Comissão de Acompanhamento ao Coronavírus recebe sugestões para a vacinação da população mais vulnerável
Inicialmente, o vereador Ivan Moraes (PSOL) fez uma apresentação da vacinação no Recife. Durante todo o mês de julho, o parlamentar e equipe se debruçaram sobre o assunto. “Reconhecemos a organização, mas é importante seguir avançando nessa questão da imunização”, disse o parlamentar. O objetivo do estudo, de acordo com Ivan Moraes, é analisar a equidade no acesso às vacinas por parte da população no que se refere à garantia do acesso à imunização total no Recife, compreendendo a primeira e segunda doses. O período de análise foi realizado entre 19 de janeiro a 24 de junho. “O uso de dados de vacinação, taxa de letalidade, renda, raça e cobertura por bairro do Recife nos permitiu realizar comparações a partir do agrupamento dos bairros. A letalidade da pandemia tende a ser maior em bairros de menor poder aquisitivo, onde a maior parte da população negra vive, no Recife. Os bairros da Linha do Tiro e Fundão apresentam taxas de letalidade por covid-19 acima de 100%”.
Ainda, segundo o estudo, as regiões mais vacinadas coincidem com as áreas de maior concentração de renda e chamou a atenção para uma maior comunicação. “Estes dados nos mostram como a desigualdade relatada pela periferização da covid-19 se torna mais acirrada quando não se levam em conta o princípio da equidade, priorizado pelo SUS, e não há uma estratégia de imunização pensada para os bairros de menor concentração de renda, que também são os locais com maior letalidade. Sabemos que há parcerias com Uber ou 99, mas ainda há um problema de comunicação, tanto em relação à sensibilização da necessidade da vacinação, como a pessoa pode se cadastrar ou obter a documentação necessária. São necessárias a multiplicação de postos volantes e a distribuição de panfletos, na falta de internet”, explicou Ivan Moraes.
O médico Eduardo Jorge parabenizou Ivan Moraes pelo estudo. “Esses dados são importantíssimos para se ter uma ideia da vacinação local. A Inglaterra e Estados Unidos publicaram, recentemente, estudos semelhantes aos do vereador Ivan Moraes. Mostraram que os hispânicos, negros e as periferias de Nova York e Londres têm a mesma dificuldade. A equidade da vacina é algo que preocupa o mundo inteiro. A gente fica muito feliz com esse trabalho na Câmara Municipal do Recife”.
O médico fez um alerta no sentido do aplicativo Conecta Recife ser mais inclusivo. “A gente sabe que tem pessoas que não conseguem se cadastrar e não possuem acesso à internet. Percebo que isso não está sendo feito de forma sistemática. A Câmara poderia cobrar para que cada local de vacinação tivesse um stand com duas pessoas responsáveis por cadastrar essa população. A Prefeitura teve mais acertos do que erros e acredito que só venceremos o coronavírus com uma vacinação com equidade”.
Eduardo Jorge elogiou a Prefeitura pelo esforço na vacinação ao grupo de adolescentes com comorbidades e opinou sobre a terceira dose aos idosos e profissionais de saúde, inicialmente. “Começou hoje esse grupo, foi uma grande iniciativa. A Coronavac protege para a variante Delta em 70%. Entretanto, depois de seis meses da segunda dose, tem-se uma certeza absoluta na redução de anticorpos. Acho que devíamos lutar pela faixa etária a partir dos 65 anos. O Recife poderia dar um passo à frente e a Câmara cobrar uma celeridade no quesito dos idosos e profissionais de saúde imunizados há mais de seis meses de tomarem essa terceira dose”.
A gerente de Atenção Básica do Recife, Débora Amaral, enfatizou que a pasta valoriza os espaços de diálogo e que medidas para o cadastramento foram tomadas. “A Secretaria de Saúde tem total interesse de fazer um trabalho de qualidade. A gente precisa do olhar atento em combater as desigualdades com um SUS universal e equânime. Em relação ao cadastro, tivemos essa preocupação desde o início. Cada unidade do Saúde da Família é uma referência de se cadastrar, independente se o cidadão é daquele posto ou não. Os Agentes de Comunidade de Saúde (ACS’s) também colaboram. Eles têm o perfil do processo do aplicativo Conecta de cadastrar e fazer os ajustes necessários. Temos equipes volantes também para aqueles que não podem se dirigir aos pontos e drives-thru”.
Débora Amaral explicou que houve um erro na taxa de letalidade e detalhou os serviços disponíveis à população em situação de rua e aos que ainda não efetivaram o cadastramento. “Foi verificado um erro, na semana passada, na forma de cálculo que estava sendo apresentado no boletim. Poderemos repassar os novos dados que vão mudar essa análise feita. Em relação aos bairros, tivemos ciência das diferenças de totalização na vacinação. E para a população de situação de rua estamos com os Centros Pop, não necessitando de um agendamento prévio, bastando apenas que comprovem sua situação de rua. Os sete mercados públicos terão equipes da Secretaria para atingir a população que ainda falta se cadastrar. E vamos ampliar com novas equipes, em setembro, visando atingir os acamados".
Médica pela Fundação Oswaldo Cruz, Paulette Albuquerque ressaltou pontos característicos da pandemia. “Em termos de raça e cor, a população negra vem sendo muito mais atingida, a iniquidade também existe nos bairros, por tipos de moradia e classe. Ela existe no Brasil e no SUS. Por mais que tenhamos 50% cobertos pelo Saúde da Família, dos 50% restantes, em torno de 25%, não são cobertos. Os mutirões nessas áreas descobertas são essenciais”.
Paulette Albuquerque citou um trabalho realizado nas palafitas, no bairro do Pina, na tentativa de cadastramento para a vacinação dos recifenses mais carentes. “Pelo projeto Mãos Solidárias, fui com a equipe levando celulares potentes, e não conseguimos marcar todas as pessoas por conta da falta de documentação ou de legibilidade. E elas precisam ser reconhecidas e necessitamos encontrar outras formas de resgate. São novas ocupações de espaço formadas por cidadãos despejados dos seus alugueis. A proposta de colocar uma quantidade de vacinas disponíveis nas unidades básicas de saúde é muito positiva para esse público”.
O vereador Marco Aurélio Filho (PRTB) teceu detalhes sobre os serviços disponibilizados à população mais vulnerável. “A Companhia de Serviços Urbanos do Recife (CSURB) tem disponibilizado serviços aos seus permissionários que não estão conseguindo acesso à internet. Também tenho visto pessoalmente nas comunidades carentes como o Coque e Coelhos, o trabalho e o esforço dos agentes cadastrando. É uma soma de ações. Acredito hoje que o Recife é referência no plano de imunização”. O vereador Tadeu Calheiros (Podemos) disse que o plano de imunização no Recife está caminhando bem e sugeriu a colocação de um polo fixo. “Para cadastramento de pessoas, que não sejam pelo Conecta Recife, democratizando os que tenham menor poder aquisitivo, sem o acesso à rede virtual”.
Hélio Guabiraba (PSB) elogiou o trabalho conduzido pela médica Paulette Albuquerque e o levantamento de Ivan Moraes. Ele também sugeriu ações diretas nas comunidades recifenses. “A gente avançou, mas precisamos cada vez mais avançar. Talvez seja a hora de colocar em prática os mutirões, carros de som, anúncios nas rádios comunitárias e mostrar a realidade, da importância da vacinação, indo de casa em casa”. Ao final do encontro, o vereador Eriberto Rafael explicou que a Comissão realizará um relatório com todas as sugestões citadas para ser encaminhado à Secretaria de Saúde.
Em 19.08.21