Situação do metrô no Recife é destaque de audiência pública

A situação do metrô no Recife foi o tema de discussão da audiência pública, promovida pelo vereador Tadeu Calheiros (Podemos), na manhã desta sexta-feira (27), via videoconferência. O parlamentar frisou a importância em debater o assunto que contou com representantes das esferas municipais, estaduais e federais. Vários encaminhamentos foram construídos visando melhorias ao sistema de transporte.

Segundo o vereador Tadeu Calheiros, o que motivou a realizar a audiência pública foram conversas trazidas sobre o risco iminente de um colapso do metrô do Recife.  “Esse problema nos trouxe uma imensa preocupação. Buscamos matérias veiculadas na imprensa e resolvemos visitar todas as estações do Recife. Sabemos que o metrô é de competência federal, mas todas as esferas estão juntas. E o mau funcionamento afeta os cidadãos recifenses, pois há um impacto de mobilidade imenso”. 

Tadeu Calheiros citou problemas que estariam ocorrendo no sistema do metrô na capital pernambucana. “ Ocorrem no entorno das estações como a falta de saneamento, capinação, falta de iluminação e acessibilidade. Esses são alguns pontos a serem melhorados. A Estação do Coqueiral, por exemplo, chama a nossa atenção em termos de vandalismo e pichação. As passarelas são perigosas e circulam motos e bicicletas, onde deveria só passar pedestres”. 

O parlamentar ressaltou a importância e empenho dos funcionários da Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU e citou os problemas que estão acontecendo nos equipamentos. “Impressionante esses profissionais da CBTU que vestem a camisa e são altamente capacitados. São 40 trens no sistema em 36 anos de transporte. Destes, 25 foram adquiridos em 1985. Destes 25, 13 estão sem condições de uso. E os demais muitos não tem como acioná-los. São apenas 24 trens em funcionamento e 16 inutilizados. Se não estivéssemos em uma pandemia, estaríamos vivendo um grave problema. Precisaríamos no mínimo de 23 para atender a população. Então se quebrar um, o sistema entrará em colapso”, detalhou Tadeu Calheiros.

Acompanhando a reunião, o vereador Joselito Ferreira (PSB) contou sua história quando trabalhava no metrô e lamentou as deficiências do sistema atualmente. “Hoje estou como vereador, mas minha história é no metrô. Lembro que quando se montava uma locomotiva, perdíamos outra. E a população é quem se prejudica. Precisa haver segurança nas estações. Moro há 55 anos no Barro e se você passa pela estação Wernek, tem um certo trecho que você é assaltado. Muitas vezes o ar-condicionado está quebrado e os vagões viajam lotados. Tem que mudar muita coisa. O Superintendente não pode fazer muita coisa por conta do governo federal. E acho que não pode haver a privatização”

Carlos Ferreira, superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Recife, destacou a importância do metrô para a mobilidade urbana. “Especificamente para as cidades interligadas. O metrô tem o papel de desenvolver os bairros e cidades que estão interconectadas pelo sistema”. O superintendente também enalteceu os servidores da Companhia. “Se não fosse a capacidade técnica dos servidores, seria impossível.  Desenvolvemos placas que custariam R$ 15 mil reais, e produzimos aqui uma que custa R$ 300 reais. A gente tem realmente se esforçado para que o sistema não entre em um colapso total. A situação estaria insustentável se não estivéssemos em uma pandemia”.

O superintendente assegurou que os investimentos no metrô são necessários para um melhor funcionamento. “A partir do momento que você não investe, temos um efeito negativo, consequentemente. As estações vão se degradando, aumenta a falta de segurança e os usuários passam a não confiar mais no sistema por conta das quebras dos equipamentos. Por isso é importante investir. Precisamos de trens mais modernos. Os antigos custam 70% do nosso orçamento. É um problema que vem se arrastando há anos e chega uma hora que não dá mais”, disse Carlos Ferreira.  

Por sua vez, o deputado estadual Wanderson Florêncio (PSC) se colocou à disposição da Casa de José Mariano para debater os detalhes importantes para a melhoria da qualidade do serviço do MetroRec. "A gente pode falar da segurança pública que, fora a privada do metrô, temos a segurança no entorno, e são temas estaduais, assim como os repasses. Toda a mobilização que a gente puder fazer para resgatar o que já foi um dia o metrô do Recife, vamos fazer. Agora, me coloco mais como ouvinte para colher as informações técnicas de quem faz o dia a dia do metrô, para que a gente possa estar sendo municiado das informações e das iniciativas que serão necessárias. Estaremos aqui para colaborar com os encaminhamentos dados ao longo dessa audiência. O transporte público é um dos grandes calos que a sociedade reclama e exige melhorias", afirmou.

Deputado federal e presidente do Podemos em Pernambuco, Ricardo Teobaldo ressaltou as informações e dados levados por Tadeu Calheiros e pelos convidados, além de colocar à disposição toda a bancada da sigla da Câmara e do Senado Federal. "A gente passa a ter conhecimento como o dos 40 trens que existem na CBTU do Recife, apenas 24 funcionam, e que para se obter outros vagões, se leva dois/três anos para adquirir e colocar à disposição do transporte. Estamos na iminência de um colapso maior, sabemos a importância que é. Pode contar com a bancada do seu partido em Brasília. Temos a terceira bancada do Senado Federal. Todos os deputados e senadores estão à sua disposição para que a gente possa descobrir essa audiência e, se for o caso, até para Brasília. Após a audiência, vamos marcar uma ida a Brasília para que você possa levar o resultado dela à presidência nacional da CBTU para que a gente possa, com esse esforço de todos, buscar investimento para o Recife".

