Audiência Pública debate as necessidades do bairro de Passarinho

A vereadora Dani Portela (PSOL) promoveu uma audiência pública, via internet, na manhã desta quarta-feira (29), para discutir as faltas de segurança e lazer no bairro do Passarinho. “É uma comunidade e temas muito importantes para o Recife e para todos e todas que moram no local”. O vereador Ivan Moraes (PSOL) também acompanhou o evento.

Dani Portela fez um retrato da comunidade e disse que conheceu mais o local por meio do Movimento Ocupa Passarinho. “Passarinho é uma área que faz limite com outros municípios e sabemos que essas áreas limítrofes são descobertas, onde um município joga a responsabilidade para os outros. São cerca de 20 mil habitantes, mais de 50% são mulheres. A maioria negras e 20% jovens entre 15 e 24 anos.  Esse levantamento foi feito porque norteia as políticas públicas que devem chegar na área. Conheci o movimento Ocupa Passarinho em 2015, a convite de Ivan Moraes, e essa organização vem trazendo debates importantes para a luta da comunidade. Passarinho tem a terceira pior colocação de rendimento juvenil, portanto, precisamos pensar em políticas públicas”.   

O vereador Ivan Moraes fez questão de destacar o valor da comunidade do Passarinho e a luta por melhores condições. “Passarinho fica em conurbação com as cidades de Paulista e de Olinda e talvez, por isso, é a comunidade do Recife que fica excluído das políticas públicas. Lutamos e conseguimos avanços na área de educação quando implementamos um anexo na escola. E ainda, de forma precária, que fossem realizadas visitas de médicos onde não há posto de saúde. Há muito o que fazer. Temos ausência de espaços de lazer, esporte e cultura e a comunidade está organizada para fazer essa luta. Hoje é o dia de ouvir as pessoas que batalham no Passarinho”.

Um vídeo e uma pesquisa sobre o Passarinho foram exibidos por Anabelly Brederodes, da Casa da Mulher do Nordeste, e Derick Silva, da Visão Mundial. No vídeo foram mostrados depoimentos das pessoas que vivem na comunidade. “Eles pedem lazer, não tem área para praticar esportes, nem praças. As crianças brincam na rua sem segurança. Fizemos essa escuta e elaboramos uma pesquisa importantíssima, onde as mulheres e crianças estavam gritando para serem acolhidas nas suas dores. A comunidade inchou diante do habitacional construído pela Prefeitura e enxergamos que o estado deveria fazer uma pesquisa e chegar mais perto desse território”, disse Anabelly Brederodes.

O perfil da pesquisa trouxe números e foram detalhados na audiência pública. “74,1% das respondentes são mulheres e 25,9% são homens. 60,1% são jovens e adultos entre 16 até 40 anos e 39,99% entre 41 e 61 anos. A maioria das entrevistadas são negras e o que muito nos chocou é que 47,2% não possuem ensino fundamental completo; 7,5% concluiu o ensino fundamental e 39,8% sobrevivem com menos de um salário mínimo. 44% estão desempregados e 28,8% no trabalho informal. E o único espaço de convivência disponível é a igreja”, completou Anabelly Brederodes.

Derick Silva disse que o processo da pesquisa é para tentar compreender a dinâmica no território do Passarinho e tentar compreender o que falta para atender na região. “Pegamos dados da plataforma Fogo Cruzado com levantamentos da presença de agentes de segurança, mortos e feridos na RPA3 e Passarinho. Segurança pública é a não repressão, não ostensividade e a não criminalização do território pela falta de políticas públicas ou pela vulnerabilidade do território. Dos dados que a gente tem, no Recife entre 1 de janeiro de 2019 até 31 agosto de 2021, foram registrados 1.595 tiroteios, sendo 309 dentro da RPA3. O que representa 19% em relação ao total. Dos 309 tiroteios na RPA3, 42 foram em Passarinho. Considerando que a Região tem 29 bairros, Passarinho ocupa a segunda posição, atrás somente de Nova Descoberta”.

A moradora de Passarinho, Evandra Dantas, falou que a situação não era boa na comunidade e fez sugestões ao poder público. “Falta tudo aqui. Essa pesquisa foi ótima e bateu no foco do que a gente passa. Temos um conselho de moradores e o poder público poderia colocar cursos para jovens. Tem aula de Karatê e Taekwondo, à noite, mas nem todo mundo tem acesso. Se a Prefeitura promovesse algo a mais lá, todo mundo teria acesso. O conselho passa o dia fechado, sem nada, e a comunidade é grande e necessita muito. Os dois postos de saúde aqui não abrangem a população. Queríamos que olhassem mais para a gente”.

