Comissão Especial debate impacto econômico do Carnaval

A Comissão Especial sobre a Retomada do Carnaval, São João e Demais Grandes Eventos do Recife promoveu mais uma reunião na tarde desta terça-feira (7), no plenarinho da Câmara Municipal. Presidido pelo vereador Marco Aurélio Filho (PRTB), o grupo ouviu representantes dos comércios formal e informal do Recife. Em pauta, estiveram a importância do fomento à cadeia econômica do Carnaval de rua e as soluções para os cenários que envolvem a realização ou não do festejo.

Mesmo presente no encontro, Marco Aurélio Filho concedeu ao vice-presidente da Comissão, o vereador Alcides Cardoso (DEM), a condução dos trabalhos da tarde. Ao dar início à reunião, Cardoso explicou o objetivo do debate e adiantou sua opinião sobre o problema da realização de festas privadas de Carnaval em meio à proibição do Carnaval de rua e gratuito. “Hoje, vamos ouvir a parte que envolve o financeiro: quanto gera o Carnaval do Recife, quanto deixa de gerar se não houver Carnaval. Vamos ouvir e levar à Prefeitura”, afirmou. “A minha tese é a de que se não houver Carnaval de rua, não tem Carnaval em canto nenhum”.

O vereador Ivan Moraes (PSOL) também refletiu sobre a possibilidade de garantir festas privadas enquanto se proíbe aglomerações nas ruas. “Se as autoridades locais consideram seguro colocar 5 mil pessoas dentro de um local fechado, eu não entendo como estamos pensando em não deixar, por exemplo, pequenas agremiações desfilarem”, considerou. “Se digo que não vai haver Carnaval, poderá haver uma festa com cem pessoas na rua? O Carnaval não é uma coisa só. São vários carnavais, com várias características e em vários lugares. Precisamos enfrentar esse debate. Seria muito fácil dizermos que não deve haver Carnaval por causa da pandemia e nos eximirmos da responsabilidade”.

Marco Aurélio Filho argumentou que examinar essas possibilidades é o intuito da Comissão Especial e da Câmara Municipal. O presidente do grupo não deixou de citar alguns dos números que devem nortear as discussões sobre o tema. “Falar de Carnaval, saber se vai ter Carnaval ou não, e saber como será caso tenha são funções desta Casa”, disse. “No último Carnaval, a arrecadação do nosso Estado foi de R$ 2,3 bilhões. Diante desse número e de toda a cadeia produtiva que existe em torno do Carnaval, precisamos participar de toda tomada de decisão. E esta Casa Legislativa tem o papel fundamental de escutar quem entende. Vamos ter a missão de traduzir todo esse diálogo em um relatório feito a muitas mãos”.

O vereador Tadeu Calheiros (Podemos) avaliou que o impacto econômico do Carnaval é um dos elementos a se considerar quando o assunto é a retomada da folia. Ele lembrou, ainda, que recursos de enfrentamento à pandemia que não são mais necessários podem ser mobilizados em caso de necessidade de ajuda econômica às pessoas que dependem do Carnaval para o seu sustento. “Gerir e tomar decisões não é fácil: é preciso sopesar riscos e benefícios, visando ao bem comum e buscando a equidade. Quanto custa um leito de UTI e quanto se gastou com isso nos dois primeiros anos da pandemia? Quando se precisou, esse dinheiro apareceu. Por que não gastar esse dinheiro agora se não for ter as festas?”

Assessor da Federação do Comércio do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), o economista Ademilson Saraiva tratou do efeito econômico positivo que o Carnaval do Recife tem sobre outras regiões do Estado e sobre o setor da economia criativa, além de sua função social como festa de rua. Ele analisou, no entanto, que o segmento comercial precisa de sinais do poder público para atuar com eficiência durante o festejo. “Mais uma vez, a instituição vai estar próxima das decisões da Prefeitura e do Governo do Estado, realizando a intermediação entre os setores públicos e privados. Existe a perspectiva de uma tomada de decisão efetiva a partir da segunda quinzena de janeiro, mas sabemos que existe uma preparação para os eventos. O meio empresarial trabalha com expectativas e com o planejamento de estoque e mão-de-obra para atender a demanda desse período”.

Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (ABRASEL-PE), André Araújo lembrou o posicionamento da entidade em prol do fomento à vacinação e pediu que o poder público tomasse decisões equilibradas. “ABRASEL foi a primeira entidade no país a pregar a campanha pela vacinação. Temos que nos amparar nos critérios da saúde. Isso sim é importante e vai permear as decisões dos senhores vereadores ao produzir o relatório que vai dar subsídios ao poder público. Sou folião e sei o que são as grandes aglomerações. É preciso ter a prudência de se equilibrar o posicionamento de até onde se pode liberar. Do ponto de vista sanitário, pode haver alterações que em dez, 15 dias mudam completamente o cenário”.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio Informal (SINTRACI), Edvaldo Gomes, deu um relato sobre o impacto da ausência do Carnaval para a categoria. “O comércio informal sofreu muito com esse vírus que assolou o Brasil e o mundo. A gente não tem renda fixa, não tem 13º salário, não tem férias, não tem nada. Só tem o dia e a noite para trabalhar”, expôs. “O Carnaval não é só somente cinco dias. O problema são as prévias. São três meses em que a pessoa ganha o seu dinheirinho. A renda cai quase 70% no inverno. Não sou contra, nem a favor do Carnaval. Mas como a pessoa vai viver? Se os políticos sustentarem as mães e pais de família que não têm renda fixa, é melhor não ter Carnaval. Os comerciantes informais precisam de dinheiro para comprar comida e pagar os seus aluguéis”.

O vice-presidente do Galo da Madrugada, Rodrigo Menezes, também deu o seu depoimento. Ele citou números que dão uma ideia da falta que a realização do Carnaval pode fazer no orçamento de diversas empresas, artistas e famílias. “No desfile do sábado, geramos mais de 5 mil empregos diretos, fora as centenas de milhares de empregos indiretos. Há uma estimativa de mais de 50 mil pontos de comércio informal. No dia do Galo, contratamos mais de 1,2 mil artistas locais, classe que vem há dois anos sendo massacrada”, comentou. “O Galo representa a maior contratação de trios elétricos do nosso Estado. São equipamentos caros e que estão sendo sucateados, e cada trio é uma empresa de 15 a 20 funcionários que estão sem conseguir sobreviver. Temos um trabalho muito forte, também, com os catadores de latas e recicláveis”.

A próxima reunião da Comissão Especial sobre a Retomada do Carnaval, São João e Demais Grandes Eventos do Recife está marcada para acontecer na próxima quinta-feira, às 13h, na Câmara Municipal. O debate também poderá ser acompanhado de forma virtual, por meio do site do Poder Legislativo.

Em 07.12.2021