Ativista Chopelly Santos recebe Título de Cidadã do Recife
Convidada a fazer o discurso de abertura da cerimônia, Luciana Santos enalteceu o trabalho realizado pela nova cidadã do Recife e citou ações específicas do Governo do Estado para a população LGBTQIA+. A vice-governadora não deixou de notar a importância simbólica da homenagem, já que esta é a primeira vez que a Câmara do Recife concede o título de cidadania a uma pessoa trans. “É um momento histórico. Pela primeira vez, esta Casa homenageia uma pessoa trans, em um ato relevante que contrasta com o preconceito que exclui, violenta e mata. Um preconceito que coloca o nosso país na vergonhosa condição de país em que mais se mata pessoas trans no mundo”, refletiu. “Sabemos que temos muito o que percorrer no sentido de garantir respeito e oportunidade para as pessoas trans, mas aqui em Pernambuco temos nos debruçado com afinco para mudar a realidade de violência e exclusão, pelas vias da assistência social e das políticas públicas”.
Ao subir à tribuna do plenário da Câmara, Cida Pedrosa mencionou dados sobre a violência e o preconceito contra pessoas trans no Brasil. “Em 2021, o Brasil foi o país onde mais se matou pessoas trans no mundo. Foram 140 homicídios, sendo 135 de travestis e mulheres trans e cinco de pessoas transmasculinas. Para se ter uma ideia de como é perigoso ser uma pessoa trans no Brasil, de cada dez assassinatos de transexuais no mundo, quatro ocorrem em nosso país”, disse. “Uma prova do preconceito que move esses crimes é o fato de que 73% dos criminosos nem sequer tinham qualquer relação com a vítima”.
A realidade da discriminação, continuou Pedrosa, é parte da biografia da homenageada, que chegou a mudar de cidade para fugir do preconceito. Mas, de volta ao Recife, decidiu se engajar na luta por mudanças sociais, aproximando-se da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans). “Desde então, já são mais de 13 anos de luta contra o preconceito social e institucional. Como ativista pelos direitos da população LGBTQIA+, coordenadora geral do Amotrans e vice-presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). Chopelly é considerada uma das maiores defensoras da criação de uma casa de assistência para pessoas trans”.
A parlamentar listou, ainda, iniciativas recentes coordenadas por Chopelly Santos, como a Jornada Pernambucana, que levou informação sobre as questões da transexualidade e da travestilidade ao interior do Estado, e o projeto “Por uma escola livre da transfobia – Acorda, Recife!” “Chopelly é uma referência para as mulheres trans pois não se deixou vencer pelo preconceito nem pela rejeição. Ela tem pressa em garantir mais direitos para as mulheres transexuais e travestis, para que não entendam apenas de dor”, definiu Cida Pedrosa. “Para Chopelly, todas as formas de existência que brotam no mundo merecem respeito. Por isso, luta para ocupar espaços de poder institucionalizados, de onde possam surgir políticas públicas voltadas para a população trans”.
Discurso de Chopelly - Após o discurso da vereadora Cida Pedrosa, um vídeo de saudação foi exibido no telão do plenário, com depoimentos que destacaram a importância de Chopelly Santos ser homenageada pela luta em favor da causa LGBTQIA+, pelo momento histórico protagonizado pela Câmara Municipal do Recife e pela necessidade de se combater a LGBTfobia e a transfobia. Eram 16h06 quando a Câmara Municipal viveu seu momento histórico: a vereadora Cida Pedrosa, em conjunto com o vereador Hélio Guabiraba, entregaram o título de Cidadã do Recife a Chopelly Glaudystton Pereira dos Santos, composto por um diploma e uma medalha. Cida Pedrosa entregou, também, um ramalhete de flores. Na sequência, Chopelly Santos ocupou a tribuna para fazer suas colocações.
Ela lembrou que, antes de comparecer à Câmara Municipal do Recife, fez teste de covid-19, que deu negativo, e por isso pediu licença para retirar a máscara e falar. Disse que estava emocionada e afirmou que muito do que gostaria de dizer foi antecipado por Cida Pedrosa. Lembrou de quando chegou ao Recife, vinda de Limoeiro, com 12 anos, em 1992. “O contexto era de muita pobreza, mas meu pai nos colocou para estudar. No colégio, porém, fui muito discriminada em meio a 80 alunos. Eu tinha que ficar trancada na sala, nos 15 minutos de duração do intervalo das aulas. Era a primeira aluna a chegar e a última a sair da sala. E muitas vezes, andando pelo centro do Recife, quem me conduzia era o medo. Mas eu lembrava de uma frase de minha avó que dizia que os humilhados seriam exaltados”.
Chopelly contou que, em 1997, foi a um evento no Palácio do Campo das Princesas, acompanhando uma amiga, e ouviu uma palestra da primeira dama Madalena Arraes. “Fiquei encantada com aquele discurso que aconselhava as mulheres a acreditarem no futuro. Para mim, foi um show de empoderamento”. Anos depois, ela fugiu de casa e foi morar no Rio, onde viveu alguns meses, na prostituição. Voltou para o Recife, conheceu o Movimento Leão do Norte e a Amotrans. “Descobri ali o meu ideal de vida. Assim, começamos uma série de lutas para que Pernambuco conhecesse e respeitasse a sua população trans. Colocamos travestis na Assembleia Legislativa e na OAB. Encontrei meninas em situação mais complicada do que a minha. Mas também conheci pessoas que já eram ativistas do movimento como Marqueza, por exemplo. E chegamos aqui”.
Chopelly fez referências de afeto e respeito para Cida Pedrosa e Hélio Guabiraba, mas também fez questão de citar nominalmente, um a um, todas as vereadoras e vereadores que votaram favoráveis à entrega do Título de Cidadã Recifense. Agradeceu, a cada um. “Este titulo não é só meu. Espero que ele inspire muitas meninas a acreditar que e possível ser travesti, trans, e ocupar espaços na sociedade recifense. O Recife é uma cidade que está pronta para acolher a população trans; o estado de Pernambuco é o que tem mais mecanismo de apoio ao público LGBT. E isso é resultado de uma luta de várias que vieram antes de mim. De várias que estão neste momento comigo. E quando eu não estiver mais aqui, outras seguirão esta luta”. Na sequência, a cantora Diva Menner fez uma apresentação musical, cantando La vie em rose, canção de Edith Piaf.
No encerramento, o vereador Hèlio Guabiraba, que presidiu a reunião e também foi coautor da proposição, agradeceu à vereadora Cida Pedrosa por ter permitido fazer a reunião em conjunto e, assim, “fazer parte deste momento histórico, que para mim é motivo de muito orgulho”. Ele se disse emocionado e acrescentou que “não poderia deixar de fazer referências ao trabalho realizado pela Amotrans, que é a primeira instituição que luta em Pernambuco para garantir os direitos de travestis e transexuais”. Um trabalho que, segundo Hélio Guabiraba, visa a “garantir uma sociedade mais igualitária e que, merece todo o nosso respeito”.
Em 01.02.2022.