Câmara do Recife homenageia Junta Governativa de Goiana

A independência do Brasil nasceu em solo pernambucano, quando foi instaurada a Junta Governativa de Goiana, município da Zona da Mata Norte do Estado. Fatos históricos desse período, ocorridos há 200 anos, foram destacados durante reunião solene na Câmara Municipal do Recife, na tarde desta segunda-feira (13), no plenário da Casa. Os vereadores Tadeu Calheiros (Podemos) e Ivan Moraes (PSOL) promoveram a homenagem à “Junta Governativa de Goiana – Semente da Independência Nacional”.

O ex-deputado federal, atual diretor-presidente do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, Harlan Gadelha Filho,  recebeu uma placa comemorativa em alusão à data. Também fizeram parte da Mesa da solenidade, o presidente da Câmara Municipal de Goiana, Eduardo Batista (PSL); a codeputada estadual da Juntas de Pernambuco, Kátia Cunha,  e o vice-presidente do Instituto Histórico de Olinda, Maurício Barreto.

O primeiro a ocupar a tribuna para fazer as considerações, o vereador Tadeu Calheiros destacou a pesquisa realizada pelo professor e historiador, Josemir Camilo de Melo. Ele conta que, há 200 anos, quando o Brasil era Colônia de Portugal vários movimentos ocorreram no sentido de acabar com o regime absolutista.  Em 1817 houve a Revolução Pernambucana, que culminou na prisão de vários líderes. Eles foram soltos quatro anos depois e começaram a articular a derrubada do general português, administrador de Pernambuco,  Luiz do Rego Barreto.

“No dia 29 de agosto de 1821, várias tropas de diversos engenhos  se juntaram para eleger uma Junta Governativa”, contou Tadeu Calheiros. “Foi eleito um governo provisório sob o nome de Junta Governativa Constitucional de Goiana, cujo presidente foi o advogado e vereador goianense, Francisco de Paula Gomes dos Santos”.

O parlamentar ressaltou que o personagem histórico de Goiana, tem também ligação e raízes com a Câmara do Recife. “Além de presidir a Junta de Goiana, que governou Pernambuco durante 56 dias, Francisco de Paula Gomes dos Santos também foi vereador do Recife, entre 1829 e 1836”.

O outro proponente da homenagem, vereador Ivan Moraes, destacou que é importante contarmos nossas proprias histórias “e não nos perdemos a partir de relatos que são de outras pessoas”. Com a afirmação ele chamou a atenção de que os fatos narrados sobre a Junta Governativa de Goiana são  pouco conhecidos no Brasil. “Nós tivemos aqui uma revolução que foi vitoriosa, por algum momento, e boa parte de nosso país não tem ciência disso”, disse.

“A independência do Brasil começou aqui, dessa forma, com componentes tão objetivos, tão materialmente compreendidos, incotestáveis, diria, e que boa parte de nosso país ainda não conhece”. O vereador Ivan Moraes afirmou que a reunião solene marca um outro momento.“Essa reunião de hoje inicia um ciclo a partir do compromisso dos nossos dois mandatos, que inclui o compromisso com a Câmara de Goiana, com o Instituto  do Patrimônio Histórico para que essa história seja cada vez mais contada” .

Disse ainda que é fundamental que as escolas discutam a importância de Goiana e do Recife no processo de independência do país, bem como sugeriu a elaboração de projetos de lei que destaquem o tema, seja concedendo nome para uma via ou uma praça na cidade.

A semente da independência - O presidente da Câmara Municipal de Goiana, vereador Eduardo Batista, também ocupou a tribuna da Casa de José Mariano e afirmou que Assis Chateaubriand reconheceu “que quem se dispuser a escrever sobre a a história do Brasil, tem que dedicar algumas páginas a Goiana”. Ele lembrou o protagonismo do município em vários movimentos liberais e revolucionários do país. “Em 1646, as heroínas de Tejucupapo. Em 1848, a Revolução Praieira, com o grande líder Nunes Machado. Em 1888, quando foi assinada a Lei Áurea, Goiana já não possuia mais nenhum escravo".

Ele disse, ainda, que, em 1821, Goiana não suportou a violência e as humilhações praticadas pelo então general Luiz do Rego Barreto. “Movido pelo espírito de liberdade do seu povo, em 29 de agosto, tendo à frente o presidente da Câmara, Casa e Cadeia, Francisco de Paulo Gomes dos Santos, iniciou a marcha, partindo de Goiana com destino a Recife, passando por vilarejos e vilas e chegando a Olinda com sete mil pessoas”. Ele conta, também, que  “a independência de Pernambuco foi proclamada onze meses antes da independência do Brasil”.

Ao tecer as suas considerações, o diretor-presidente do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, Harlan Gadelha Filho,  falou que muitos institutos históricos também assumiram o compromisso de celebrar o bicentenário da Junta Governativa de Goiana. “É muito importante prestar uma homenagem histórica a uma revolução esquecida. Mas, uma revolução que foi a única vencedora”, afirmou. “As demais foram sufocadas. Em 1821, se instalou as sementes da independência do Brasil. Por 56 dias, Pernambuco foi governado por um goianense”.

Para ele, é preciso resgatar e consolidar essa história. “Precisamos fazer com que Pernambuco volte a ocupar a sua rebeldia na história. O Recife, como capital, precisa capitanear a história de Pernambuco”, salientou.

Em 13.12.2021