Reunião pública na Câmara tem Dia do Professor como tema
Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Cirne deu um relato sobre a influência dos profissionais da educação na sua vida e refletiu sobre as perseguições que professores sofreram no passado e nos tempos de hoje.
“Sendo professora há 25 anos, quero falar de quando fui aluna. Em Porto Alegre (RS), estudei em uma escola da periferia. Lá, tive professoras que mudaram a minha vida. Hoje estou com 50 anos, mas foi aos cinco que comecei a aprender quem eu me tornaria”, disse. “Eu estudei em uma escola em que, nas segundas-feiras, via os meus colegas desmaiarem de fome. As minhas professoras procuravam dar para a gente um olhar crítico em um tempo de repressão, de ditadura militar, e sofriam uma forte censura e controle de sua atividade. É algo muito parecido com o que vivemos hoje, com o Movimento Escola sem Partido. Mas isso é um orgulho para nós: fomos eleitas e eleitos adversários de um governo genocida”.
Ao apontar a relevância da reunião pública, a vereadora não deixou de lembrar o centenário do patrono da educação brasileira, Paulo Freire, e lembrou seus ensinamentos sobre educação e comunicação. “O desafio da comunicação é muito grande. Precisamos fazer um registro histórico e uma demarcação ideológica em um momento de tantas perseguições. Esta reunião, para o nosso mandato, é apenas uma página, mas uma página importante, do capítulo que estamos escrevendo em defesa da educação de qualidade no nosso país neste momento de tantos retrocessos”.
A primeira convidada a falar na ocasião foi a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Erika Suruagy – que foi alvo de um inquérito movido pelo Ministério da Justiça, em razão de outdoors críticos ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ano passado. “Naquele momento, dissemos que Bolsonaro era um senhor da morte chefiando o Brasil, com mais de 120 mil mortes por covid-19. Por isso, fomos perseguidos e tivemos que responder a um inquérito. Temos um governo que nos elegeu como alvo. E não é porque não sabe o que faz, mas porque existe um projeto de destruição do país. Para fazer isso, precisa destruir a educação e os trabalhadores e trabalhadoras da educação que constroem este país todos os dias”.
Doutor em educação e pesquisador da educação inclusiva, o professor Ernani Ribeiro tratou do tema na reunião. “Só existe inclusão porque existe uma sociedade excludente, sem igualdade para todo mundo. Para os professores, essa práxis é o papel politico de despertar e trazer para os outros o olhar para pensar um futuro que responda a nossas singularidades de forma mais humana”.
Coordenador do Laboratório de Ecologia, Laboratório de Avaliação, Recuperação e Restauração de Ecossistemas, da UFPE, o professor Gilberto Rodrigues frisou que a docência é fundada na preocupação com o futuro dos alunos e da comunidade. “Trabalhamos com comunidades tradicionais: pescadores e pescadoras, marisqueiras, catadores de siri, pequenos agricultores. Estamos trabalhando com povos indígenas xukuru, de Pesqueira, e com os fulni-ô de Águas Belas. O meu agradecimento vai para todo o nosso laboratório, aos estudantes que fazem a diferença. É a eles que dedicamos ao nosso tempo”.
Para a professora Denise Botelho, líder do Grupo de Estudos em Educação, Raça, Gênero e Sexualidades Audre Lorde, da UFRPE, destacou que a educação crítica não pode ser baseada em apenas uma faceta dos indivíduos, como a classe. Ela abordou, também, o cenário de dificuldades que os professores enfrentam no atual contexto político, econômico e sanitário. “Temos a missão de estimular nossos alunos, em especial aqueles das instituições públicas, apesar da barriga vazia neste estado de calamidade por conta da pandemia e da omissão do Governo Federal. Mesmo no ensino remoto e na pandemia, precisamos trazer o conhecimento para as salas de aula”, afirmou. “A perspectiva do Grupo de Estudos é despertar as alunas e os alunos para as interseccionalidades de gênero, de raça, de sexualidades e de classe. Entendemos que os fenômenos sociais precisam ser vistos na sua totalidade”.
Representante do projeto Guri, o professor José Luís Simões enalteceu a iniciativa da vereadora Liana Cirne e afirmou que o Dia do Professor deve servir para buscar avanços para a educação. Ele se pronunciou por meio de uma tradução simultânea feita por José Luís Simões. “O Dia do Professor é um momento muito importante para todos os espaços e comunidades do país. É muito importante o movimento de aprofundarmos e buscarmos novos projetos de lei em apoio à educação. A educação se fortalece e teremos um futuro para pensar novas perspectivas”.
Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Cidadania da UFRPE, o professor Moisés Santana pediu, no início de sua intervenção, um minuto de silêncio em respeito às vítimas de covid-19 no Brasil. Em seguida, ele enalteceu a memória de Paulo Freire e afirmou que os educadores vão superar os ataques sofridos atualmente. “Em 1986, fizemos um conjunto de atividades para preparar a sociedade para a Assembleia Nacional Constituinte. Conseguimos uma Constituição Cidadã, com muitos direitos firmados. E, hoje, estamos vivendo sob a égide da destruição desses direitos. Mas não conseguirão. Estamos firmes. A universidade e a ciência estão sendo agredidas, mas vamos mostrar que somos capazes de criar, a partir da agressão que vivemos, um futuro e uma educação do bem viver que recupera aqueles que foram excluídos”.
Em 20.10.2021