Liana Cirne discute racismo religioso e piso do magistério

Dois temas foram abordados em um discurso proferido pela vereadora Liana Cirne (PT) nesta segunda-feira (9), durante a reunião plenária remota da Câmara do Recife. Na ocasião, a parlamentar comentou um caso de racismo religioso ocorrido no final de julho, quando um pastor evangélico da capital publicou um vídeo na internet em que associava imagens religiosas de matriz africana pintadas no túnel da Abolição a “demônios”. Ela destacou, ainda, a ação popular que move contra a Prefeitura com o objetivo de garantir o pagamento ao reajuste dos professores da rede pública municipal.

Cirne comunicou que vai oferecer uma representação ao Ministério Público para que o caso de racismo religioso seja apurado. Ela lembrou outro caso de perseguição a seguidores de religiões de matriz africana no Recife: o do terreiro Ilê Obá Aganjú Okoloyá. “É de uma profunda violência que qualquer pessoa seja alijada da sua possibilidade de expressar sua fé e realizar os seus cultos. Sou católica e gosto de propor um exercício de imaginação. Imaginem como seria estar em uma missa e ela ser interrompida. Que o padre fosse interpelado, no meio da missa, e tivesse que prestar esclarecimentos sobre os cânticos que fazemos dentro da igreja. É isso que ocorre há mais de três anos no terreiro de Mãe Amara. Nenhuma celebração religiosa consegue ser concluída sem que os celebrantes sejam interrompidos. As manifestações de ódio religioso somente crescem”.

Segundo a vereadora, a Prefeitura está há 509 dias atrasada na concessão do reajuste do piso salarial do magistério. “Por ocasião dos 500 dias [sem concessão do reajuste], o nosso mandato propôs uma ação popular para obrigar o prefeito a cumprir a lei do piso. O prefeito, João Campos (PSB), já foi intimado para se manifestar e o estamos convidando a deixar de ser réu e assumir o papel de autor, que é uma peculiaridade jurídica que essa ação permite. Estamos convidando o prefeito a cumprir a lei no lugar de recusá-la”.

Ela voltou ao assunto no grande expediente, período da reunião plenária dedicada a discussões de até 15 minutos. Durante a sua intervenção, Liana Cirne argumentou que a lei que obrigou a contenção de gastos durante a pandemia de covid-19 não pode ser usada como justificativa para não conceder o reajuste dos professores. “Eu gostaria de aproveitar o debate para dizer que a lei que estabelece o piso é anterior à Lei Complementar 173, que disciplina o comprometimento do poder público durante a pandemia e veda reajustes. Portanto, o reajuste é aplicável”.

A parlamentar recordou que houve um encontro entre a categoria e a gestão. “Na ocasião, ficou estabelecido um acordo da categoria dos professores com a Prefeitura, concedendo um prazo um pouco mais elástico para conceder o aumento, mas já estamos a 509 dias sem o cumprimento do que foi acordado. Somos professores e consideramos a nossa profissão um sacerdócio, mas ela é também uma fonte de sobrevivência. E é muito ruim que a gente se sinta desvalorizado. Fica mais uma vez o apelo à gestão de cumprir o reajuste do piso salarial”.

Em 09.08.2021