Câmara do Recife celebra Dia da Visibilidade Lésbica

No dia 29 de agosto de 1996, foi realizado no Brasil o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, um ponto histórico da organização pelos direitos dessas mulheres no País. Atualmente, o 29 de agosto marca o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, que serve para lembrar essa história de lutar e apontar para a ausência de políticas voltadas para esse grupo social. Nesta terça-feira (28), a Câmara do Recife promoveu, por meio de videoconferência, uma reunião solene para celebrar esse Dia com a presença de ativistas e pesquisadoras. O evento partiu da iniciativa do mandato da vereadora Liana Cirne (PT).

Ao discursar na tribuna virtual, a parlamentar refletiu sobre o porquê da demanda por visibilidade para as mulheres lésbicas constar no nome da comemoração. “As lésbicas lutam pelo respeito, pelo reconhecimento de sua dignidade, pelos seus direitos. São direitos essenciais, ao ponto do Dia falar em visibilidade. A lesbofobia é tão gritante que ela grita impondo um silenciamento, um apagamento, uma invisibilidade. A data pede que as mulheres lésbicas sejam contempladas por políticas públicas de saúde, de habitação, educação, habitação, segurança”, disse.

Cirne explicou que, por conta da falta de visibilidade, há escassez até de informações sobre as necessidades e problemas por que passam as lésbicas. “Temos ‘não-dados’ sobre a violência contra a mulher lésbica, sobre a exclusão das mulheres lésbicas ao acesso às políticas públicas. Esses ‘não-dados’ são decorrência direta desse apagamento. Essa afirmação se dá nos espaços não institucionais, mas tem que reverberar nos espaços institucionais. Por isso, entendemos que esta reunião solene na Câmara Municipal do Recife era uma necessidade”.

Na reunião solene, Liana Cirne convidou à tribuna virtual sete ativistas lésbicas que receberam votos de aplauso do Legislativo municipal após requerimentos de seu mandato. São elas: Ana Carla da Silva Lemos, Ana Paula Lopes de Melo, Daniele Batista (Danny Camará), Iris de Fátima da Silva, Liliana Maria Cabral de Barros, Maria Daniela de Mendonça Motta, e Rivânia Rodrigues da Silva.

Secretária LGBT do PT de Pernambuco, Rivânia Rodrigues fez um agradecimento às parlamentares e aos parlamentares que discutiram os votos de aplauso. “Quero dar aplausos a todos os vereadores e todas as vereadoras que fazem a Câmara do Recife por respeitar e entender a nossa pauta. Não é uma mera pauta sexual, mas uma pauta política transversal. O que queremos é a garantia do direito à cidadania das mulheres que amam mulheres”.

Pesquisadora do Núcleo de Família, Gênero e Sexualidade, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ana Carla Lemos tratou da história e do sentido do Dia da Visibilidade Lésbica. “É um dia de luta e muita resistência. É muito importante que a gente reconheça a luta das pessoas independentemente de filiação partidária. E, independente da orientação sexual, a lesbianidade é um ato político contra o patriarcado e o machismo. É rever o papel do que é ser uma mulher no mundo, especialmente na conjuntura em que nos encontramos”.

Também professora da UFPE, Ana Paula Melo falou sobre as consequências políticas da vida pessoal. “Aprendemos desde muito cedo que anunciar-se uma mulher lésbica é algo que se faz a partir de um lugar político. Quando anunciamos ser uma mulher lésbica, falamos que queremos romper com estruturas que segregam e oprimem mulheres. A identidade sexual parte do pressuposto de que as pessoas são livres para amar e demonstrar o seu afeto”.

Integrante da Articulação e Movimento das Travestis e Transexuais de Pernambuco, Maria Daniela Mendonça disse que a solenidade tem um valor simbólico importante no atual momento do País. “Este ato de hoje tem um grande simbolismo. Parabenizo a vereadora Liana Cirne pela coragem. Sabemos o tempo em que estamos, com uma grande onda de conservadorismo. Enquanto travesti lésbica, acho importante pensarmos a invisibilidade das mulheres lésbicas de Pernambuco. A gente sabe dos apagamentos que a gente sofre”.

Representante da ONG Cidadania Feminina, Liliana Barros fez questão de reverencias as mulheres que construíram a luta por direitos civis no passado. “Eu me sinto muito honrada pelo voto de aplauso. Em meu nome, saúdo a ancestralidade e quem veio antes de mim. Homenagear mulheres lésbicas é um grande avanço para a sociedade, diante das lutas e desafios diários que enfrentamos em uma sociedade tão lesbofóbica, racista, patriarcal”.

Fundadora do Grupo Amhor, Iris Silva afirmou que a reunião solene desta terça-feira concretiza aquilo que se espera dos parlamentares do Recife. “Quando uma mulher lésbica luta, não é só pela questão do sentimento, mas por pautas políticas, por uma democracia diferente. A vereadora, desde que assumiu esse mandato, vem cumprindo o papel de uma parlamentar: dar voz a quem não tem voz, reconhecer quem não é reconhecido, dar dignidade a quem não tem dignidade. O papel de um vereador é construir para quem vive na exclusão”.

Danny Camará, que integra o Movimento dos Povos Tradicionais das Cidades, foi outra participante a saudar aquelas que lutaram por direitos no passado e apontou a necessidade de fomentar pautas inclusivas na Casa de José Mariano. “Estou aqui hoje porque outras vieram antes de mim e fizeram parte de uma luta árdua e de resistência. Devemos fortalecer essa Câmara Municipal para termos mais mulheres como Liana. A questão é resistir”.

Gestora da política LGBT da Prefeitura do Recife, Luciana Silva representou o Poder Executivo na reunião. “Para mim, é uma grande satisfação estar aqui neste momento. Essa luta não nasce de hoje, vem de lá de trás. Para mim, é uma honra ser mulher lésbica, mulher negra, gestora de uma política dentro da cidade do Recife e ocupar espaços de fala”.

Terceiro-secretário da Câmara, o vereador Zé Neto (PROS) presidiu a reunião solene e congratulou Liana Cirne pelo evento. “Quero parabenizar Liana Cirne por esta iniciativa que se traduz em inclusão e igualdade. É isso que, nós, como representantes do povo do Recife, devemos fazer aqui na Câmara”.

28.09.2021