação presencial, 143 cursos de pós-graduação stricto sensu, 442 grupos de pesquisa, 362 projetos de extensão, 28.989 alunas e alunos matriculados nos cursos de graduação, 2,5 mil professoras e professores, 3.840 técnicos administrativos. “Esses são números que nos orgulham e mostram a nossa resiliência, a nossa capacidade de vencer um processo de desmonte muito violento contra nossas universidades”, refletiu a parlamentar.
Cirne lembrou que, no Brasil, o ensino superior passou de um cenário de democratização possibilitado pela expansão e pelas políticas de cotas, para uma realidade de limitações financeiras e pressões ideológicas de grupos como o “Escola Sem Partido”. “O que estamos enfrentando – os discursos do ministro da Educação, os cortes orçamentários, a destruição das políticas de assistência estudantil, a ameaça às cotas – é de nos provocar uma reação organizada. Não podemos ser testemunhas passivas do processo de desmonte que tem ocorrido. Sabemos a importância de fazer o registro da resistência que a universidade tem exercido”, disse. “Esta celebração tem esse propósito: celebrar não só os feitos da universidade, mas toda a resistência contra o obscurantismo, o negacionismo científico, o fundamentalismo, a negação de direitos. Todos os ataques que temos sofrido neste momento de profunda crise democrática e que faz da universidade um dos principais alvos deste governo genocida”.
Em seu discurso, Alfredo Gomes frisou que a universidade tem sido um alvo do desmonte do setor público e fez um relato do movimento de ampliação do acesso pelo qual passam as universidades brasileiras. “A UFPE faz 75 anos em uma fase muito difícil do ponto de vista das políticas públicas para a educação superior e para as universidades públicas em geral. Isso reafirma nossa capacidade de articulação e resiliência para podermos legar às futuras gerações uma instituição consciente de si e fortalecida”, analisou. “A fase mais recente da universidade pública se caracterizou pela ruptura com a instituição de elite que tradicionalmente caracterizou as universidades no Brasil. Isso se deu em função do processo de democratização, interiorização e expansão da matrícula. Em 2012, tivemos uma outra etapa desse processo, por meio da Lei de Cotas. Dessa forma, não apenas aprofundamos a democratização como também iniciamos uma trajetória da diversificação étnico-racial da matrícula na universidade”.
O aprofundamento da política de cotas faz parte das iniciativas da UFPE para comemorar os seus 75 anos, disse o reitor. “Vamos iniciar um processo de democratização à pós-graduação de maneira geral, por meio de uma política afirmativa que reserva 30% das vagas para estudantes pretos e pardos, quilombolas, ciganos, pessoas indígenas, pessoas com deficiência e pessoas trans. Esse marco vai ser um acontecimento que coincide com os 75 anos da nossa instituição. O processo de ruptura com a desigualdade social passa, necessariamente, pelo processo educacional. Nossa universidade está, cada vez mais, se encontrando com a população. E estamos fazendo isso mantendo a qualidade da nossa universidade, que está entre as dez universidades públicas deste País”.
O vice-reitor da UFPE, Moacyr Araújo, também teceu comentários sobre os ataques às universidades públicas brasileiras. “É um momento muito importante de celebrarmos. São 75 anos de muita transformação de vida e ação pela sociedade. Isso merece ser ressaltado, sobretudo, em uma conjuntura como esta em que passamos no momento”.
Araújo, no entanto, salientou que períodos como o da pandemia de covid-19 evidenciam a importância de instituições públicas como a UFPE e o Sistema Único de Saúde (SUS) perante a população. “A vida traz para a gente muitas surpresas. É justamente neste momento de tanto ataque à ciência, ao que é público e à cidadania, que as universidades e a Universidade Federal de Pernambuco estiveram e estão tão próximas da sociedade. Para aqueles que planejaram que este seria o momento de degredar o sistema público, o tiro saiu pela culatra. Mais do que nunca, estamos fortalecidos, como o nosso Sistema Único de Saúde. Neste momento de grande dificuldade, percebemos a importância do serviço público brasileiro, pelo empenho daqueles que o fazem”.
Professora do Núcleo de Ciências da Vida da UFPE em Caruaru, a médica Rafaela Alves Pacheco deu um depoimento sobre a criança do curso de Medicina no município. “Fomos acolhidos desde o primeiro pôr-do-sol, um pôr-do-sol em um céu esplendoroso. Ainda sem sede, mesmo provisória, hospedados de forma generosa no nosso querido Centro Acadêmico, aprendi a terminar o dia e esperar os demais colegas em uma cadeira no fim do Bloco ‘O’”, contou. “Era de lá que corria a brisa fria do cair da tarde e víamos surgir as dezenas de ônibus, rurais, vans, motos e carros trazendo gente de todos os lugares. Uma gente que fecha a porteira de casa e segue estrada todos os dias em busca da nossa UFPE. Todos os dias, acontece essa dádiva que só a educação com política pública arrojada consegue propiciar. São pessoas de todas as cores e etnias, todas as tribos, todas as orientações sexuais, todos os estratos sociais sendo finalmente inclusos no mundo através da educação”.
Servidora da UFPE e diretora de Desenvolvimento de Pessoas da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas e Qualidade de Vida (Progepe), Danielle Nascimento apontou a relevância do corpo técnico para o desenvolvimento da universidade. “Estar na universidade como servidora é extremamente gratificante. A categoria dos é uma categoria que tem um desempenho estratégico dentro da universidade e, junto com os professores e alunos, faz com que a gente possa ter a universidade que temos hoje. Estar na universidade, hoje, é viver este presente que não é favorável à universidade pública brasileira. Mas, ao mesmo tempo, é ter esperança de dias melhores, ter a esperança de que a ciência vai vencer esse obscurantismo em que estamos imersos. Sairemos fortalecidos enquanto universidade pública, gratuita, inclusive e de qualidade que somos e que queremos levar adiante”.
Coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da UFPE, o graduando em Odontologia João Alves Neto afirmou que a universidade é um espaço de geração de mudanças na vida dos alunos. Ele recuperou, como outros participantes da reunião, dos investimentos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff nas universidades públicas. “É muito importante que façamos uma comemoração com tantos sentimentos bons no meio desta conjuntura. Nós, estudantes, somos muito agraciados por termos como escola de formação pessoal e técnica a Universidade Federal de Pernambuco. Como piauiense, quero destacar a importância da UFPE não só para a cidade do Recife e para o Estado, mas para todo o Norte e Nordeste do Brasil”, comentou. “Neste aniversário de 75 anos da universidade, é importante que a gente faça um resgate histórico do que foi conquistado nos governos populares de Lula e Dilma. A UFPE e os sonhos dos estudantes e professores não cabem nos cortes. Não podemos aceitar menos do que nos foi dado”.
Durante a reunião, o vereador Samuel Salazar não deixou de agradecer pelo convite para presidir a solenidade. “Gostaria de dizer da satisfação por estar presidindo esta solenidade na tarde de hoje, em homenagem aos 75 anos da Universidade Federal. O meu avô era professor de Odontologia da universidade e, por coincidência, temos um estudante do curso representando os alunos aqui hoje. Para mim, é um privilégio fazer parte deste evento”.
Em 18.08.2021