Comissão sobre o Carnaval promove debate com parlamentares de outras cidades
“Fizemos questão de realizar esta interlocução com outras casas legislativas cujas cidades também fazem Carnaval. Estamos unindo esforços para trocar ideias, dialogar e, quem sabe, apresentar a melhor alternativa para este momento que vivemos”, disse Marco Aurélio Filho ao dar início às discussões.
Vereadores do Recife alertam para divisão social do Carnaval na pandemia – Também membro da Comissão, o vereador do Recife Ivan Moraes (PSOL) sugeriu a realização de um Carnaval em polos descentralizados, com respeito à vacinação e à pluralidade social. “O Governo de Pernambuco já decretou a possibilidade de festas privadas para até 7,5 mil pessoas. Eu não consigo compreender que pode fazer festa em ambientes fechados para tantas pessoas e dizer que um maracatu que leva 300 pessoas sair em um bairro da periferia. O grande desafio que só coloca para a Prefeitura, que é a gestora de uma parte do Carnaval, que tem que deixar negritado o que poderá ser permitido na nossa cidade. A regra que vale para o rico tem que valer para o pobre”.
O vereador do Recife Tadeu Calheiros (Podemos) alertou para a possibilidade de que o Carnaval agrave a insegurança sanitária, prejudicando festividades posteriores, como o São João. Ele lembrou, ainda, que recursos que não serão utilizados por conta da melhoria nos números da pandemia poderiam ser direcionados para o auxílio à cadeia produtiva do Carnaval. “O Carnaval é patrimônio cultural do nosso país e precisamos ter um olhar para como podemos investir no Carnaval para que ele sobreviva a este período em que não é possível ter festas. Será que o dinheiro que apareceu para as UTIs, e com a economia perceptível que teremos, não pode fazer com que a gente possa investir de verdade?”
A divisão social que a permissão de festas privadas em meio à proibição de festas de rua foi uma preocupação salientada pelo vereador do Recife Chico Kiko (PP). “Esta Comissão vai pesar os prós e os contras para ver a possibilidade de realizar, sim, o Carnaval. Não concordo em fazer um Carnaval para os riscos e não fazer para os pobres. Ou faz para todos, ou não faz para ninguém. A doença vai para todos. Temos que fazer um Carnaval responsável. O bom é que temos um prefeito jovem, como João Campos (PSB), que tem se comportado bem em relação a isso. Ele diz que a gente faz Carnaval se a gente estiver imunizado”.
O cuidado com a cadeia de apoio ao Carnaval e com a divisão social também foram pontos levantados pelo vereador do Recife Alcides Cardoso (DEM). “Temos que chegar em um consenso. O adiamento fere menos que o cancelamento. Hoje, temos aqui milhares de pessoas que dependem do Carnaval. Não só donos de blocos, mas catadores de lata, o vendedor de água mineral. Temos que respeitar as condições sanitárias, mas também temos que pensar no comércio e nessas pessoas. Uma coisa que já estamos fechando é que se não pode ter Carnaval de rua, não pode ter um Carnaval fechado – ter um Carnaval para os ricos e não poder ter um Carnaval popular”.
Já o vereador do Recife Marcos di Bria Junior (PSB) relatou a situação de quem depende da festa de Momo para sobreviver. “Sou do bairro de Santo Amaro, em que há muitas pessoas que fazem artesanato para vender no Carnaval. Eu fico preocupado com a situação do adiamento. É uma palavra difícil de falar. Também fico representado com a fala do vereador Ivan Moraes sobre poder o Carnaval do rico pode, e o Carnaval do rico não”.
Vereadores convidados compartilham estratégias e preocupações – O primeiro vereador convidado foi Tarcisio Motta (PSOL), do Rio de Janeiro. Presidente da Comissão Especial do Carnaval da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ele falou sobre os parâmetros desenvolvidos pelo grupo para acompanhar as possibilidades de realização do festejo.
