Câmara do Recife discute segurança pública de Boa Viagem
Ao dar início à audiência, Muniz contou que o problema da insegurança tem sido uma reclamação constante de moradores do bairro. “Eu sou morador e vivo o bairro de Boa Viagem. Recebo muitas demandas de lá por rede social, por pessoas que me abordam no dia a dia, por e-mails e ligações ao meu gabinete. Veio a necessidade desta audiência pública para que a gente possa entender um pouco o que está acontecendo com a violência”.
O vereador apresentou dados recentes sobre os crimes contra o patrimônio no Recife e repercutiu notícias publicadas em jornais. “Houve um grande incremento desses crimes entre março e agosto deste ao. Isso tem reforçado a sensação de insegurança. Não estamos colocando a culpa na Polícia, mas queremos saber que medidas estão sendo tomadas”.
Um dos participantes da audiência foi o coronel Adalberto Farias, secretário-executivo de Gestão em Segurança Urbana do Recife. “O bairro de Boa Viagem, por agregar um poder aquisitivo mais elevado, sempre foi um atrativo maior para a criminalidade. A preocupação com o bairro é antiga”, contextualizou.
De acordo com Farias, a Prefeitura trabalha para lançar um projeto de monitoramento inteligente agregado aos sistemas de vigilância do setor privado. Com isso, suspeitos de crimes poderão ser identificados em vários pontos da cidade. Além disso, estuda-se a criação de uma central de monitoramento permanente que ficaria localizado no Segundo Jardim de Boa Viagem.
“A Guarda Municipal já atua nos equipamentos públicos do bairro. Temos patrulhamento efetivo no parque Dona Lindu e no Segundo Jardim. As nossas viaturas operacionais têm feito um trabalho ostensivo na orla de Boa Viagem. Mas a nossa Guarda não é armada e não age em áreas onde há ações de meliantes que possam estar armados”, afirmou o secretário-executivo.
Polícia ostensiva - Após a fala do coronel Adalberto Freitas, o comandante do 19º Batalhão da Polícia Militar, major Sandoval, representando as polícias Militar e Civil, além da Secretaria de Defesa Social, afirmou que a missão do grupamento no bairro é “evitar que o crime aconteça, através de nossa presença nas ruas”. O batalhão cobre oito bairros do Recife, entre eles Boa Viagem. “Foi dito nesta audiência que o bairro é um retrato da realidade da cidade, com suas belezas e contradições, mas eu diria que é um pouco mais: temos mensalmente dois milhões de pessoas que circulam no Shopping Recife e transitam naquela área; nos finais de semana, na orla, a quantidade de pessoas que vai à praia é o equivalente ao público que vai aos estádios de quatro clássicos de futebol. A gama de possibilidades de cometimento do crime aumenta consideravelmente”, disse.
O major Sandoval observou que a missão dos policiais é cumprida, basicamente, sob demanda. “Fazemos o planejamento, mas agimos pelas notícias-crime eu nos chegam, pelos registros. Nesse casos, fazemos remanejamento do policiamento”. Ele comentou que os índices de criminalidade aumentaram entres os meses de junho a agosto, mas que os dados preliminares deste mês já confirmam uma redução de 17% dos casos. “Nós trabalhamos semanalmente nos índices e fazemos nossos reajustes de lançamento de acordo com a mudança no quadro de criminalidade”, explicou. O major afirmou que é importante que a população procure os meios de comunicação para divulgar os casos, mas que “também procure as delegacias e informe as ocorrências, para que nós possamos trabalhar”.
Para o major Sandoval, “a Polícia não pode ser vista como única solução para tudo” e ele entende que o mais eficaz no combate à criminalidade é “a união dos meios de segurança com a comunidade”. Deu como exemplo, o trabalho que é feito através de cursos de segurança com porteiros e síndicos de condomínios. “Este mês estamos concluindo o oitavo curso para condomínios dos segundo e terceiro jardins de Boa Viagem. Também já fizemos esses cursos em Setúbal e vamos expandir a ideia”.
Vereadores - Na sequência, falaram os vereadores que estiveram presentes na audiência pública. O vereador Tadeu Calheiros (Podemos) disse que tem muito orgulho do trabalho que é feito pelos policiais militares e pediu para que a audiência púbica não fosse vista como uma queixa. “Sabemos do esforço da Polícia Militar e da Guarda Municipal para realização dos trabalhos. Mas eu queria ressaltar necessidade de aumento do efetivo policial”, disse. Ele citou uma matéria publicada em jornal local, em dezembro de 2020, dizendo que apesar do aumento da violência, na época, o estado de Pernambuco tem um déficit de 10 mil homens. “Este ano, no entanto, foi colocado apenas 750 policiais a mais nas ruas”
O vereador Alcides Cardoso (DEM) também disse que tem “muito orgulho da Polícia Militar” e que, pelo seu desejo, os cidadãos sairiam às ruas cumprimentando os policiais e dizendo a eles: “Tenho orgulho de você”. O vereador defendeu a tese de que a segurança pública deveria ser reforçada com uma Guarda Municipal que fosse treinada pela Polícia Militar e que trabalhasse armada. “É uma solução, que defendo”.
O vereador Zé Neto (PROS) considerou que o tema da audiência pública foi relevante. “Quero registrar que a questão da segurança pública está atrelada ao momento econômico, ao desemprego que passamos. Isso eleva os índices de violência e criminalidade”. Ele enalteceu o trabalho das polícias “que avançam de forma responsável através do trabalho da inteligência e com integração”. Também enalteceu as mudanças que foram feitas no estado, a partir da gestão do então governador Eduardo Campos, “que trouxe o tema da violência para dentro do Palácio do Campo das Princesas, com o Pacto pela Vida”. Zé Neto também lembrou que se a Central de Polícia da Praça Boa Viagem funcionasse, “ajudaria bastante no acompanhamento mais efetivo”.
O vereador Fred Ferreira (PSC) disse que reconhecia que o déficit no número de policiais dificultava no combate à criminalidade e registrou dois pontos de violência constantes em Boa Viagem: um dos pontos é a Via Mangue e o outro fica localizado em frente a edifícios construídos depois da ponte do Cabanga. “Lá ocorrem, sobretudo assaltos, à noite. São roubos de bikes”. O vereador Dilson Batista (Avante) disse que foi policial militar por 16 anos. “Aqui, na Câmara Municipal, há policiais militares, civis e guardas municipais. Esta pauta da violência será muito presente nesta legislatura. Talvez venha a ser a mais importante. Estamos empenhados na segurança pública”.
No final, além das perguntas dos vereadores, os convidados também tiveram a oportunidade de responder a perguntas de alguns moradores do bairro que enviaram questionamentos para o gabinete do vereador Paulo Muniz. Diante das respostas, o vereador concluiu: “Quero dizer que é preciso termos mais investimentos e mais atenção para com as polícias”, Paulo Muniz disse ainda que, como a Polícia Civil não enviou representantes para a audiência pública, “a nossa próxima será apenas com a Civil”.
Em 29.09.2021