Daniel Saboya, secretário de Articulação e Relações Comunitárias da Secretaria de Infraestrutura, enfatizou que as pesquisas norteiam as ações públicas dentro das comunidades e falou das ações da pasta. “Para a pauta de segurança, estamos com implementação das luzes de led, desde a gestão passada, e atingiremos, em 2021, 100% toda a cidade do Recife. O LED está ajudando muito as comunidades e Passarinho já entramos com algumas vias. Acredito que ainda têm algumas escadarias e ruas ainda faltam o LED. No mês de outubro, haverá um mutirão de intervenções em escadarias com pendências de iluminação e deixarei meu contato para que alguém da comunidade avise.  Em relação ao lazer, tem uma praça pequena que houve revitalização. É preciso que a Emlurb retorne. Coloco-me à disposição para visitar e a comunidade pode dar a sugestões. Esse primeiro ano do prefeito João Campos, a gestão tem buscado recursos, inclusive operações de crédito, para investir na cidade”.

José Carlos, diretor responsável pelas praças e parques da Emlurb, parabenizou a audiência pública e a comunidade que acompanhou a transmissão do evento. “É importante ouvir os anseios da população. É uma área que carece muito de espaços de encontro da comunidade, onde as pessoas desenvolvam suas atividades físicas, desde uma caminhada, ou o simples fato de rever amigos e vizinhos. Existem algumas dificuldades sobre a definição desses espaços definidos e que ainda não foram contemplados com uma ação de governo. É importante discutirmos com a população esses espaços, ambientes de estar, mesinhas com bancos, bancos de jardim, uma sombra para as pessoas se encontrarem, uma coberta para jogar dominós até quadras poliesportivas, pistas para caminhada e academias”.        

Visitas na comunidade de Passarinho e escutas da população foram sugeridas por José Carlos. “Vamos aos locais com potencial para o desenvolvimento de atividades para que, juntos, possamos formatar um plano de ação específico para a área. Coloco-me também à disposição, assim como Daniel Saboya, para tornar tudo isso concreto e que a comunidade seja atendida”.

O coronel Adalberto Ferreira, secretário executivo da Secretaria de Segurança Urbana, lembrou que o Passarinho necessita de um equipamento semelhante a um Centro Comunitário da Paz-COMPAZ e sugeriu um intercâmbio entre poder público e comunidade. “O que falta em Passarinho era um equipamento dessa qualidade. Com oportunidade que se dá às crianças, jovens, e que possam praticar esportes, esforço escolar e atendimentos de demandas no dia a dia. Vários órgãos funcionam num mesmo local. A gente poderia sugerir a presença do órgão do estado, a Polícia Militar, que é o responsável. Um intercâmbio entre a Secretaria de Segurança Urbana, o Batalhão da área e a comunidade pode ser feito e propor ações de aproximação da comunidade com o efetivo. A partir daí, podemos diminuir conflitos que acontecem com muita frequência”.

Representando a Secretaria de Esportes, João Marcelo falou que a democratização do esporte estava sendo tentada na secretaria e afirmou que a pasta estaria presente na visita a Passarinho. “A democratização do esporte é tanto no gênero, quanto nas modalidades. Estamos querendo tentar desconstruir o conceito somente do futebol e dar oportunidade a outras modalidades. Coincidentemente, duas semanas atrás, nossa equipe esteve em Passarinho para instalação de um módulo Boa Forma. É um projeto em que as pessoas façam os seus exercícios e todos tenham acesso aos equipamentos, a exemplo da avenida Boa Viagem. Atendemos em torno de 30, 40 adultos e idosos com ginástica laboral em Passarinho. A audiência é muito importante para a comunicação e comprometo-me de estar no mês de outubro para escutar as demandas”.

Após a finalização dos debates, várias sugestões de encaminhamentos foram citadas. Dentre elas: visita para revitalização da praça; possibilidade da construção de uma Academia da Cidade; utilização de um espaço, em frente ao habitacional, visando implementar uma escola-creche e área de lazer para a comunidade; reunião sobre segurança cidadã com mediação do poder estadual; fortalecer o movimento do conselho de moradores; abrir escola no final de semana para a realização de cursos; visita com Secretaria de Esportes com o intuito de analisar o espaço.

Em 29.09.21