Reunião pública debate prevenção ao suicídio e valorização da vida
Ana Lúcia ressaltou a importância da discussão sobre a temática, que proporciona vários debates ampliados na campanha do Setembro Amarelo, e observou que "isso não quer dizer que não haja a importância de falarmos sobre o suicídio todos os meses". "A atenção à prevenção ao suicídio é ainda mais importante agora, depois de muitos meses convivendo com a pandemia da covid-19. Como uns dos muitos fatores de suicídio, a gente acrescenta a perda de emprego, estresse financeiro e isolamento social ainda muito presente em nossa sociedade. A nova orientação da OMS é um caminho para intensificar esforços de prevenção ao suicídio.
Segundo a parlamentar, jovens entre 15 e 29 anos tem o suicídio como a 4ª principal causa de morte, ficando depois de acidentes de trânsito, tuberculose e violência. "Mais homens morrem de suicídio do que mulheres, 12,6 por cada 100 mil homens em comparação a 5,4 por cada 100 mil mulheres. Esta é uma breve anunciação de quanto devemos nos debruçar na prevenção ao suicídio e valorização da vida", afirmou.
Sinais de alerta - A coordenadora do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rosinha Barbosa, apresentou algumas ideias e ações para a prevenção do suicídio e promoção da saúde mental, além de apontar alguns sinais de alertas. "A pessoa se suicida quando está querendo se livrar de alguma coisa muito difícil. Em 2019, o suicídio se encontra entre as dez primeiras causas de morte, e está em todo o mundo desde meados do século passado e, por isso, a OMS e a Associação Panamericana de Saúde lançaram, em 2017, uma orientação para os pais, professores, profissionais de saúde e jovens, já que em 2016 o suicídio foi a segunda maior causa de morte dos jovens, para que as pessoas vissem sinais de alerta e buscassem ajuda". O Projeto de Extensão de fluxo contínuo da UFPE de Promoção da Resiliência e Prevenção ao Suicídio está ativo desde 2016 e procura investigar ações para promoção da resiliência e prevenção de comportamentos suicidas.
Alguns dos sinais de alerta apresentados por Rosinha Barbosa foram: tentativas prévias de suicídio. antecedentes familiares, depressão/ansiedade, passar por eventos estressantes, falta de interesse, isolamento, irritabilidade, sentir-se aprisionado, aumento do uso de substâncias psicoativas, doenças crônicas.
A coordenadora também apresentou algumas estratégias de prevenção, sendo elas: acompanhar pessoas que tentaram suicídio e prestar apoio, sensibilizar jovens, pais, docentes e trabalhadores de saúde, identificar e tratar os transtornos mentais, capacitar profissionais de saúde e educação para prevenção ao suicídio, restringir acesso a meios letais comuns, realizar intervenções específicas para grupos mais vulneráveis, difundir de forma responsável informações em meios de comunicação, aprimorar o registro de análise dos suicídios.
A presidente do 16º plenário do Conselho Regional de Psicologia, Alda Roberta Lemos, explicou que a psicologia tem um compromisso social que defende os direitos humanos, respeita a diversidade, diferenças e possibilidades do ser humano, e é uma ciência laica. Ela destacou o "homicídio social" como um dos grandes fatores de suicídio. "É importante que a gente entenda que algumas situações da cultura e da desigualdade social favorecem e estimulam a anulação da vida das pessoas. Costumo dizer que, muitas vezes, a nossa condição social faz homicídios sociais e que em setembro a gente lembra que tem gente pensando em se matar. É importante ter um olhar global, o ano inteiro, com propostas e programas como a coordenadora apresentou. Tem que ser o ano todo para entender que a angústia individual ou coletiva leva alguém a perder a esperança pela vida, romper o vínculo, desacreditar".
"Grande parte da população não tem acesso a serviços adequados de cuidado, quando as pessoas divulgam 'procure um profissional de psicologia', me traz uma inquietação, porque a gente sabe que quem é classe média assalariada não tem condição de manter um tratamento de psicoterapia regularmente, e um tratamento para a família nessa necessidade", explanou Alda Roberta.
