Frente Parlamentar pelo Centro é instalada na Câmara Municipal do Recife
“O que queremos dessa frente não é inventar a roda, mas juntar as diversas informações e saberes, para resgatar as vocações do centro e finalizar os trabalhos com um relatório que será apresentado ao poder público municipal. Finalmente, queremos discutir soluções”, disse Cida Pedrosa. Além dela e de Marco Aurélio, são membros da frente os vereadores, Luiz Eustáquio (PSB); Zé Neto (PROS); Dani Portela (PSOL; Rinaldo Júnior (PSB); Alcides Cardoso (DEM); Liana Cirne (PT) e Michelle Collins (PP).
A Frente Parlamentar pelo Centro do Recife foi originada a partir do projeto de resolução número 2774, de 22/04/2021; e foi aprovada em 29/06/2021, tendo sido publicada no Diário Oficial do Recife em 08/07/2021. Cida Pedrosa lembrou que a região central do Recife constitui-se por bairros com características bem distintas, desde a delimitação territorial, à rede de infraestrutura urbana, à densidade populacional e à oferta de serviços.
“O centro do Recife não tem só uma vocação. É moradia, mas também é comercial e cultural. Nós nos propomos a discutir patrimônio, moradia, a questão do desenvolvimento econômico do centro e por fim, a gestão”, disse a vereadora. A instalação da frente contou com a participação de diversos arquitetos, urbanistas, pessoas da área de turismo, militantes das políticas urbanas, além da presença de secretários municipais, como a secretária da Mulher, Glauce Medeiros; de Cultura, Ricardo Mello e de Transformação Digital, Rafael Figueiredo.
De acordo com a Cida Pedrosa o processo de decadência de alguns bairros do centro vem sendo temas de preocupação das gestões municipais. “No final dos anos 80, houve a implantação do Escritório de Revitalização do Centro, uma equipe multidisciplinar das várias instâncias do poder público, liderada pela Prefeitura do Recife. O escritório implementou um conjunto de ações para a melhoria da rede de infraestrutura em trechos dos bairros de Santo Antônio e da Boa Vista muito bem acolhida pela população”, disse.
A partir dessa experiência, o município implantou o Escritório de Revitalização do Bairro do Recife – ERBR em 1989. “A partir deste escritório, foi possível traçar as estratégias para implementá-lo. Destacam-se aí várias ações que possibilitaram alavancar o processo de revitalização do Bairro do Recife”.
Cida Pedrosa também disse que a participação do Governo do Estado foi decisiva, nesse processo, cujo plano de revitalização, dentre outros propósitos, voltou-se à transformação do Bairro do Recife num novo centro de atração turística nacional e internacional, o que possibilitou a captação de recursos, junto ao BID, através do Programa de Desenvolvimento do Turismo – Prodetur. “Nos anos 2000, a partir da implantação do Porto Digital, novas frentes foram abertas, o que veio consolidar o processo de Revitalização do Bairro do Recife”.
Ao lembrar desses esforços, a vereadora disse que a criação da Frente pelo centro do Recife, representa agora “uma iniciativa de extrema relevância para a cidade do Recife, de modo a contribuir, nas discussões e reflexões que reflitam em políticas públicas que visem atender às diversas demandas para a vitalidade do centro em todo o seu potencial”.
O vereador Marco Aurélio Filho falou em seguida. Ele ressaltou a importância da criação e instalação da frente para a cidade. “Falar do Recife é praticamente falar do seu centro, do comércio que ele abriga, e do Recife Antigo. Essa frente vai se preocupar com tudo isso”, disse. O parlamentar lembrou que, através do seu mandato, já foram feitas várias audiências públicas para debater pontos desse mesmo tema. “Agora, vamos unir esforços com os demais vereadores neste sentido para avançar nas políticas públicas que beneficiem essa região e mudarmos a cara do centro”.
O vereador Alcides Cardoso afirmou que, através da frente, os vereadores que a compõem irão fazer o melhor para propor soluções para as áreas abandonadas do Recife. “É uma honra participar desta frente, pois vamos debater novos formatos, usos urbanísticos, alternativas para o comércio e turismo. É essencial discutir soluções para que o centro volte a ter vida”. Ele também sublinhou que o centro do Recife tem um dos maiores parques digitais do mundo, com mais de 300 empresas e 11 mil funcionários. “Esse complexo necessita de projetos”.
O vereador Zé Neto, que também é presidente da Comissão de Obras Públicas, disse que pretende contribuir para que a frente promova debate amplo. “Acredito que o propósito de unir esforço, para implementar ações e buscar soluções, vai garantir a viabilidade de projetos”. Além de quatro audiências públicas que já estão agendadas para debater temas correlatos ao centro do Recife, o vereador afirmou que, como contribuição, Vai propor três palestras. “Uma delas é sobre o patrimônio histórico do centro do Recife, com o historiador José Luiz da Mota Menezes; a importância do Porto Digital, com o ex-secretário Claudio Marinho; e o tema Cidades Inteligentes, com o professor Sílvio Meira”
O vereador Luiz Eustáquio afirmou que cada vereador e cada vereadora tem o compromisso de cuidar do Recife. “Chegamos aqui com esse compromisso. E o Recife precisa de todos. Mas, cuidar do Recife e do seu centro não é só cuidar dos prédios, do comércio, das ruas. É cuidar das pessoas”. Ele lamentou que o comércio do centro esteja perdendo a força do passado e se deslocando para outros bairros, para a periferia e até para outros municípios vizinhos. “Nós precisamos pensar num centro do Recife de forma diferente. Hoje temos um desafio de pensar alternativas junto com empresários e a população, para fazermos uma cidade bonita, que nos orgulhe”.