O representante da Associação Ferroviária do Nordeste, Leonardo Beltrão, ressaltou a importância do equipamento para a sociedade e a necessidade do apoio dos representantes. "O grande problema que enxergo no metrô é o isolamento em relação ao aspecto político que existia antes de 2016. A partir de 2009 recebíamos as mesmas verbas da CBTU que o metrô de Belo Horizonte e dava para manter dentro de um padrão de qualidade, tanto que recebemos prêmios. A partir daí, a gente implementou o novo sistema da linha Sul, VLT e houve a redução do governo federal em relação aos metrôs. Hoje, temos 71 quilômetros de metrô e VLT, Belo Horizonte tem 28 quilômetros. Transportamos 400 mil passageiros. Quando assumi em 2016, a sorte que a gente teve foi que Bruno Araújo estava como ministro e o aporte do nosso orçamento que era de R$ 52 milhões subiu para R$ 80 milhões. Foi o que deu para sair do sufoco. De lá para cá, existe um interesse maior do governo federal em relação ao metrô, conseguimos mais aporte, mas ainda é pouco para o sistema", lamentou.

Com uma opinião contrária a de Leonardo Beltrão, o vice-presidente do Sindmetro-PE, Luiz Soares, ressaltou que a partir de 2016 "houve uma queda considerável" nos recursos do modal. "E mais recentemente com o novo governo, a gente teve uma queda significativa. Com isso, ao invés de ter os 40 trens funcionando, às vezes só 20 chegam a funcionar por dia. Isso prejudica a vida dos trabalhadores. É importante que a gente cuide da melhor forma para que o metrô não seja privatizado, há conflito de interesses com a empresa que quer privatizar e precisamos denunciar isso", disse.

Luiz Soares destacou os funcionários e defendeu o valor do metrô para a população. “Nós, da categoria, defendemos um metrô público de qualidade e com uma tarifa social garantindo a ida e vinda dos trabalhadores pernambucanos.  Temos profissionais de excelência, que muitos são agredidos pelos usuários e, mesmo assim, atendem bem diante das dificuldades em um sistema praticamente sucateado. Gostaria de parabenizar os maquinistas pelo seu trabalho de excelência”.     

Stenio Cuentro, segundo vice- presidente do Crea-PE, disse do valor que se é atribuído quando um imóvel situa-se nas proximidades do metrô. “Porque facilita a vida das pessoas. O planejamento é a raiz do nosso trabalho. E o metrô perto de casa, a área fica privilegiada e há a valorização imobiliária. Os apartamentos valorizaram 50% em Londres, por exemplo, quando são próximos de uma estação do metrô. E lá em Londres o metrô foi privatizado e foi um desastre. Depois foi reestatizado. É um dos melhores do mundo”.

O engenheiro recordou que o metrô já chegou a transportar 400 mil pessoas por dia e que é possível ampliar a malha porque a capital pernambucana possui espaço (terra) disponível.  “O metrô é interesse da Região Metropolitana do Recife. Infelizmente ele pode parar por falta de peça e por falta de trem. Os investimentos são muito ínfimos diante da necessidade da população do Recife. A estadualização do metrô poderia ser levada em consideração. Temos quilômetros abandonados da antiga Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). O que é mais caro é a terra e ela existe e está disponível. A estação Wernek é um local que tem terra disponível”, explicou Stenio Cuentro.

Simone Osias, gerente geral do Gabinete de Projetos Especiais da Prefeitura , colocou a pasta à disposição. “A equipe técnica da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM pode dar suporte para desenvolver projetos e vamos evoluir no assunto”. Já o vereador Alcides Cardoso (DEM) relembrou que andava de metrô e contemplava o meio de transporte. “Era muito bom. Considero um tipo de transporte muito importante para todos. Conte comigo para ir a Brasília. Sem mobilidade, a cidade não existe. Lembremos que a maioria da nossa população anda de metrô e ônibus”.    

No final da audiência pública, o vereador Tadeu Calheiros anunciou uma série de encaminhamentos: elaboração de um documento com as análises da audiência pública e envio à Comissão de Mobilidade da Câmara, Alepe, secretarias específicas do Estado e Prefeitura. A possibilidade de ir a Brasília com representantes locais para buscar investimentos foi um item citado. Para isso, o parlamentar irá solicitar à Superintendência local sobre a necessidade da ordem dos investimentos. “Para quando formos à capital federal termos os devidos números”. Outro encaminhamento seria solicitar, junto ao governo do estado, o regulamento do passe em relação à integração. “Há uma divergência entre os valores repassados trazendo um certo prejuízo ao metrô. Além disso, pediremos a segurança no entorno e nas estações”, detalhou o vereador.

Outra ação de encaminhamento, segundo Tadeu Calheiros, foi o anúncio de envio de 15 requerimentos à Prefeitura solicitando serviços de capinação, coleta de lixo e acessibilidade. A interação entre Estado e Prefeitura no sentido de viabilizar possíveis projetos de ampliação do metrô foi outro aspecto abordado.  “Lançaremos uma campanha de recuperação do nosso metrô pela grande necessidade que existe. Sou defensor do serviço público”, enalteceu o parlamentar.  

Em 27.08.21