A medição leva em conta os índices de contágio por covid-19, a taxa de ocupação de leitos, e os índices de vacinação – que precisa atingir 80% da população para possibilitar um Carnaval seguro. “Nós acreditamos na ciência. Convidamos pesquisadores da Fiocruz e da Universidade Federal do Rio de Janeiro para algumas reuniões de trabalho e para formular os indicadores epidemiológicos que, na nossa opinião, seriam os balizadores para saber sobre ter ou não Carnaval. Esses índices têm que ser acompanhados passo a passo e, caso eles sejam atingidos, é absolutamente possível que o Carnaval aconteça”.
Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Retomada dos Eventos da Câmara Municipal de Salvador, o vereador Claudio Tinoco (DEM) tratou dos estudos formulados pelo Legislativo da capital baiana.
“As recomendações passaram, primeiro pela opinião de que uma decisão fosse tomada até 15 de novembro, para que essa decisão pudesse influenciar o planejamento das diversas instituições. Em segundo plano, que fossem definidos os índices da pandemia que deveriam ser levados em consideração e, em cima disso, constituir um observatório”, afirmou Tinoco. “Hoje, temos uma indefinição. Não houve uma manifestação conclusiva por parte do Governo do Estado e da Prefeitura de Salvador. Na Câmara Municipal, existe uma compreensão nossa de que o tempo passou. Acreditamos na inviabilidade de uma operação com a dimensão que temos no Carnaval de rua”.
Idealizadora de um grupo de trabalho que analisa a questão do Carnaval em Belo Horizonte, a vereadora Marcela Trópia (Novo) argumentou que os municípios não podem fugir de sua responsabilidade em relação à festa. “Caso o Carnaval aconteça, que algumas medidas sejam tomadas para que isso aconteça com mais segurança. É importante ter, no mínimo, uma regulação com testes e comprovantes de vacina. Pode parecer difícil de regular, mas é um fator que inibe pessoas não vacinadas de estarem ali. Outra referência é o estabelecimento de locais fixos, sem blocos que se desloquem pela cidade”.
Em Belo Horizonte, ela defende uma tomada de posicionamento apenas em janeiro do ano que vem, tendo em vista a necessidade de obter informações sobre a variante ômicron do coronavírus. “É quando teremos uma noção melhor dos efeitos dessa variante. Mas, até lá, o poder público não pode se isentar dessa organização. O problema é não organizar nada e a decisão pela inoperância”.
O vereador de Fortaleza Julio Brizzi (PDT) enfatizou o fomento à vacinação e informou que a capital cearense já decidiu pela não realização de um Carnaval comum. “Em relação ao Carnaval, que é o grande debate em cidades como Recife, Olinda, Rio de Janeiro e Salvador, Fortaleza tem um Carnaval relevante, mas muito menor. De qualquer forma, o prefeito já estabeleceu que não vai ter Carnaval como tivemos nos outros anos. O recurso que seria utilizado foi distribuído para a segurança alimentar e outras áreas públicas.
O vereador de Olinda Vini Castello (PT) lembrou que a festividade de rua é o que define o Carnaval do município. Ele destacou a necessidade de colocar aqueles que fazem o Carnaval no centro do diálogo.
“O Carnaval olindense é um Carnaval de rua, que se expressa culturalmente diante de sua diversidade. Há uma necessidade constante do setor empresarial de tornar o Carnaval de Olinda um Carnaval elitizado, que fomente a ‘camarotização’”, analisou. “O nosso papel e nossa responsabilidade é fazer com que os fazedores e as fazedoras da cultura possam ser ouvidos. Durante a pandemia, o que a gente conseguiu observar foi uma falta diálogo com esses fazedores e a violação do resguardo dessas pessoas durante o período de calamidade. Não podemos mais repetir a mesma desorganização. Não podemos aceitar que esse setor, que é tão atingido por esse contexto, não consiga participar e não tenha o mínimo de suporte”.
Em 09.12.2021