Comissão do Aeroclube escuta representantes de engenharia, arquitetura, academia e moradores
O vereador Paulo Muniz relatou, inicialmente, as ações desenvolvidas pela Comissão nestes dois meses de instalação. Ele lembrou que já foram realizadas visitas às obras do Parque que está sendo construído no terreno do antigo Aeroclube do Recife, no bairro do Pina. Disse também que já foram ouvidas diversas entidades, além de moradores e que o objetivo é a elaboração de um relatório sobre o assunto, que será encaminhado à Prefeitura do Recife.
O vereador Zé Neto (PROS) também participou do debate, destacou que se trata do maior Parque da cidade e que está na pauta da Prefeitura, “o desenvolvimento urbano, atrelado ao desenvolvimento econômico, não esquecendo a sustentabilidade ambiental”. Serão construídos no local dois habitacionais (Encanta Moça I e II), que somam 600 moradias, uma creche para 224 crianças, Upinha, parque infantil, quadra polivalente, academia da cidade entre outros. Terá, ainda, uma área de preservação.
Ao tecer as suas considerações, o engenheiro, professor e membro do Comitê de Tecnologia Permanente do CREA, Maurício Andrade, destacou que o Recife possui um considerável déficit habitacional e é carente de parques e áreas de lazer. Por isso, considera importante que, num projeto em que há destinações diferentes para o espaço, seja estimulada a ligação do Parque com as comunidades que moram nas proximidades.
Maurício Andrade chamou a atenção para a ampliação do verde no local, disse que em outras cidades do mundo, muitos parques são formados por árvores e gramados. “Minimizar a área pavimentada e maximizar a área natural”, destacou. Ele também sugeriu que o local seja contemplado com ciclofaixas; ressaltou a importância do saneamento ambiental e afirmou ser preciso que o projeto tenha modelos de sustentabilidade.
As questões referentes às ciclofaixas, sistema de saneamento e operação do esgoto também foram abordadas pelo conselheiro do CAU, Jaime Tavares Alheiros Neto. Ele sugeriu que o local seja contemplado, também, com outros modais de transporte, como o aquaviário, integrando o Encanta Moça à Ilha de Deus. “Seria importante também para a inclusão econômica”, disse.
Outros pontos destacados em sua explanação foram: a necessidade de se manter a memória aeroviária, considerando a história do Aeroclube e a sua importância na história do Recife; a importância de se pensar em áreas verdes que possam amortecer os impactos do ruído e da poluição causados pelos carros que passam nas proximidades.
Para o biólogo, mestre e doutor em oceonografia, professor da Universidade de Pernambuco, Clemente Coelho, é fundamental que seja discutida a questão do saneamento, por envolver obras demoradas e complexas. Disse que se trata de um pequeno trecho que pode se tornar em um bom exemplo a ser seguido, considerando as medidas que forem tomadas. Pensando no futuro sugeriu a captação de água em cisternas para abastecimento e o uso da energia solar.
Clemente Coelho abordou outros pontos. Falou que o uso das lâminas d’água como modal de transporte exige estudos de impacto ambiental, cuidados ecológicos e oceanográficos. Defendeu a arborização do local com espécies nativas, conforme já é feito pela Prefeitura da cidade em outros espaços. Também afirmou que é importante, ao se retirar as famílias das palafitas, promover a recuperação do mangue.
Moradores querem mais moradias - No segundo momento da reunião foram ouvidos representantes dos movimentos populares. A questão do número de moradias ofertadas nos Habitacionais Encanta Moça I e II, foi o assunto que perpassou por todos os pronunciamentos. O projeto prevê a oferta de 600 moradias.
Para Felipe Cury, representante da Comissão Popular do Projeto do Aeroclube, o projeto como um todo é importante, mas “não dá para se ter um belo parque e manter famílias nas palafitas”, argumentou. Ele citou um cadastro que disse ter sido feito pela Prefeitura, em 2018, que dá conta de que são 800 famílias naquela área, vivendo em palafitas. Ele ressaltou sua preocupação também com as obras de saneamento.
O morador, Samuel Costa, disse acreditar que, considerando as comunidades de Jardim Beira Rio, Bode e Areinha, o número de famílias deve chegar a mil. “As 600 moradiras não batem com o número de pessoas que moram no entorno”, lamentou. Sugeriu diminuir as áreas destinadas a outras instalações e aumentar o número de casas. Ele retratou a questão do saneamento, lembrando que há muitos anos, os moradores do Pina consumiam peixes e mariscos retirado de onde hoje só tem esgoto. Disse que cuidar do meio ambiente é tratar da saúde pública.
Nelson da P.A, da Comissão de Urbanização e Legalização da Posse da Terra - Comul Encanta Moça, cobrou mais diálogo e maior participação da Prefeitura nos debates sobre o assunto. A opinião foi compartilhada por Robson Gustavo Silva , morador da Zona Especial de Interesse Social - Zeis Encanta Moça. Ele exibiu uma documentação sobre o projeto do Aeroclube em que constam demandas dos moradores do entorno. Disse que o projeto apresentado pela Prefeitura não contempla os anseios locais. Reclamou, ainda, da falta de informações por parte do poder público.
Em 25.11.2021