A vereadora Dani Portela lembrou que debater o centro do recife, de imediato,, pressupõe uma cidade histórica. “Essa frente traz a cidade do passado, mas também a que queremos para o futuro. Ela perpassa presente, passado e futuro. Aqui é o lugar de construção de pontes. Vamos ouvir a população, a sociedade civil”. Dani Portela observou que a frente é diversas e plural, pois é formada por vereadores de diversos setores. “É justamente essa diversidade que vai nos trazer um bom resultado”, disse. Ela lembrou que os debates sobre o centro têm que estar conectado com outros temas como defesa da renda básica, políticas públicas de emprego, renda e moradia. “Queremos que o centro seja inclusivo para todas e todos nós”.
A vereadora Michele Collins, que é presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara do Recife, afirmou que a frente pode avançar nas discussões do tema. “O Recife é plural na sua cultura assim como na questão religiosa. Recife é uma cidade ímpar”, afirmou. A vereadora afirmou que tem recebido “diversas demandas como presidente da Comissão de Direitos Humanos. Com o olhar da misericórdia de Deus, entendo que todas as pessoas são digna e merecedoras de viver numa cidade maravilhosa. E usar todos os espaços e viver esta cidade”. Ela lembrou que foi a primeira vereadora a receber o Prêmio Amiga do Comércio, pela Fecomércio, e que pretende atuar na frente com esse objetivo.
O vereador Ivan Moraes (PSOL), que não faz parte da frente, esteva na reunião. “Não faço parte desta frente porque o meu partido já estava representado. Mas quero ressaltar o compromisso do nosso mandato com o centro do Recife. Com o processo de escuta popular para requalificar o centro. Precisamos pensar a questão da moradia, o comercio popular, o comercio formal”. Ivan Moraes disse que leu um documento sobre a frente em, defesa do centro e que ela inclui os bairros de Santo Antônio, São José, Boa Vista e Bairro do Recife. “Mas, acho que falta incluir nesta frente os bairros dos Coelhos, o Coque, a Ilha do Leite, e a Soledade”. Ivan Moraes também defendeu que a frente debata a questão do comércio informal e os quiosques da Avenida Conde da Boa Vista e o problema dos prédios desocupados. “A Organização Habitat Brasil disse que há 42 prédios abandonados no bairro de Santo Antônio. Eles precisam de uso ou de alguma solução”.
Após a fala dos vereadores, foi realizada a palestra cujo tema foi: “Centro Recife: presente e futuro pós-pandemia”, pelo consultor em gestão empresarial e de cidades, na área estratégica, Francisco Cunha. Ele é graduado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sócio fundador da TGI Consultoria e do INTG e consultor da Câmara de Dirigentes Lojistas há mais de 20 anos.
Militante do Observatório do Recife e do Movimento Olhe Pelo Recife – Cidadania a Pé, Francisco Cunha editou mais de 40 livros e foi coautor de 12 publicações sobre gestão estratégica. Também escreveu guias históricos-turísticos das cidades do Recife e Olinda e é autor de um livro de fotos do Recife, entre outras publicações de sua autoria.
Francisco Cunha iniciou a palestra falando da formação do Recife. Ele lembrou que a cidade se expandiu a partir do bairro de Santo Antônio; e que desde o povoamento houve um adensamento do centro e das áreas adjacentes. “É uma centralidade antiga, que vem desde o surgimento do porto”.
Ele também disse que esta centralidade, 300 anos depois, mudou de sentido, quando o centro se abriu, em seus eixos, para o subúrbio. “A abertura se dá a partir da Praça da Independência, que até hoje é considerado o centro simbólico e geográfico da cidade. É este centro que está em processo de decadência e descaracterização. “Todavia, o problema e muito maior do que parece”, afirmou.
A partir do século 20, segundo o palestrante, esse adensamento teve como eixo, a Avenida Guararapes, que foi projetada e traçada para ser o principal eixo do centro da cidade. A situação dessa área, hoje, é de abandono. “Já o Bairro do Recife, que faz parte desse centro, reencontrou com sua vocação econômica com o Porto Digital”.
Francisco Cunha disse que há um estudo do Instituto Pelópidas, que baseia as ações da Prefeitura do Recife, dando conta de que há uma parte decadente do chamado centro profundo (delimitado pelos bairros de Santo Antônio, São José e parte da Boa Vista). E também há uma parte esquecida do centro, disse, considerada os bairros de Joana Bezerra, Coque e Cabanga.
“Há um ciclo de esquecimento em curso em alguns pontos do centro do Recife. Uma descaracterização impressionante, com depredações. E uma degradação acelerada e acentuada, de difícil recuperação”, disse. Na parte central, afirmou, há um verdadeiro quebra cabeça histórico. “Nenhum órgão poderá fazer, sozinho, a recuperação do centro. Serão precisos esforços conjuntos. Só a reinvenção da vocação econômica poderá recuperar esses lugares”, disse.
Para Francisco Cunha, o esforço de salvação do centro do Recife tem que ser feito em conjunto: Executivo, Legislativo e a sociedade civil. “Tem que haver uma governança ancorada num conselho consultivo e unidade de gestão, para coordenar os horizontes de curto e longo prazos. É preciso se criar estancia de gestão territorial e mobilizar um plano de desenvolvimento de longo prazo”. O conselho consultivo e a unidade de gestão iriam cuidar, entre outras coisas, da zeladoria, corredor de comércio e coordenar um plano diretor do centro.
Em 23.08.2021.