Comissão de Igualdade Racial realiza primeira reunião solene e homenageia Dia da Consciência Negra
Os vereadores componentes da Comissão, Luiz Eustáquio (PSB) e Rinaldo Junior (PSB), estiveram presentes e compuseram a mesa solene, ao lado da pesquisadora, fundadora do Movimento Negro do Recife, mestra em serviço social e escritora Inaldete Pinheiro. Ela foi a representante dos homenageados do Dia da Consciência Negra. A reunião solene começou com a execução do Hino Nacional e, logo em seguida, a vereadora Dani Portela, que presidiu a reunião, passou a condução do evento para Luiz Eustáquio, a fim de que ela mesma pudesse fazer a saudação de praxe.
“Em fevereiro, quando propusemos a criação da Comissão aqui na Câmara, a nossa proposta era de que esta Casa tratasse do racismo de forma efetiva, com leis que de fato promovam mudança na vida das pessoas”, afirmou Dani Portela. Ela acrescentou que vem travando essa luta contra o racismo, inclusive, no Parlamento onde tem se movimentado na busca da garantia de vida da população negra. “E é nessa busca pela garantia da vida que o movimento negro vem ao longo dos anos travando embates contra projetos políticos de genocídio do nosso povo”.
A vereadora lembrou que no último sábado, dia 20, ela esteve junto com o Movimento Negro nas ruas do Recife reafirmando as lutas na Marcha da Consciência Negra de Pernambuco. E que o lema da manifestação foi: “O povo negro resistente ao genocídio: antes, durante e depois da pandemia”. Ela acrescentou que “a vida povo negro continua sendo tratada de forma descartável, ou como dizia a cantora Elza Soares, em 1988, ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’, frase ainda atual quando olhamos para a cor da miséria do nosso País. Quando olhamos para a cor dos que são vítimas das balas perdias, da violência policial, e de tantas outras desigualdades que afetam nossas vidas”.
Dani Portela lembrou o nome de diversas lideranças femininas do movimento negro, que já morreram, e afirmou: “Nossos passos vêm de longe, nossas referências nos ensinam a lutar por uma sociedade em que nossas vozes, nossos sonhos e vidas não sejam ceifadas”. Ao falar da luta das mulheres negras, ela acrescentou que ficava muito emocionada ao homenagear uma que muito contribuiu para com a fundação do movimento em Pernambuco. “Inaldete, você é, para mim, e tenho certeza de que para muitas desse estado, uma das nossas principais referências”. A escritora Inaldete Pinheiro é nome de referência não só para Pernambuco, mas para todo o País.
Em seguida, discursou o vereador Luiz Eustáquio. Ele disse que o Recife e a Câmara Municipal são vanguardas na sociedade brasileira e, em sua opinião, mais uma vez deu provas disso ao criar a Comissão Permanente de Igualdade Racial. “Neste importante momento, ao realizar esta solenidade, fazemos jus ao nome do patrono desta Casa, José Mariano, que foi um abolicionista”. Luiz Eustáquio lembrou que o Recife é uma cidade com 56% de sua população composta de pretos e pardos e que, com a criação da Comissão, ajuda a visibilizar a luta de um povo, e de superar o racismo.
O vereador disse ainda que a Comissão Permanente está lutando pelo direito do povo negro e, em seguida, fez referências à escritora Inaldete Pinheiro, que foi a homenageada. “Eu a conheço desde pequeno, é uma mulher de luta. Ela é amiga do meu pai e sempre a conheci lutando pelo povo negro. É uma estudiosa, um símbolo para a nossa história”. O pai do vereador, que também tem histórico no Movimento Negro de Pernambuco, é o procurador federal aposentado Edvaldo Ramos.
Na sequência, falou o vereador Rinaldo Junior que, além de fazer parte da Comissão, é autor do projeto de lei ordinária (PLO) número 352/2021, que institui no Calendário Oficial do Município da Cidade do Recife, o dia 20 de novembro como o Dia Municipal da Consciência Negra. “Este é um momento importante para a Câmara Municipal do Recife que, de forma pioneira, constituiu uma Comissão para tratar do racismo estrutural e institucional. É importante também porque, nesta primeira reunião solene, a Comissão já homenageia o nome de uma mulher que é símbolo da luta antirracista”.
O vereador lembrou que através da reunião solene estava-se fazendo uma justa homenagem “ao movimento negro” e destacou o nome de Inaldete Pinheiro, como “significado de luta e resistência, além de ser uma das principais referências da luta antirracista”. Inaldete Pinheiro de Andrade nasceu em 1946 na cidade de Parnamirim-RN e veio para o Recife aos 20 anos de idade. Graduada em Enfermagem e com mestrado em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco, ela tem vasta contribuição para a luta contra o racismo e desigualdades sociais.
Inaldete Pinheiro já recebeu o Título de Cidadã Pernambucana e também o de Cidadã do Recife. Ela se destacou por ter sido uma das fundadoras do Movimento Negro em Pernambuco e ser uma ativista em prol da valorização da cultura negra. Tem uma vasta produção bibliográfica que contribui para o ensino da história e das culturas afro-brasileiras e africanas. É, ainda, pesquisadora, e uma das mais importantes escritoras negras de Pernambuco e sua produção é composta por uma série de livros, inclusive infanto-juvenis.
Ao receber um ramalhete de girassóis e uma placa comemorativa ao Dia da Consciência Negra, Inaldete Pinheiro lembrou que a Câmara Municipal do Recife contou, na década de 1980, com uma comissão que já apoiava a causa do povo negro. E que teve no então vereador Vicente André Gomes um grande colaborador em defesa da luta. “É importante que a Câmara Municipal do Recife agora dê continuidade ao que Vicente iniciou e que acabou com a sua morte”. Ela ressaltou que, na década de 1980, foi também a fundação do Movimento Negro do Recife e o de Pernambuco e lembrou que, na mesma época, a livraria Livro Sete, de Tarcísio Pereira, inaugurou um boxe com livros de escritores negros. Servia para difusão da história e da cultura negras e ponto de encontro de ativistas.
Inaldete falou ainda sobre sua vida. “Eu só sabia que era negra porque o meu pai falava conosco, em casa, sobre nossos ancestrais. Mas, só vim conhecer a história negra aos 33 anos, quando o movimento começou a ser articulado e eu ingressei nele”. A escritora ressaltou a importância de a Câmara Municipal do Recife ter criado a Comissão Permanente de Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo e sublinhou que ela precisa contar com “a adesão de outros vereadores à luta, para que o movimento negro cresça na cidade e que o combate ao racismo seja uma prioridade”. Ela também disse que a causa do negro não pode ser lembrada apenas no mês da Consciência Negra. “Parece que só existe negro em novembro. E depois desse mês as discussões se enfraquecem”, afirmou.
A escritora destacou, também, que a educação é um meio importante para o combate ao racismo. “Pensamos na educação e nas relações étnicas nas escolas e em toda a comunidade escolar. O combate ao racismo passa pela educação”, disse. Mas ela afirmou que, quando se fala do racismo, não se pode limitar à questão do negro, uma vez que a discriminação racial atinge, da mesma forma, o povo indígena. “Temos que ampliar essa discussão para onde houver a discriminação racial. A luta antirracista tem que ser ampla”.
Em 24.11.2021.