Ela expôs que não são apenas pessoas que demonstram tristeza ou isolamento que podem cometer suicídio. "A gente precisa quebrar esse mito. Não tenho dúvida que é muito mais frequente e prevalente, mas é importante lembrar que psicóticos que têm neuroses de ansiedade, transtorno bipolar, dependência de droga, déficit de atenção e hiperatividade podem levar pessoas a pensar ou tentar suicídio, e a pessoa precisa estar atenta para não estigmatizar. A gente tem um mito de quem fala não faz; algumas pessoas estão falando desse desejo, pedindo a sua ajuda. É importante oferecer cuidado, suporte, trabalhar com as famílias a questão do preconceito e estigmatização".
O psicólogo Anderson Santiago ressaltou a necessidade de viabilizar, falar e fortalecer a rede de cuidados no período do Setembro Amarelo. "Temos uma rede de cuidados e saúde muito forte, que é o SUS. Suicídio é uma questão de saúde pública que preocupa, foi publicado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública em julho deste ano, que em 2020 cerca de 12.895 mil pessoas tiraram as suas próprias vidas. Esse é um percentual 0,4% maior que 2019, quando 12.740 mil pessoas foram vítimas do suicídio, o que leva a 35 suicídios por dia. Como não problematizar essa questão e não envolver a sociedade nesse debate?", questionou
O psicólogo também chamou a atenção para a pandemia da covid-19. "A gente temia que com a pandemia a situação fosse se agravar, já que o mundo foi duramente afetado pela pandemia e temos vários fatores que tornam a questão complexa e difícil de lidar. Mas mesmo com esse agravo, o aumento de suicídio não foi significativo. A gente fica, de certa forma, aliviado por um lado, e surpreso por outro. A expectativa catastrófica no início da pandemia era de que isso ia quintuplicar os dados e a gente ia ter um trabalho enorme de lidar com a saúde mental das pessoas, mas a pandemia permitiu que a população se tornasse consciente para esse cuidado com a saúde mental e cada vez mais vemos pessoas procurando acolhimento profissional", relatou.
Medicamento aliado à psicoterapia - Por sua vez, o psicólogo e especialista em neuropsicologia, Carol Costa Júnior, explicou a necessidade do tratamento com medicação aliado à psicoterapia, para que não seja tratado apenas o sintoma, mas também a causa, "medicamento é importante, mas é um auxiliar". "Na pandemia houve um grande aumento da procura do profissional que por muito tempo foi desvalorizado. O mundo é depressivo, a sociedade anda adoecida e o aumento é por conta do adoecimento. Hoje em dia cada mês é de uma cor e um tema, e isso faz com que, no mínimo, a gente pense nisso, venha aqui e comece a falar sobre o tema, opiniões, plano de ação, e isso tem que ser feito para gerar ao menos uma reflexão. O suicídio está presente em todo momento histórico, faz parte da humanidade e, dependendo do momento, ele aumenta ou diminui", disse.
Representando a Rede de Apoio Institucional da Coordenação de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Recife, Luiz Carlos analisou o aumento da busca por serviços de saúde mental nos últimos dois anos. "A pandemia é um evento em que a humanidade passa por momentos de grande tensões e estresse; há um certo adoecimento mental. Temos que nos preocupar com a qualidade de vida do cidadão e esse tema não poderia ficar de fora. É impossível falar em prevenção à saúde mental sem tocar nesse tema que temos trabalhado em diversas frentes durante esse processo de pandemia".
Luiz Carlos destacou, ainda, a inovação do teleatendimento. "A gente descobriu tardiamente o trabalho do teleatendimento com a restrição do fluxo de pessoas nas unidades de saúde e foi uma surpresa. Foi um serviço que funcionou. A população entendeu naquele momento de dificuldade de sair de casa e chegar à unidade de saúde. A gente hoje tem essa ferramenta permanente de uma oferta de escuta por telefone e outros meios digitais que trouxeram uma aproximação e se consolidaram como uma ferramenta bastante importante".
Em 29.09.2021