Cida Pedrosa destaca Título de Cidadã do Recife a Chopelly Glaudystton

A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) ressaltou, na reunião Ordinária da Câmara do Recife desta segunda-feira (22), o projeto de decreto legislativo de sua autoria e do vereador Hélio Guabiraba (PSB), que concede o Título de Cidadã do Recife a Chopelly Glaudystton Pereira dos Santos. A parlamentar salientou a importância da homenageada para o Recife que, como mulher trans, dedica a vida à luta contra a transfobia, com destaque para a inclusão de mulheres e homens trans no trabalho. O projeto foi aprovado na Casa com 24 votos favoráveis e quatro contrários.

"Começo a minha fala saudando todos os corpos oprimidos desse Brasil. Os corpos das mulheres trans, travestis, dos homens trans, das mulheres e homens negros e negras, de todos aqueles que, por não ser eurocentrico, branco, hétero, são chicoteados pela sociedade. A palavra é essa: chicoteados", disse a vereadora ao iniciar o seu pronunciamento. 

De acordo com a parlamentar, ao destacar o projeto de decreto legislativo de número 20/2021, após passar por muitos embates na vida ao assumir seu corpo transexual, Chopelly Glaudystton foi aprovada em um concurso público e resolveu se dedicar à inclusão de pessoas trans. "Ela é funcionária pública, mas não quis se bastar apenas nela por ter resolvido a sua vida, ela resolveu se dedicar à luta contra LGBTQIfobia, com recorte pela inclusão de mulheres e homens trans no trabalho, com acolhimento, luta contra a violência desses corpos. Ela criou, junto com outras mulheres visionárias, a AmoTrans (Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco), que vem prestando um trabalho maravilhoso ao tentar desmistificar e colocar na sociedade que esses corpos existem, que essas pessoas existem e precisam ser respeitadas e respeitados". 

A vereadora explicou que a pauta que estava sendo discutida era sobre o Título de Cidadã do Recife, não sobre um processo em andamento da vereadora Michele Collins (PP) contra a Articulação, que divulgou uma nota contrária um pronunciamento da vereadora, em junho deste ano, após a parlamentar ter se posicionado contra um projeto. "O processo está em andamento. Vamos tirar a venda, o que está posto aqui é se a Câmara do Recife será a primeira do Brasil a conceder um Título de Cidadã a uma mulher trans. O que está em votação não é a contenda ideológica e, agora, jurídica, entre a vereadora Michele Collins e a AmoTrans", afirmou Cida Pedrosa. 

A autora do projeto comentou que conhece Chopelly Glaudystton há mais de 10 anos e sabe de toda a trajetória dela. "Como é bonito ver o quanto ela cresceu no movimento e o quanto, cada vez mais, ela se torna uma referência nacional. Pasmem, estamos falando de uma mulher que tem assento no Conselho Nacional de Direitos Humanos. Será que essa pessoa que tramita, anda, luta, é reconhecida no Brasil inteiro pela luta pelos direitos humanos, luta anti-LGBTQIfóbica, pela inclusão das mulheres trans no trabalho, pelo respeito aos corpos diferentes, será se essa pessoa não merece, desta Câmara de vereadores e vereadoras, um Título de Cidadã?", questionou. 

Em aparte, o vereador Hélio Guabiraba (PSB), coautor do projeto, ressaltou o respeito que Chopelly Glaudystton merece da sociedade. "Quando você conhece a história dela, lá atrás, como eu conheço, de uma pessoa que se preocupa todos os dias a acabar com os maus tratos às pessoas que nasceram para exercer um papel que eu não acho diferente. É muito orgulho defender essa homenagem para Chopelly, hoje. Ela também é secretária municipal do segmento LGBTQIA+, socialista do PSB no Recife, a elegemos há dois meses numa eleição organizada. Só tenho a agradecer pela oportunidade de fazer parte desta honraria e dizer que esta Câmara está fazendo o maior papel que poderia ter feito na cidade. Salve Chopelly, salve o Recife e a Câmara Municipal". 

Contrária ao projeto, a vereadora Michele Collins justificou ter pedido votos contrários ao projeto de decreto legislativo por ter se sentido agredida com a nota emitida pela AmoTrans. "Não tem como dizer que foi uma ação isolada da Associação, e não da pessoa. Se ela [a nota] tivesse dito 'não concordo com Michele Collins', tudo bem, não tem problema nenhum, mas não foi o que aconteceu. Na nota, ela me acusa, eu me senti agredida e gostaria muito que nesse momento houvesse solidariedade dos meus pares nesta Casa por este motivo. Quero deixar claro que embora eu concorde ou não, o meu pedido para votação contrária é pelo fato da pessoa em si, porque li bem o requerimento, mas estou me referindo a um gesto da falta de ética contra uma parlamentar desta Casa", disse. 

Por sua vez, a vereadora Liana Cirne (PT) parabenizou a autora e o autor do projeto, e contou ter aprendido a respeitar as honrarias dos parlamentares independente da concordância ou não. "O que precisamos avaliar é que, mesmo discordando, eu aprendi que a gente tem que aprender a respeitar as honrarias que cada parlamentar pretende conceder, isso é o convívio democrático".

"Temos dois parlamentares que entendem que Chopelly,  pessoa trans, uma guerreira que luta contra a transfobia, transfeminicídio, injustiças LGBTfóbicas que marcam o País, merece ser a primeira pessoa trans a receber o Título de Cidadã pela Câmara do Recife. Eu só posso aplaudir os meus colegas seguindo as lições que aprendi, de entender que precisamos apoiar esse tipo de honraria, porque isso é inerente a um gesto democrático, a um convívio das diversidades e pensamentos diferentes. Isso é o que faz uma Casa legislativa ser rica e plural", argumentou Liana Cirne. 

Em 22.11.2021