Dani Portela repercute pesquisa sobre mortes de pessoas negras

“Pele alvo: a cor da violência policial”, este é o nome da pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança, que foi repercutida pela vereadora Dani Portela (PSOL) no plenário virtual da Câmara do Recife, nesta segunda-feira (20). “Escolhi essa pesquisa para ser o ponto da minha fala de hoje, pois ela sintetiza muitos dos elementos que tentei trazer aqui durante esse ano: de que nós não podemos fechar os olhos para o fato de que a vida da população negra ainda é tratada de forma descartável ou, como bem dizia Elza Soares já em 1998: a carne mais barata do mercado é a carne negra”.

Segundo a parlamentar, o estudo foi divulgado no último dia 14 de dezembro. Foram analisados os dados do ano de 2020 da Lei de Acesso à Informação,  em sete estados: Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo e Maranhão, esse último não acompanha a cor das vítimas de violência. Dani Portela afirmou que os dados dão conta de que a cada quatro horas, uma pessoa negra é morta em ações policiais. “A pesquisa escancara um racismo praticado pelo Estado e socialmente naturalizado”, lamentou.

A vereadora citou os números dos seis Estados em que foi feito  o recorte  pela cor da pele. “Onde foi possível ter acesso a tais dados, tivemos o total de 2.653 mortes provocadas pela polícia, destas 82,7 % eram de pessoas negras”, destacou. “Estamos falando de dados do ano de 2020, auge da pandemia, que mostra que, mesmo nesse contexto, o racismo não tira férias. Pelo contrário, ele matou ainda mais, como bem destaca hoje o Movimento Negro: o povo preto continua morrendo de fome, de bala e de covid”.

Mortes de pessoas negras no Brasil, em Pernambuco e no Recife – A vereadora Dani Portela apresentou números de mortes de pessoas negras no país, em Pernambuco e no Recife. “Não poderia deixar de lembrar que, no Brasil, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado e tem suas vidas e seus futuros interrompidos. Quero lembrar também que 75% das pessoas assassinadas no Brasil são negras”, destacou. Segundo a vereadora, em Pernambuco, houve o aumento de 53% de mortes provocadas por ações da polícia no ano de 2020. “O Estado apresentou um total de 113 pessoas vítimas de ações policiais. Dessas, 109 eram negras”.

Dani Portela chamou a atenção para o grande número de mortes de pessoas negras na capital pernambucana.  “Quando olhamos para a nossa casa, para o nosso território, a situação é ainda pior: vivemos em uma cidade onde 100% dos mortos em ações policiais são negros. Isso é política de morte”, disse a parlamentar.

Ela foi enfática em suas palavras ao se referir ao número de mortos pela polícia no Recife. “Morar em uma cidade onde 100% dos mortos pela polícia são negros significa acordar todos os dias e ver vidas negras sendo perdidas em troco de nada. Morar numa cidade onde 100% dos mortos pela polícia são negros significa para as mães de meninos negros convivem com o medo de que seus filhos não voltem vivos para seus lares”, enfatizou.

Solidariedade à família de Victor Kawan Souza da Silva – A parlamentar aproveitou a ocasião para lamentar a morte no último dia 11, de um adolescente e prestar solidariedade à família, sobretudo a mãe dele.  “Victor Kawan Souza da Silva, jovem de 17 anos, mais uma vítima do racismo e violência policial. Victor foi morto em Sítio dos Pintos, Zona Norte do Recife. Segundo testemunhas, que são moradores do local onde ocorreu o crime: “Não tinha arma nenhuma com o menino. Não houve troca de tiro nenhuma, só os policiais que atiraram”, disse Dani Portela.

Ela afirmou que “a versão da polícia, como esperado, é a de que houve tiroteio. Victor foi atingido pelas costas e deixado no local. As testemunhas informaram à polícia do corpo na mata”. Durante os pronunciamentos do seu primeiro ano de mandato a parlamentar lembrou que trouxe o tema inúmeras vezes à tribuna da Câmara Municipal do Recife. “Quando digo que o povo negro quer viver, esta não é uma frase de impacto, sem significado algum, muito pelo contrário. Ela tem sido hoje um dos principais impulsionadores para minhas ações políticas”.

Dani Portela pede para que não se faça uma naturalização das mortes. “Também não podemos achar que é pura coincidência a polícia matar dessa forma o povo negro. Concluo a minha fala endossando a campanha contra a violência policial: “Imagina a dor, adivinhe a cor””, disse.

 

Em 20.12.2021